UMA SEGUNDA MORTE

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A destruição de Jericó continuava de maneira frenética, com os soldados empenhados cada vez mais na caçada aos agora poucos sobreviventes. O povo hebreu que adentrou na cidade após os soldados, agora juntava os objetos de ouro e prata e tudo quanto fosse precioso, seguindo as ordens dadas por Josué. Tudo seria dedicado a Deus. Os os animais da cidade foram mortos, não restando nenhum sequer.

Paulatinamente toda a gritaria foi cessando, dando lugar agora a um silêncio sepulcral. Josué foi um dos últimos a sair da cidade, exausto e ensanguentado. Fazendo sinais com as mãos mandou reunir algumas dezenas de homens e ordenou-lhes que ateassem fogo à cidade, pois ela deveria ser reduzida a cinzas. E assim foi feito.

Do alto de uma pequena colina, agora distante cerca de um quilômetro, Raabe parou e ficou observando sua cidade arder em chamas. Seus cabelos foram espalhados pelo vento que vinha de encontro a seu rosto. Sua face foi sendo iluminada pela luz da grande fogueira na qual se transformara Jericó. Algumas imagens, sentimentos e sensações pulularam em sua mente, trazendo apreensão ao seu coração. Percebeu que além de seus poucos familiares, todos agora a salvo, não restava mais nada de sua história. De forma poética ousou imaginar que todos os seus pecados estavam agora sendo queimados juntamente com seu passado. Mas o que lhe reservava o futuro? Agora estava nas mãos dos hebreus, conhecidos pela brutalidade com a qual conquistavam os povos que estavam em seu caminho. Seria o seu destino trocar a escravidão da prostituição, pela escravidão a um povo estranho?

Seu coração aquietou-se quando lembrou da gentileza dos espiões, que de forma leal cumpriram o acordo e pouparam a ela e aos seus. A sensação causada pela lembrança de quando falou com Deus aqueceu seu coração. Mas estranhamente o que lhe trouxe um súbito palpitar, foi a lembrança do olhar e das palavras de Salmom, dirigidos a ela. Nunca em toda sua vida as palavras de um homem a fizeram sentir-se tão especial...tão desejada.

- Pare com esses pensamentos tolos Raabe, o seu tempo de paixões já passou a muito. - Disse a si mesma em voz alta, enquanto dava as costas à cena de destruição e tratava de alcançar o comboio que se dirigia ao acampamento.

* * * * * * *

Sabendo que não havia mais ninguém vivo na cidade, Anakx dirigiu-se, configurada em seu traje de combate, para a casa de Raabe, que a estas alturas estava prestes a ser alcançada pelas chamas. Já na entrada viu o corpo de Mezarh-Gun, ainda sob a forma de Abiel, caído inerte numa poça de sangue.

- Ainda custo a crer que um soldado bárbaro e uma prostituta conseguiram matá-lo tão facilmente. - Ponderou Anakx enquanto observava o corpo.

- Não deixa de ser um lembrete tétrico de que sem os trajes, vocês continuam a ser simples seres humanos, um tanto quanto vulneráveis.

- E o que fazemos agora?

- Ora, vamos engolir a isca de Lothan...vamos extrair do traje as coordenadas do próximo deslocamento e vamos para lá, enfrentar uma armadilha na certa.

- Muito bem, então faça o seu trabalho.

Anakx acocorou-se ao lado de Abiel, colocando suas duas mãos abertas por sobre ele. Dezenas de filamentos saíram das pontas de seus dedos e entraram no corpo, energizando-se de diversas cores diferentes, cada qual com uma função específica. Quando as primeiras informações trazidas pelos filamentos foram decodificadas pelo traje, Anakx percebeu algo estranho.

- Que sinais são esses aí Traje?

- Do que você está falando?

- O fluxo dos filamentos verdes deveria estar zerado, indicando total ausência de qualquer tipo de atividade neural, no entanto, alguns deles estão com valores positivos.

ANAKX - O ÚLTIMOOnde histórias criam vida. Descubra agora