Nijyuu Yon

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Sentado no telhado da velha casa, enquanto observava a paisagem coberta por neve e gelo, uma linda melodia era cantada por Yusuke e carregada pelo vento frio do inverno. Ele não parecia sentir frio realmente, os terríveis machucados tinham sido tratados e estavam quase desaparecendo de sua pele. Murmurando uma música para ninguém em especial, talvez fosse para si mesmo, como uma forma de se distrair ou se acalmar. Entretanto, tal música não possuía palavras para expressar sua mensagem, era apenas uma triste melodia sem nome que ainda assim era muito agradável de se ouvir.

Hayato ergueu o olhar para ele. Yusuke balançava levemente a perna sem o sino, parecendo estar perdido em seus próprios pensamentos e lembranças. As casas eram relativamente baixas para Hayato, então ele subiu com facilidade no telhado, sem nem mesmo precisar usar suas próprias asas, e sentou ao lado de Yusuke. Ele não ousou interromper a raposa e nem ela mesma parou de cantar, ele apenas ficou ao seu lado e escutou em silêncio.

Hikaru não estava com eles. Naquela manhã, ele fora levar o amanojaku para algum templo ou santuário a fim de que este fosse eliminado de uma vez por todas, enquanto isso, os dois youkai cuidavam da retirada dos restos mortais. Quando Yusuke terminou sua parte do trabalho, ele subiu no telhado e após um tempo começou a cantar. Agora estavam atualmente naquela situação.

Quando ele parou de cantar, ambos ficaram em silêncio por mais um tempo até que Hayato tomasse coragem para falar alguma coisa.

— Você está bem?

No momento em que perguntou aquilo, ele desejou bater em si mesmo por perguntar algo tão estúpido. Desde que tinham enfrentado aquele amanojaku, Yusuke parecia ser o mais afetado entre eles e Hikaru parecia estar agindo normalmente como de costume, embora estivesse um pouco mais distante do que o normal. Hayato não sabia o que eles poderiam ter presenciado, mas sabia que não devia ser nada muito fácil de encarar. Perguntar se Yusuke estava bem quando claramente não estava... Isso parecia um pouco idiota de sua parte.

— Eu vou melhorar, não se preocupe. — Murmurou.

— ... Se quiser conversar sobre isso, eu estou aqui para ouvir. Lembre-se que não está sozinho nessa.

Yusuke concordou, abraçando as pernas. Eles ficaram em silêncio outra vez, com isso, Hayato entendeu que ele não queria conversar sobre o assunto agora, então resolveu mudar o rumo da conversa.

— Você sempre está murmurando essa canção... Ela não tem uma letra?

— Não. Nem mesmo um nome.

— Você a inventou?

— ... Eu não sei. Eu só lembro da melodia, nada mais além dela.

— Ah... Entendi.

Yusuke sorriu.

— Obrigado.

— Pelo quê? — Perguntou, fazendo uma cara confusa.

— Por tudo. Você sempre salva eu e Hikkin. Você até mesmo foi contra seu próprio pai para proteger a gente.

— ... Eu não fiz nada demais, além disso, não gostaria que vocês se machucassem.

— Tsc, você é muito gentil, Yato-cchin. — Apoiou sua cabeça em uma mão, abrindo um sorriso. — Como era sua vida antes de se juntar a nós? Muito entediante?

— Acho que era normal. Tudo no monte Kurama é pacífico e tranquilo.

— Você nunca desceu o monte antes ou desejou ver as coisas do mundo mundano com seus próprios olhos?

— Às vezes, os outros tengus não costumam falar sobre humanos. Eles descem e lutam para ganhar experiência, mas depois sempre retornam para o monte, na maioria das vezes amargurados, e nunca falam o que presenciaram. Eu fiquei curioso, mas temia o que podiam ter visto, então nunca desci realmente ou desejei fazer isso... Até agora.

Hasu No HanaOnde histórias criam vida. Descubra agora