Capítulo 1

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Quando o sinal tocou, parecia que a manada de antílopes do Rei Leão havia se debandado novamente. Gente correndo e se trombando, atrasados, indo deixar ou pegar materiais nos armários, Jaime indo ao banheiro para tentar tirar uma mancha de patê de sua gravata.

Na sala do 3ºB, o padrão de assentos ainda era muito semelhante ao usado no terceiro ano. Apesar de alguns namorados insistirem para se sentar mais próximos, a maioria das meninas preferia manter certa distância, especialmente Bibi, Alicia e Marcelina: conheciam bem os namorados que tinham e o quanto eles não prestavam atenção na aula, diferente do que elas pretendiam fazer.

Maria Joaquina estava sentada em seu lugar, ajeitando os materiais milimetricamente. Sabia que seria ignorada pelos amigos por algum tempo, havia pegado pesado em sua colocação lá fora. Não era mais uma pessoa insensível ou estúpida como costumava ser na infância. Mas não esperava ver Cirilo beijando uma menina do segundo ano ali no corredor, e isso simplesmente a deixou fora de si.

─ Você viu, não é? ─ Jorge sentou na cadeira à sua frente, com Margarida em seu colo ─ Por isso você foi tão estúpida.

─ Eu não sei do que você está falando, Jorge. ─ ela continuou mexendo nos materiais de forma sistémica, e o casal à sua frente segurou o riso.

─ Qual é, Maria Joaquina, nós te conhecemos. Você ainda é chata, mas não do jeito que você foi agora de pouco. Na verdade, você foi bem estúpida, magoou todo mundo. ─ avisou Margarida ─ Sabemos que o último ano pode trazer o fim de alguns relacionamentos, mas você não precisava jogar desse jeito.

─ Eu sei, tá bom? ─ bufou a patricinha, começando a cutucar a cutícula distraidamente ─ E sim, Jorge, eu vi. Eu vi o Cirilo e a namoradinha dele.

─ Você passa uma década dando toco no menino, para agora resolver que gosta dele? ─ o loiro revirou os olhos, ouvindo a namorada rir ─ Você consegue ser mais mimada do que eu, Maria Joaquina.

─ E olha que ele reclama se a cozinheira não tira a casca do pão de forma. Se você é mais mimada do que isso, eu tenho dó do Cirilo. ─ garantiu Margarida.

─ Você não vai esquecer a história do pão de forma? A casca tem gosto de queimado, florzinha. ─ Jorge fez biquinho, e Maria Joaquina fez cara de nojo.

─ Nesse momento, o que eu não preciso, realmente, é o Jorge sendo meloso com a florzinha, francamente. ─ a patricinha deitou a cabeça sobre os braços ─ Por favor, levem o seu mel e açúcar para longe de mim.

─ Olha, você está precisando, viu? Porque está mais azeda do que limão passado. ─ Margarida se levantou, puxando Jorge pela mão.

─ Mas nós não tínhamos que ajudar ela a resolver os problemas? Não é isso o que as pessoas dessa turma fazem? ─ perguntou Jorge, confuso.

─ Tem momentos e momentos, loirinho. Nessa hora, ela precisa curtir a fossa e remoer o quanto foi idiota.

Maria Joaquina levantou a cabeça irritada, mas o casal já estava do outro lado da sala, conversando com os amigos. Carmen e Daniel chegaram e se sentaram nas carteiras ao seu lado, nos lugares de sempre, mas a ignoraram. Com razão, ela sabia.

E então Cirilo entrou na sala. Sorrindo largamente, de orelha a orelha. Cumprimentou os amigos, que claro, começaram a zoeira pela cena vista lá fora. Ele baixou os olhos, sem graça, mas sorria.

Emanuelle. O nome veio acompanhado de um largo sorriso, enquanto Cirilo contava quem era a menina do segundo ano com quem estava aos beijos. Foi decifrando partes do que ele falava. Tinham começado a conversar no Instagram e ido ao cinema juntos, ver algum filme qualquer.

CARROSSEL - Ano da FormaturaOnde histórias criam vida. Descubra agora