DHARMUS

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Mhadsen continuava o seu pequeno circo de horrores. Com um sorriso de indisfarçável satisfação, deixou espetada na ponta de sua faca a orelha decepada, enquanto desferia um chute nas costas do prisioneiro.

- Acho que o seu menino não está acreditando em mim! – gritou enquanto tratava de segurar a cabeça de Arthur pelo queixo, arqueando-o levemente para trás. Colocou a ponta de sua faca na altura da jugular e de forma gradual, começou a perfurar a pele.

Pare! – foi o grito ouvido por todos.

Lentamente Dharmus saiu debaixo da marquise e tratou de encarrar o grupo de policiais e prisioneiros.

- Se é a mim que quer, aqui estou, oficial!

A figura de Dharmus era peculiar num momento destes. Era o mais alto entre todos, e sua constituição atlética, mesclada à sujeira e ao sangue em seu rosto lhe conferiam uma certa grandeza, como se ele fosse naquele momento um lutador, um gladiador. Caminhou a passos firmes em direção a seu pai que ainda sangrava.

- Você está oficialmente detido juntamente com...

- Ele me quer, então ele que me prenda – rosnou ferozmente interrompendo Stormaker e apontando para Mhadsen, na direção de quem continuou andando, ignorando todos ao redor. O ódio pela sevícia infringida a seu pai trouxe à tona todos os instintos de violência com os quais debatia-se a tempos.

- Mas vejam só, não é que finalmente eu posso colocar meus lindos olhinhos sobre um crédulo valente? Quem diria que eu teria essa satisfação!

- Dharmus meu filho, não faça isso! Entregue-se pacificamente a eles, pois são autoridades sobre nós e devemos obedecer a...

- Obedecer a um lixo desses pai? Você não viu como ele matou Andersen como se fosse um inseto? E você, mutilado e sangrando? Esses oficiais não representam a lei pai, eles são apenas criminosos vestidos oficialmente, nada mais do que isso.

- Não faça isso meu filho...

- Aí está alguém que eu respeito! – bradou em alto tom Mhadsen – Ele não é um bundão como o resto dessa corja, e ao menos tem coragem de falar na minha cara e me desafiar... gosto disso!

Seu rosto estava iluminado de alegria ante a perspectiva de uma luta com o crédulo atrevido. Desferiu um último chute em Arthur, que assim afundou o rosto ensanguentado no chão. Enquanto caminhava em direção a seu desafiante foi retirando algumas peças de sua armadura.

- O que está fazendo Mhadsen? Pare já com isso – foi a ordem do oficial comandante ao perceber a intenção de seu subordinado em entrar numa luta corporal com o prisioneiro.

- Me deixe fazer o meu trabalho, eu fui treinado a vida inteira para isso, então fique longe de mim comandante. E quanto a você garoto, em respeito à sua coragem, estou retirando as partes do meu traje que me concedem vantagem sobre você, para que nossa luta seja de igual para igual.

O vigor e a determinação dos dois contendores foram tão intensos, que não restou aos demais oficiais, inclusive ao comandante, nada, a não ser assistir o que viria a seguir. Formaram um círculo ao redor de ambos, que assim se puseram nesta arena improvisada pelo acaso.

Todos os anos de treinamento militar agora faziam sentido para Dharmus. Sabia que não era páreo para um oficial treinado, mas também tinha consciência de que nos treinamentos jamais havia sido derrotado, nem ao menos pelo seu instrutor. Exercitou a respiração compassada para que o excesso de adrenalina não prejudicasse sua clareza mental, e finalmente postou-se preparado para o combate.

- E não é que o fedelho sabe os rudimentos militares de combate a ponto de tomar a posição de Cartag-Sirak? Isso vai ser mais insano do que pensei.

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