ZHANDON-PHAR

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Nhadiah olhou através da divisório plasmática de seu aposento e fitou longamente o horizonte, onde brilhava o sol do final do dia. Como era reconfortante sentir esse pequeno pedaço da natureza a lhe proporcionar tão belo espetáculo. A vista que tinha da cidade era magnífica, pois ela se estendia até o horizonte, com imensos oásis verdes em meio aos prédios, nenhum deles com mais de dois andares. As cores das construções formavam um mosaico de belíssima conjunção. Mesmo sendo a capital da província, em nada lembrava um centro de decisões, normalmente movimentado e claustrofóbico, pois fora construída visando o bem-estar das pessoas, e não das instituições. 

Hoje era um dia especial, pois dentro de poucos instantes receberia a visita de Paulo e isto com toda certeza seria o ponto alto de sua pacata vida nos últimos meses. Desde a morte de seu companheiro Nhorin, somente a presença de seu filho é que lhe trazia algum conforto à alma. Seus dias eram recheados de longos devaneios, lembranças de toda sua vida conjugal, e de suas preciosas orações.

Sentiu uma imensa alegria com a aproximação do tempo de chegada do filho, e quis louvar a Deus por isso, mas ao olhar o traje que estava de pé ao lado da porta de entrada, lembrou-se o quanto era prisioneira, tendo liberdade apenas no silêncio de sua alma. Nem ao menos proferir suas orações era possível, pois o traje a vigiava diuturnamente.

Interrompendo seus pensamentos, a imagem holográfica de Paulo formou-se à sua frente no momento em que o Sistema lhe avisava da chegada. Nervosamente, tentou ajeitar sua túnica branca e num vício ainda não perdido, alisou os cabelos que não mais existiam sobre sua cabeça.

O portal se abriu e por ele entrou flutuando Paulo, ainda mais bonito e vigoroso do que conseguia lembrar-se. Colocando a mão direita sobre o peito, o jovem fitou friamente a velha e num tom gélido cumprimentou-a.

- Saudações Nhadiah de Sthela-IV.

Com os olhos marejados pela emoção e com um sorriso estampado no rosto, ela abriu os braços e avançou na direção dele.

- Paulo meu filho, quanta saudade!

- Contenha-se anciã! – devolveu o jovem num tom ríspido, enquanto flutuava para trás.

Nhadiah interrompeu seu avanço com tal rapidez que deu a impressão de ter colidido com uma parede invisível.

- Mas Paulo, eu...

- Já lhe alertei para que não use esta denominação para comigo. Sabe muito bem que meu nome de designação é Zhandon-Phar de Cyrus-I.

Abaixando levemente a cabeça, sinalizando que assimilara a reprimenda, Nhadiah, num tom de voz melancólico, apresentou seu mea-culpa.

- Perdoe-me notável Zhandon-Phar, foi um lapso desta mente velha e decrépita, e isso não mais se repetirá.

- Vejo que está se debilitando, e obviamente é pela falta de uso do traje. Quando vai parar com esta teimosia?

- Não me sinto confortável com ele. – Lamuriou a velha.

- Como espera manter-se saudável fora do seu traje? Não é de admirar seu aspecto doentio e fraco. Olhe para mim e veja se encontra algum traço de doença ou alteração.

- Com certeza, você está ainda mais belo do que eu podia me lembrar.

Com as mãos justapostas atrás de seu quadril, flutuou ao redor do traje de sua mãe, examinando-o atentamente.

- Isso sem mencionar o fato de que ele com certeza está desatualizado, não é mesmo velha?

- Eu...eu não me recordo quando é que ele foi atualizado, mas tenho a impressão de que já faz um bom tempo.

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