Jyuu Ichi

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— Por favor, um quarto, agora! — Hayato exclamou assim que entrou na estalagem repentinamente, assustando o senhor que cuidava dela.

Ao ver o estado de Hikaru, o senhor imediatamente entendeu a situação e guiou o mais alto até o cômodo desocupado mais próximo sem perguntar muito, Hayato colocou o humano sobre o futon e o cobriu com vários cobertores que recebeu do senhor. Ele estava nervoso, sem saber muito bem o que fazer primeiro e temendo que a condição de Hikaru piorasse.

— Sinto muito estar sendo tão grosseiro, mas por favor, traga mais dois futons. — Pediu. — Se possível, poderia providenciar algo quente para ele comer?

— Ah, sim, sim! Claro! Irei agora mesmo!

Hikaru ainda tremia muito e chorava, completamente encolhido debaixo das cobertas. Hayato não sabia o que fazer e estava se sentindo ansioso por não poder fazer nada. Ele tentou pensar em uma forma de o ajudar a se esquentar e uma ideia surgiu em sua mente, mas era uma ideia um pouco embaraçosa e talvez até desrespeitosa, já que ele não tinha tanta intimidade com Hikaru. Suas bochechas adquiriram um rubor mais visível do que já estava por causa do frio.

Não, isso não importa. Pensou. Preciso esquentar ele de alguma forma. É a vida dele que está em risco.

— Sinto muito por isso, Masamune-san, mas acho que não temos muita escolha.

Ele se deitou debaixo das cobertas e o puxou para si. Hikaru estava realmente frio e murmurava coisas sem sentido, mas ele conseguiu entender algumas frases e todas elas pareciam fazer seu peito doer, como se tivesse alguém o esfaqueando.

"Eu quero morrer, por favor, me deixe morrer de uma vez."

"Eu não quero ficar sozinho, eu não quero mais sentir frio."

"Eu sinto falta de vocês."

Os lábios de Hayato se pressionaram em uma linha reta e ele o apertou mais em seus braços, sentindo seus próprios olhos lacrimejarem.

Apesar de ser sério na maioria dos casos, Hayato era alguém sensível e muito compreensivo, empático. Talvez fosse devido à sua pouca experiência, mas ele tinha mais facilidade em ter empatia com outros seres vivos, fossem pessoas ou youkai, acabando por chorar por qualquer coisa que o deixasse muito nervoso ou quando era algo que o impactava de verdade. Exatamente agora, seu coração doía como se aquela dor fosse dele e não de Hikaru.

— Masamune-san... — Chamou, mesmo que soubesse que Hikaru podia não responder. — Será melhor se você tirar os brincos, eles podem te machucar durante a noite.

Como esperado, não houve uma resposta.

Hayato murmurou um pedido de desculpas, levando a mão até as orelhas dele para retirá-los. Hikaru imediatamente reagiu cobrindo os próprios brincos, impedindo que Hayato os retirasse.

— N-Não toque... Por favor... Não t-tire...! N-Não tire...

— Mas...!

— Não q-quero... N-Não quero...! — Soluçou.

Hikaru foi abraçado com mais força, não sendo algo doloroso, chegava a ser bom. Sua mente em estado confuso, embaralhada com todas as suas lembranças e traumas do passado, não conseguia evitar pensar no quanto aquilo era acolhedor. Ser envolvido por braços fortes o fez se sentir seguro, mesmo que sem perceber isso.

— Você não está sozinho, eu estou aqui.

Hikaru pareceu paralisar ao escutar aquilo, ele também não lutou quando Hayato retirou seus brincos. Ele fungava em seus braços, mas o tengu murmurava palavras gentis e suaves. Embora Hikaru não entendesse o significado de suas palavras por estar perdido demais em seu próprio mundo, elas o fizeram se acalmar um pouco devido ao tom leve de sua voz. Hikaru ainda tremia, mas já havia parado de chorar, entretanto Hayato continuou a falar com voz mansa para que se mantivesse calmo.

Hasu No HanaOnde histórias criam vida. Descubra agora