Jyuu Yon

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Os sintomas de Hikaru diminuíram após dois dias, mas ele ainda continuava tendo febre, coriza e havia começado a apresentar tosse seca. Não era nada demais na visão de Hikaru, embora Yusuke e Hayato ainda estivessem um pouco preocupados com isso, mas ele os tranquilizou dizendo que estava bem e os convenceu de que tinham que seguir em frente com a viagem.

— Koka fica naquela direção. — Respondeu o dono da estalagem. — Creio que vocês chegarão lá ainda hoje se o tempo cooperar.

— Obrigado, senhor! — Hayato agradeceu, se curvando e entregando o pagamento. — Peço desculpas mais uma vez pelo incômodo.

— Está tudo bem. De qualquer forma, espero que tenham uma boa viagem! Ah, e tomem cuidado pelas estradas.

— Por...?

— Nunca se sabe, ultimamente os tempos estão perigosos. Ladrões, assassinos, invasões... Muitas coisas podem acontecer. Um pé adiante é escuridão[1].

Hayato sorriu.

— Muito obrigado pelo aviso, senhor. Seremos cuidadosos. Vamos partir agora e espero que seus negócios fluam bem.

O senhor acenou em despedida e Hayato partiu após uma última reverência, se aproximando dos outros que o esperavam do lado de fora da estalagem. Hikaru estava com os olhos fechados, como se estivesse meditando em pé, e Yusuke voltou seu olhar para o tengu, abrindo um sorriso malicioso. Hayato não pôde evitar pensar que a forma feminina de Yusuke parecia ser muito mais sedutora quando sorria daquela forma, mas ele ainda estava irritado com a raposa, então apenas afastou aqueles pensamentos de sua mente.

— Yato-cchin, você é tão bonzinho. — Yusuke zombou, imitando a voz de Hayato em seguida: — "Espero que seus negócios fluam bem". Pff, que piada.

— Você escutou a conversa? — Franziu o cenho.

— Eu sou uma raposa, Yato-cchin, é claro que consigo escutar muito mais do que um humano comum conseguiria. Francamente, você é...

— Ainda está cedo, parem de brigar. — Hikaru interrompeu a discussão, e olhou diretamente para os dois. — O que aconteceu com vocês dois, afinal? Desde aquela vez em que foram tomar banho juntos, vocês não param de brigar entre si. Isso é cansativo, já era difícil conseguir meditar com Yusuke do meu lado, com vocês brigando é mais difícil ainda.

— Meditar para quê, Hikkin? Você não é um monge. — Reclamou.

— Sinto muito, Masamune-san. — Disse Hayato, parecendo arrependido.

Hikaru suspirou.

— Apenas se resolvam. Não sabemos por quantos dias vamos ter que ficar juntos, então tratem de pelo menos suportar um ao outro.

Ambos concordaram com relutância.

Os três compraram comida e Hikaru comprou um novo chapéu de bambu que foi colocado sobre sua cabeça quase que imediatamente. Hayato andava à frente como sempre, Yusuke voltou a sua forma híbrida e murmurava uma canção com os braços apoiados na cabeça.

O humano estava ocupado, perdido em seus próprios pensamentos. Ele inicialmente havia planejado traçar um plano e esquemas que pudessem ser úteis para o que deveriam fazer a seguir quando chegassem em Koka, mas sua mente vagou para outra direção ao ficar observando por tempo demais a paisagem coberta de neve. Hikaru não conseguiu evitar pensar nos bons e velhos tempos, sua mente sempre gostava de fazer aquele tipo de coisa, de o relembrar do passado mesmo que não quisesse isso.

Lembrar-se da época em que ele brincava com Minoru na neve quando ele e sua mãe vinham lhe visitar no templo, perto do final do ano, era doloroso. Fazia o seu coração doer com a saudade. O inverno era a sua única oportunidade de ser uma criança feliz que adquire machucados brincando e sua mãe sempre trazia Kakigori[2] para os dois irmãos comerem juntos. Mesmo que reclamasse que o tempo já estava frio o suficiente para coisas frias, ela sempre comprava para os dois, pois sabia que eles gostavam mesmo assim.

Hasu No HanaOnde histórias criam vida. Descubra agora