Capítulo 34

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Paulo estava em frente ao espelho do quarto, terminando de ajeitar o cabelo. Ouviu batidas na porta e se virou, encontrando o pai ali.

─ Posso entrar, filho?

─ Claro, pai... Está tudo bem? ─ perguntou o rapaz, voltando a se encarar no espelho.

─ Tudo, eu só... Queria conversar com você um pouco. ─ Roberto se aproximou, sem jeito.

─ Você está nervoso, isso não é normal. ─ comentou Paulo, parando para encará-lo ─ Aconteceu alguma coisa?

─ Hã... ─ Roberto sentou na cama, e Paulo sentou ao seu lado, preocupado ─ Eu queria te pedir desculpa, Paulo.

─ Pedir... Desculpa? ─ ele estranhou ─ Pelo quê?

─ Por tudo o que aconteceu enquanto você crescia. Todas as vezes que eu te bati, que eu gritei com você. Por não ter escutado tanto quanto deveria, não ter entendido a sua necessidade de chamar atenção. Você era tão pequeno quando a Marcelina nasceu, mal sabia andar. Sua mãe, coitada, se desdobrava em mil para cuidar de vocês, e sua irmã era tão frágil, precisava de tanta atenção, e você ia ficando de lado...

Paulo baixou os olhos, sem saber o que falar. Claro que hoje já entendia que o seu jeito extremamente encrenqueiro havia sido uma forma de buscar por atenção, mesmo que de forma entroncada. Só nunca havia imaginado que um dia seu pai também entenderia isso.

─ Sua mãe pediu para que nós procurássemos ajuda, várias vezes. Mas eu era muito orgulhoso; eu ainda sou muito orgulhoso. Homem não chora. Homem cuida da mulher. Homem não precisa de ajuda. ─ Roberto riu sem humor ─ Eu e a sua mãe quase nos divorciamos, quatro anos atrás.

─ Como é que é? ─ os olhos de Paulo quase saltaram do rosto.

─ Nós sempre brigamos muito, Paulo, pelo meu jeito e pela forma que eu te tratava. E sua mãe chegou ao limite, e para tentar consertar as coisas, nós fomos para a terapia. E isso abriu os meus olhos para tanta coisa. ─ o pai o encarou, emocionado ─ Eu apanhei muito do meu pai, o seu avô. Era a forma dele de cuidar, de educar. Eu queria ser melhor do que ele, mas não sabia ser de outro jeito. Eu afastei você e a sua irmã por tempo demais, e quando eu entendi isso, não sabia mais como trazer vocês para perto. Não vou negar que a pandemia ajudou um pouco nisso, ao nos trancar em casa... Me permitiu viver um pouco mais da vida de vocês de perto.

─ Eu não imaginava nada disso, pai.

─ Eu sei que não, filho. Eu não falo sobre os meus sentimentos, não sei como fazer isso. ─ Roberto segurou a mão dele ─ Eu só quero que você saiba que eu tenho muito orgulho de ver o homem que você está se tornando. A forma como você trata a Alicia, como o relacionamento de vocês têm respeito e cumplicidade, de uma forma que o meu e da sua mãe demorou muito para ter.

─ Vem aqui, pai. ─ Paulo o puxou para um abraço, sentindo o homem soluçar em seu ombro ─ Saiba que você fez o melhor que podia, dentro do que sabia. E ter buscado ajuda, mesmo depois de tanto tempo, foi um ato de coragem. Ainda temos tempo para acertar as coisas entre nós dois; e então, quando eu tiver os meus filhos, você terá tempo de acertar com eles. E eu também.

─ É só o que eu desejo, Paulo. ─ Roberto se afastou, os dois sorrindo ─ Estou te ouvindo atrás da porta, Lilian.

─ Você também, pirralha. Entre logo.

A porta se abriu, e Marcelina entrou puxando a mãe pela mão. A garota sentou no joelho do pai, enquanto Lilian sentava ao lado do filho, os quatro abraçados.

─ Que bom que nunca ficamos velhos demais para aprender nada. Principalmente para aprender como amar. ─ comentou Lilian, acariciando os cabelos do marido, que sorriu.

CARROSSEL - Ano da FormaturaOnde histórias criam vida. Descubra agora