Jyuu San

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Hikaru acordou em um sobressalto, sentando-se ereto e a respiração estava descompassada como se tivesse acabado de despertar após um pesadelo. Ele olhou ao redor, mas não havia a presença de Hayato ou Yusuke no quarto, o humano pôde apenas suspirar para regular o próprio fôlego.

O suor escorria pela linha de suas costas, deixando-o incomodado. Ainda estava com febre, se cobrir fazia ele sentir calor, porém se livrar dos cobertores apenas o deixava com frio. No fim, Hikaru se deitou novamente, perguntando-se onde Hayato havia se metido junto com Yusuke.

O calor corporal fazia seus olhos lacrimejarem, sua cabeça havia começado a latejar assim como seu corpo todo também tinha começado a doer. Seu olhar repousou em muitas coisas presentes no quarto em uma tentativa de se distrair, mas então, viu a silhueta de alguém. Era claramente uma mulher adulta e elegante, vestia uma armadura de batalha completa e portava uma naginata[1]. Apesar de estar preparada para a luta, havia uma aura gentil ao seu redor, como se fosse uma deusa da misericórdia, uma que tiraria sua vida de forma rápida e indolor, com um um sorriso leve em seu rosto lhe tranquilizando, como se dissesse que seu sofrimento terminaria logo e finalmente poderia descansar em paz.

— Mãe...? — Murmurou.

Ele notou um suave sorriso gentil adornar seus lábios. Entretanto, Sasaki não disse nada e se virou para ir embora, como se tivesse voltado do Yomi apenas para olhar Hikaru uma última vez. Para verificar se seu filho mais novo estava bem.

— Espera...! Não vá, por favor...! — Estendeu sua mão, como se assim pudesse alcançar ela. — Mãe...! Por favor... Não vá embora.

Ela não escutou e saiu pela porta entreaberta, Hikaru reuniu todas as suas forças para se levantar e a seguir, cambaleando devido a fraqueza.

Ele a chamou baixinho diversas vezes, às vezes também perguntando onde Minoru estava, mas nunca havia uma resposta, ela sequer esperava por ele. Hikaru andou pelos corredores sem se importar se alguém veria seus olhos ou se o dariam por louco, apenas desejava que sua progenitora ficasse um pouco mais e falasse com ele. Apenas uma palavra bastava, somente uma era o suficiente.

Nem que fosse uma despedida.

Em algum ponto, Hikaru não aguentou mais se manter de pé e desabou, o chão estava tão frio que parecia queimar, além de estar mais molhado e fofo do que costumava ser. Em sua frente, havia a entrada de uma floresta de árvores secas, a qual a mulher entrou após olhar uma última vez para trás.

— Masamune-san!! — Alguém gritou, mas a voz parecia distante de certa forma. — O que você está fazendo?! Sua condição irá piorar!

Sua visão se tornou borrada, ele viu o rosto de alguém e percebeu que devia estar dizendo algo, mas não havia entendido nenhuma palavra. Sua consciência se esvaiu, apagando outra vez e voltando ao mundo dos sonhos e pesadelos.


⊱❍✿❀✿❍⊰


"Monstro, monstro! Aberração!" As crianças cantarolavam, dando risadinhas.

Hikaru chorava silenciosamente, o que fazia as outras crianças do templo mexerem ainda mais com ele. O empurrando ou lhe jogando pedras enquanto o chamavam demônio e coisas relacionadas a isso. Ele queria voltar para casa e poder brincar com Kazumi, treinar com Minoru e ouvir as histórias que sua mãe contava, as pessoas lá lhe odiavam de fato, mas ao menos tinha um amigo e uma família que faziam com que ele conseguisse suportar a dor.

Ele já tentou se defender, mas não demorou muito para Hikaru entender que ao fazer isso, ele se tornava o culpado e não a vítima. Repetidas e repetidas vezes ele já tentara pedir por ajuda, mas ninguém acreditava em uma única palavra sequer que deixava sua boca. Ele nunca teve um amigo que lhe estendesse a mão naquele templo, nem mesmo os adultos pareciam se importar com ele, pelo contrário, pareciam odiar sua presença. Chegava a ser engraçado quando os monges começavam a dar sermões sobre perdoar, sobre retribuir o mal com gentileza, sobre apenas fingir que aquilo não era nada.

Hasu No HanaOnde histórias criam vida. Descubra agora