RHASMUHZ

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A areia iniciou a trepidar, como que chacoalhada por algum tremor. Depois veio a dispersão de energia, que literalmente derreteu um bocado dela transformando-a em pequenos cacos de vidro. A seguir, circundado de energia que fugia para todos os lados, emergiu do nada o Omeron. Poucos instantes depois surgiu Rhasmuhz, rolando pelo chão em seu traje de combate, de forma tão violenta que mais parecia ter sido ejetado de um veículo em movimento. No instante em que tentou se erguer, a parte frontal de seu capacete se abriu para que ele pudesse vomitar.

- Mas que merda é essa, Traje? - Perguntou com a voz enfraquecida pelas golfadas.

- Esse é um dos efeitos colaterais previsto para o deslocamento temporal. Você foi informado disso durante seu treinamento e...

- Claro que eu sabia... mas a sensação é ruim demais... estou todo desorientado.

- Considerando que entramos no Continuum e fomos deslocados mais de quatro mil anos em direção ao passado e para o planeta Terra, eu diria que...

- Cale-se! Ouvir você agora me causa mais náuseas ainda.

- Posso até me calar, mas antes devo avisá-lo de que você tem cerca de trinta segundos para se preparar.

- Preparar para o que?

- Para o encontro com o habitante que está vindo por detrás daquela vegetação, certamente para verificar os clarões provocados por nossa chegada.

Mesmo cambaleando, Rhasmuhz dirigiu-se para trás de um pequeno grupamento de pedra que ficava a poucos passos da vegetação onde o traje havia detectado a aproximação eminente. Mal havia se escondido, o tal habitante surgiu por entre a vegetação, lança em punho, olhando atentamente tudo em redor.

- Mas o que é isso? - Assustou-se ao avistar o Omeron.

Rhasmuhz saiu de seu esconderijo numa velocidade tal que o pobre coitado nem ao menos percebeu. Foi fulminado instantaneamente por uma descarga energética que envolveu todo o seu corpo assim que o trajado o tocou. De imediato os cubos de remoção foram ativados, e enquanto estes executavam sua tarefa, Omeron era camuflado e enterrado na areia fofa, a cerca de dois metros de profundidade.

- Você terá de trajar esse habitante imediatamente. - Informou o traje.

- Creio que nem tenho outra opção, não é mesmo?

De imediato houve a transformação, e quando já de posse do novo corpo, Rhasmuhz abaixava-se para pegar a lança, ouviu alguém atrás de si lhe interrogar.

- Encontrou alguma coisa Benjamim?

- Na verdade não... está tudo calmo por aqui.

- Mas e aquele som estranho que ouvimos e...

- Veja você mesmo... não tem nada aqui. Talvez possa ter sido um animal... ou sei lá eu o que...

- Tem razão. Vamos voltar à nossa ronda.

Seguindo o soldado, Rhasmuhz em pensamento dialogava com seu traje.

- Hum... então eu agora sou um soldado... hebreu?

- As memórias dele são intensas. Passou todos os seus vinte e oito anos perambulando pelo deserto...venera uma entidade denominada de YHWH... e estão se preparando para invadir a cidade de... Jericó. - Relatou o traje.

- Isso vai nos poupar bastante trabalho.

- Sim, pois nosso alvo participará dessa invasão.

- Vasculhe toda a memória dele para ver o que descobrimos acerca desse fim de mundo para o qual o diretor nos enviou.

- Acredite se quiser, mas já varri toda a sua memória, e tudo o que temos é o que você já tem acesso.

- Eles chamam isso de vida? Uma existência inteira vagando pelo deserto alimentando crenças absurdas. Tem certeza de que estamos no planeta Terra traje?

- Se você está abismado com o que vê aqui, imagine eu, que nem ao menos disponho de dados acerca desse tempo. Tenho de trabalhar com um nível de abstração lógica extremamente perigoso.

- Não me admira que não tenhamos informações acerca desses tempos... me causa nojo só olhar essas pessoas, suas vestimentas de farrapos imundos, seu cheiro animalesco... não passam de animais adestrados...

- São seus ancestrais...

- Duvido muito... creio que esse gênero humano deve ter desaparecido em algum canto da evolução.... Não é possível que descendamos desses piolhentos.

Após caminharem por cerca de vinte minutos chegaram ao acampamento principal. Na roda de soldados que se formou para a distribuição de comida, ficou sabendo das últimas notícias acerca da liderança de Josué, e de que uma campanha contra a cidade de Jericó era eminente. Agora era ter paciência e esperar pela invasão da cidade.

Sentado com seus companheiros, Benjamim esforçava-se em conseguir engolir a lavagem que chamavam de comida, quando repentinamente viu caminhar no centro do acampamento o chefe supremo.

- Então esse é Josué. - Pensou.

- Sim, aí está o nosso alvo. - Respondeu-lhe em pensamento o traje.

- Assim que nos familiarizarmos com a rotina do acampamento vamos eliminá-lo.

- Não esqueça que isso deve ser feito sem o testemunho de qualquer habitante desta era e seu corpo deve ser desintegrado. São ordens específicas do diretor.

- E assim será feito. Quem somos nós para desacatá-lo, não é mesmo?

Sem que seus companheiros percebessem, jogou o resto de sua comida ao lado do tronco onde estava assentado. Previa que demoraria a se acostumar com a porcaria que chamavam de comida. Sua esperança era de que a dita batalha se desse logo, para que pudesse dar fim ao seu alvo e deslocar-se para o futuro, longe desse tormento de era.

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