𝚌𝚑𝚊𝚙𝚝𝚎𝚛 𝚏𝚘𝚛𝚝𝚢 𝚎𝚒𝚐𝚑𝚝

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Dia seguinte, 07h15
Nova Orleans, Louisiana

Somente quando sentiu o vento bater contra o rosto, os pelos arrepiando em uma sensação agradável a forçando a se espreguiçar e esticar os braços, é que Caroline abriu os olhos. Instintivamente se assustou, franziu o cenho ao encarar o teto de madeira escura, ornamentado com um lustre clássico, de cristais, hastes de vidro, transparentes, com pequenas lâmpadas em cada uma das quatorze pontas, pedras ovais ligadas por correntes. Tão lindo quanto imponente. 

Piscou algumas vezes, correndo o olhar pelo ambiente, relaxando ao perceber que estava sozinha ali. Somente então se permitiu admirar as paredes bege escuras, das quais em alguns trechos podiam se ver alguns tijolos vermelhos, revelando a idade da estrutura. Tudo, ainda assim, parecia combinar perfeitamente com os móveis de madeira escura, ao lado da janela alguns livros casualmente posicionados sobre uma cômoda, ironicamente uma mesa pouco mais baixa, logo ao lado, possuía algumas garrafas de bebida e dois ou três copos. 

Ergueu o corpo e sentou-se na cama de madeira, o cobertor acinzentado caindo e expondo seu corpo, desta vez sentiu o frio ao ver a cortina se mexer junto da brisa e respirou fundo, puxando o tecido de volta. Fechou os olhos por alguns segundos, o estupor do sono parecendo se esvair, enquanto o cérebro começava a trabalhar novamente, como engrenagens voltando a girar. E então as memórias vieram à tona. 

A viagem cansativa de Washington até a Louisiana, a conversa com Bonnie, a traição de Tyler, seu mundo despencando enquanto entrava no carro e dirigia mais uma hora, de Baton Rouge até Nova Orleans, o bar que pareceu tão convidativo naquele momento de caos, as garrafas de cerveja, as fotos e mensagens que apagou com raiva de seu telefone enquanto xingava o Lockwood de todos os nomes existentes até finalmente largar o aparelho em cima da mesa, a solidão que sentia e as lágrimas afogadas com o álcool, Klaus... Arregalou os olhos e tirou alguns fios de cabelo de sua face quando repetiu o nome em sua mente, Klaus. Klaus aparecendo de repente no bar, Klaus e a conversa extremamente agradável que os dois tiveram, que a fez se esquecer da dor e do ódio que pareciam tomar conta de seu ser, Klaus e seus sorrisos charmosos, Klaus e seu sotaque britânico que definitivamente ele deveria ser proibido de usar, porque era simplesmente injusto. 

Klaus a parando antes que pudesse chegar no carro, mostrando que se importava, perguntando o que realmente estava acontecendo, Klaus parado a centímetros de distância, junto com todos os desejos que a loira vinha censurando e empurrando para os confins de seu ser, fingindo simplesmente não existir, junto com os princípios e barreiras que ela constantemente se coagia a manter ali, até ontem, pelo menos. E então tudo o que seu consciente conseguia registrar era Klaus e seus lábios macios, Klaus e seus toques calculados e desesperados por sua pele, Klaus e seu corpo quente, pressionado contra o dela, Klaus e uma das melhores noites que ela se lembrava de ter, em anos. 

Arfou e se sentiu arrepiar novamente com as lembranças. Imediatamente se viu dividida, transtornada, um lado seu conseguia sentir a culpa consumindo cada poro, a desaprovação, os olhares críticos, não apenas de seus amigos, mas os seus também. Já o outro, sentia-se leve, quase flutuando, não apenas por tudo o que ocorrera, mas também por finalmente admitir suas vontades, por deixar de lado as preocupações que pesavam em seus ombros, todos os receios, bloqueios e considerações, inclusive, que tinha por alguém que não pensara duas vezes antes de trair sua confiança. 

Lembrava-se de Stefan dizendo a ela que, quando alguém se transforma em vampiro, todos os seus comportamentos naturais tendem a se ampliar. Sua primeira reação a isso foi o pânico, por perceber que viraria uma versão sua mil vezes mais insegura, controladora e neurótica do que costumava ser. Felizmente, mesmo exagerando tais características, a transformação também permitiu que Caroline evoluísse, se entendesse e amadurecesse mil vezes melhor do que antes. Ainda se sentia ansiosa, ainda tinha seus medos, mas conseguia se controlar muito melhor e ter mil vezes mais certeza e confiança em si do que antes. Talvez por isso ela tenha se chateado por Bella esconder que queria se transformar em vampira, mas não fosse contra a escolha da morena. Ela entendia, pois sabia que havia encontrado seu lugar e principalmente a si mesma quando se tornou imortal. 

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