Atravessar os portões da fortaleza havia sido fácil, pois suas travas não estavam bloqueando a entrada, mas a aura opressora que se sentia vindo de dentro da casa fazia qualquer um tencionar. Hayato sentiu um arrepio passar por sua espinha e Yusuke mexia o rabo de forma ansiosa, suas orelhas estavam erguidas, parecendo tentar ouvir qualquer coisa que pudesse representar perigo.
Hikaru não era burro e havia percebido que eles também não gostaram nada daquela atmosfera pesada.
— ... Se quiserem, podemos desistir.
— Desistir? — Yusuke tentou soar confiante, mas havia certa insegurança em sua voz. — Que besteira!
Hayato tinha o cenho franzido, visivelmente preocupado.
— Acho que está tudo bem tentarmos... — Disse. — Temos omamoris[1] de proteção e talismãs em branco para usarmos, então tenho certeza de que tudo dará certo...
— Sim... — Hikaru suspirou. — Tudo bem, vamos entrar todos juntos. Não podemos nos separar de forma alguma, e se a situação ficar perigosa demais, vamos sair.
— Certo! — Concordaram.
Hikaru assumiu a liderança e respirou fundo antes de abrir a porta, mas Hayato se ofereceu para fazer isso em seu lugar, temendo que poderia ser perigoso se o humano fosse o primeiro a entrar. Um vento quente veio dela, algo muito incomum se a estação em que estavam fosse considerada, tudo à frente estava mergulhado em uma completa escuridão. Havia também o cheiro pútrido de corpos em decomposição.
Yusuke fez uma careta.
— Que cheiro horrível!
— Realmente... — Disse Hayato. Ele pescou um dos talismãs em branco. — Devemos utilizar um desses para conseguir luz?
— Temos uma quantidade limitada, então vamos utilizar somente quando necessário. Seria bom procurar uma vela antes. — Disse Hikaru.
— Certo.
Os três entraram na casa e começaram a procurar por uma vela por meio da luz que a porta principal deixava entrar, mas, de repente, a entrada foi fechada com um estrondo alto e o lugar foi mergulhado completamente no escuro. Hikaru quase soltou um palavrão, mas se conteve, ele foi até a porta principal para tentar abrir a entrada novamente, porém sem sucesso.
— Estamos trancados. — Avisou. Não houve nenhuma resposta dos youkai que lhe acompanhavam, apenas o completo silêncio. Ele então se virou e chamou: — Yusuke? Hayato-san?
Nada.
Um calafrio percorreu sua coluna, como um inseto rastejando por sua pele. Eles estavam no mesmo cômodo, como podiam ter se separado agora? A única explicação para isso era que havia algum tipo de influência maligna agindo. Ele tateou seu corpo, se sentindo aliviado ao perceber que ainda estava com o omamori de proteção. Mas sua tranquilidade não durou muito tempo ao se lembrar que Yusuke não tinha nada com ele para se proteger.
Ele não queria entrar mais afundo naquela casa e se perder, mas não tinha muita escolha além dessa.
Andando lentamente com a ajuda das paredes, ele avançou. Era praticamente impossível enxergar alguma coisa à sua frente, nem mesmo podia ver suas próprias mãos, mas ele não queria gastar um talismã para criar luz. Os rangidos e o cheiro da casa davam uma sensação nada agradável de paranoia e claustrofobia, além de parecer haver sussurros baixos sendo murmurados no pé de seus ouvidos. Algo se quebrou sob seus pés, um som que ele jamais se esqueceria de como soava: o som de ossos se quebrando.
Desde o momento em que começou a percorrer os corredores da casa, ele começou a se sentir ansioso, as vozes sussurradas pareciam estar ficando mais altas. No início eram baixas e inaudíveis, impossíveis de serem compreendidas, porém, conforme ele avançava mais e mais, elas começavam a ficar mais altas e claras.
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Hasu No Hana
RomanceAutor: Nan Títulos: 蓮の花, Hasu No Hana, Flor de Lótus Status: Livro 1 finalizado (32 capítulos + futuramente um prólogo) Havia um monstro perigoso aprisionado em uma montanha sagrada. Sua ferocidade foi tanta que muitas pessoas e até mesmo deuses mor...