Paulo estava em frente ao espelho do quarto, terminando de ajeitar o cabelo. Ouviu batidas na porta e se virou, encontrando o pai ali.
─ Posso entrar, filho?
─ Claro, pai... Está tudo bem? ─ perguntou o rapaz, voltando a se encarar no espelho.
─ Tudo, eu só... Queria conversar com você um pouco. ─ Roberto se aproximou, sem jeito.
─ Você está nervoso, isso não é normal. ─ comentou Paulo, parando para encará-lo ─ Aconteceu alguma coisa?
─ Hã... ─ Roberto sentou na cama, e Paulo sentou ao seu lado, preocupado ─ Eu queria te pedir desculpa, Paulo.
─ Pedir... Desculpa? ─ ele estranhou ─ Pelo quê?
─ Por tudo o que aconteceu enquanto você crescia. Todas as vezes que eu te bati, que eu gritei com você. Por não ter escutado tanto quanto deveria, não ter entendido a sua necessidade de chamar atenção. Você era tão pequeno quando a Marcelina nasceu, mal sabia andar. Sua mãe, coitada, se desdobrava em mil para cuidar de vocês, e sua irmã era tão frágil, precisava de tanta atenção, e você ia ficando de lado...
Paulo baixou os olhos, sem saber o que falar. Claro que hoje já entendia que o seu jeito extremamente encrenqueiro havia sido uma forma de buscar por atenção, mesmo que de forma entroncada. Só nunca havia imaginado que um dia seu pai também entenderia isso.
─ Sua mãe pediu para que nós procurássemos ajuda, várias vezes. Mas eu era muito orgulhoso; eu ainda sou muito orgulhoso. Homem não chora. Homem cuida da mulher. Homem não precisa de ajuda. ─ Roberto riu sem humor ─ Eu e a sua mãe quase nos divorciamos, quatro anos atrás.
─ Como é que é? ─ os olhos de Paulo quase saltaram do rosto.
─ Nós sempre brigamos muito, Paulo, pelo meu jeito e pela forma que eu te tratava. E sua mãe chegou ao limite, e para tentar consertar as coisas, nós fomos para a terapia. E isso abriu os meus olhos para tanta coisa. ─ o pai o encarou, emocionado ─ Eu apanhei muito do meu pai, o seu avô. Era a forma dele de cuidar, de educar. Eu queria ser melhor do que ele, mas não sabia ser de outro jeito. Eu afastei você e a sua irmã por tempo demais, e quando eu entendi isso, não sabia mais como trazer vocês para perto. Não vou negar que a pandemia ajudou um pouco nisso, ao nos trancar em casa... Me permitiu viver um pouco mais da vida de vocês de perto.
─ Eu não imaginava nada disso, pai.
─ Eu sei que não, filho. Eu não falo sobre os meus sentimentos, não sei como fazer isso. ─ Roberto segurou a mão dele ─ Eu só quero que você saiba que eu tenho muito orgulho de ver o homem que você está se tornando. A forma como você trata a Alicia, como o relacionamento de vocês têm respeito e cumplicidade, de uma forma que o meu e da sua mãe demorou muito para ter.
─ Vem aqui, pai. ─ Paulo o puxou para um abraço, sentindo o homem soluçar em seu ombro ─ Saiba que você fez o melhor que podia, dentro do que sabia. E ter buscado ajuda, mesmo depois de tanto tempo, foi um ato de coragem. Ainda temos tempo para acertar as coisas entre nós dois; e então, quando eu tiver os meus filhos, você terá tempo de acertar com eles. E eu também.
─ É só o que eu desejo, Paulo. ─ Roberto se afastou, os dois sorrindo ─ Estou te ouvindo atrás da porta, Lilian.
─ Você também, pirralha. Entre logo.
A porta se abriu, e Marcelina entrou puxando a mãe pela mão. A garota sentou no joelho do pai, enquanto Lilian sentava ao lado do filho, os quatro abraçados.
─ Que bom que nunca ficamos velhos demais para aprender nada. Principalmente para aprender como amar. ─ comentou Lilian, acariciando os cabelos do marido, que sorriu.
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CARROSSEL - Ano da Formatura
Novela JuvenilNós vimos eles se conhecerem. Nós vimos eles se tornarem Amigos. Nós vimos eles salvando um acampamento. Nós vimos eles salvando uns aos outros. Nós vimos eles se apaixonando. Agora, é chegada a hora de ver eles darem o último passo rumo ao resto de...