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Chegado o pôr do sol, eles deixaram a casa e começaram a caminhar. Hikaru andava de cabeça baixa, mancando, enquanto Yusuke caminhava com as mãos cruzadas atrás da cabeça de forma despreocupada. Ele murmurava uma canção qualquer, mas o humano não estava interessado em saber qual era.

Eles chegaram em uma cidade sem falar nada um com o outro, Yusuke apenas seguia o mais alto para onde quer que fossem, afinal ele não tinha outra escolha além dessa. Haviam algumas pessoas do lado de fora organizando suas coisas para voltar a suas casas e umas poucas crianças brincando na rua.

Hikaru se aproximou de um senhor que aparentava ser um vendedor e perguntou educadamente:

— Com licença, sabe me dizer se há algum santuário por perto, senhor?

O homem apontou em uma direção.

— Siga naquela direção, há um velho santuário de Daikokuten. Poucas pessoas vão lá atualmente, mas você ainda pode ir rezar ou dar oferendas ao kami.

— Há algum sacerdote que cuide de lá?

— Sinto muito, não sei dizer. Em todas as vezes que eu fui, nunca encontrei alguém, mas deve ter, visto que o lugar está sempre bem cuidado.

— Obrigado pela informação e sinto muito pelo incômodo. — Disse, se curvando levemente em sinal de agradecimento.

— Não, não. Não se preocupe com isso.

Com isso, eles foram na direção indicada pelo comerciante. Hikaru ergueu a cabeça e olhou com cuidado para ver se não havia ninguém suspeito por perto. Ele era sútil ao verificar os arredores, você nem mesmo perceberia que Hikaru estava em estado de alerta total, mas Yusuke notou algumas coisas em sua linguagem corporal que o fez entender que ele estava sendo cauteloso e observando se não havia alguém que pudesse ser perigoso. Hikaru parecia ser alguém experiente em ser furtivo e sorrateiro. Entretanto, algumas crianças que ainda brincavam na rua pararam e olharam com choque e admiração na direção deles.

O humano não pôde evitar se sentir desconfortável com aqueles olhares, sua boca havia até mesmo se contorcido no que parecia ser algo perto de desgosto.

— Por que estão nos encarando? — Hikaru perguntou sem esperar uma resposta realmente, mas Yusuke mesmo assim respondeu com uma risada.

— É óbvio que estão admiradas com a minha beleza.

— Você não disse que não pode ser visto?

— E não posso, mas crianças e idosos são mais sensíveis quanto ao plano espiritual. É por isso que eles percebem coisas sobrenaturais escondidas mais facilmente do que pessoas comuns.

— Entendi... Sendo assim, você consegue lidar com fantasmas?

— Espera, isso é um pouco mais complicado do que parece! Apesar de eu ser algo sobrenatural, não quer dizer que eu seja um fantasma ou consiga exorcizá-los! Ainda sou um ser vivo apesar de tudo!

Hikaru arqueou uma sobrancelha.

— Isso é estranho.

— Por isso é complicado!

— Então você só consegue lidar com outros youkai vivos? Como por exemplo, tengus[1]?

Yusuke estremeceu.

— Eu não sei se seria capaz de lidar com um tengu, eles são como semideuses do combate! Se eu tivesse meus poderes, seria tão simples quanto um estalar de dedos, mas eu dependo só da minha força física agora! Não dá pra garantir com certeza!

— Certo...

— Mas por que você está perguntando isso?

— É sempre bom saber os limites de alguém.

Hasu No HanaOnde histórias criam vida. Descubra agora