Capítulo 9

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A concentração para a semifinal seria logo após o almoço, e apesar de terem comido porcarias a manhã toda, os casais Guerra e Gusman insistiram que os jovens deveriam se alimentar direito. Sendo assim, atravessaram a rua até um restaurante.

─ Uma churrascaria? ─ se irritou Valéria, assim que pararam à porta do local.

─ Eles têm mesa de salada, Val. ─ lembrou Marcelina.

─ E daí? O nome disso poderia ser mesa de intoxicação alimentar. ─ rebateu a menina, irritada ─ A alface deve estar aí desde as 9h da manhã!

─ Tem um restaurante vegetariano no fim da rua, Val. ─ lembrou Margarida ─ Mas nenhum de nós aqui é vegetariano.

─ Tudo bem, gente, nós vamos sozinhos. ─ avisou Davi, pegando a mão da namorada ─ Nos encontramos na hora da próxima rodada, pode ser?

Os amigos concordaram, entrando na churrascaria, enquanto Davi e Valéria saiam andando na direção do outro restaurante. A garota estava irritada, e não melhorou quando entraram e se sentaram.

Após fazer os pedidos, Davi resolveu perguntar o que a incomodava.

─ Eu fiquei chateada.

─ Chateada por que, Val?

─ Ah, porque nós acabamos aqui, sozinhos. De novo. ─ explicou a garota, secando os olhos marejados ─ Não é a primeira vez que isso acontece, né? Quando eles querem ir ao Outback, nós não vamos. Quando eles querem ver um filme no cinema, é sempre o mais idiota, e você assiste algum outro comigo. Quando fazemos churrasco na casa da Majo, eu e você ficamos um tempão na cozinha, preparando os espetos de legumes. Você virou vegetariano por minha causa, mesmo que depois tenha gostado, mas eu sinto que os meus gostos e meu jeito às vezes nos afastam dos nossos amigos.

─ Você nos afasta deles? ─ Davi riu, segurando a mão de Valéria ─ Amor, quantas vezes as minhas tradições, costumes e compromissos religiosos não chocaram com festinhas, eventos, saídas? Nós nunca íamos comer hambúrguer com eles, de todo o jeito, porque eu não podia comer carne e queijo.

─ Ou então, deixava os garçons loucos para arrumar seu pedido. ─ os dois riram.

─ Val, cada um de nós tem suas particularidades, assim como cada casal tem as suas. O Paulo e a Alicia vivem deixando a gente para andar de skate, o Koki e a Bibi adoram furar os rolês para ficar vendo documentários. O Jorge arrasta a Margarida para os bailes de gala dele, e a Carmen e o Daniel esquecem da gente em semana de provas. ─ enumerou o judeu ─ O fato de o seu gosto cinematográfico ser mais refinado, ou de você ter feito uma opção de vida que eu também adotei, de não comermos animais e evitarmos produtos derivados deles e que causem sofrimentos, não é motivo para sofrer.

─ Não mesmo, não é? ─ ela deu um sorrisinho de lado.

─ Com certeza não. Cada vez menos nós vamos ficar todos juntos, Val, isso é uma realidade. Ano que vem, com a faculdade, os casais que seguirem em frente terão que lutar para estar juntos, conciliando seus estudos, trabalhos, namoros... Você acha que vai sobrar tempo para ficar reunindo essa rempa?

─ Não... ─ os olhos de Valéria marejaram de novo ─ Como você acha que vai ser essa vida, Davi?

─ Como assim, Val?

─ Outro dia, eu comecei a pensar no meu discurso, no que diria na formatura... E eu quero falar sobre o futuro, o nosso futuro. Mas eu fico pensando que futuro é esse, Davi. ─ ela brincou com os dedos do namorado sob a mesa ─ Será um futuro em que eu e você existimos juntos? Ou o Paulo e a Alicia? A Carmen e o Dan? Será um futuro em que nos vemos e falamos com frequência? Ou apenas nos mandamos uma publicação no Facebook nos aniversários e nos trombamos nos shoppings a cada seis meses.

CARROSSEL - Ano da FormaturaOnde histórias criam vida. Descubra agora