Epílogo

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27 de janeiro de 2042, segunda-feira

O mundo não era mais o mesmo. A rua também não. Entre altos e baixos de uma sociedade que vive em constante mudança, algumas coisas permaneciam quase intocadas pelo tempo. A Escola Mundial, um colégio que havia começado de forma modesta e hoje pegava um quarteirão inteiro, era uma dessas coisas.

O fluxo de pais e crianças era intenso naquele primeiro dia de aula, mas nada escapava dos olhos cansados, porém bem-treinados de Graça, aquela que muitos anos antes era uma modesta faxineira, e nos dias atuais era a chefe de todos os monitores da escola.

E foi com aqueles olhos que já viram muita coisa, que ela flagrou uma transgressão. E rindo, se colocou em frente à garota de 11 anos, que riu para ela.

─ Tu sabe que não pode entrar com esse skate na escola, frozinha. ─ disse em uma tentativa de seriedade.

─ E mesmo assim, ela vem com ele em todo o primeiro dia de aula, só para ser barrada. ─ o seu pai se aproximou ─ Puxou a mãe dela, sabe?

─ A mãe dela é tricampeã mundial de skate, a baixinha tem a quem puxar.

─ Nisso você está certa, Graça. ─ Alicia parou ao lado de Paulo, abraçando a filha ─ A Isis saiu igual a mamãe. E o Pietro, por outro lado, saiu atentado igual o pai.

─ É que os genes Guerra são formidáveis. Não é, filhão? ─ Paulo perguntou para o garotinho de oito anos que estava pendurado em suas costas.

─ Lembre disso quando forem chamados pela diretora pelas artes que o Guerrinha aí apronta. ─ Mário e Marcelina chegaram com os filhos naquele momento.

─ Oi dinda. ─ Vicente, o filho mais velho de dez anos, correu abraçar Alicia, todo manhoso e carente como era.

─ Olha, eu acho que todo o gene Guerra ficou no Pietro. Porque a Isis é um amor, o Vicente também... E a Mili, então, nem se fala. ─ Graça sorriu para a caçula dos Ayala, da idade do primo Pietro, que estava entre os pais, segurando as mãos deles.

─ Ela é a própria fofura, é verdade. Mas tem o gênio difícil da Marcelina.

─ Mário!

─ Vamos lembrar quantas vezes você saiu no braço com a Valéria? Da mesma forma que a Mili faz com quem contraria ela? ─ questionou o marido.

─ Os anos passam, e algumas coisas nunca mudam. Todo primeiro dia de aula, eu chego e encontro a sessão de esculacho aos irmãos Guerra. Não tem como não ficar feliz. ─ ouviram a voz de Jaime e já se viraram rindo ─ Podem rir do meu cabelo. Eu não ligo mais.

─ Mas eu ligo. Puta mico você me trazendo para a escola com esse cabelo. ─ Arthur, o filho de 14 anos de Jaime, reclamou ─ Então com todo o respeito aos meus tios e tias, eu to vazando.

─ Vai lá, aborrecente. Eu pego você e o seu irmão aqui na porta, no horário de sempre. Sem atrasar. ─ avisou o Palilo, vendo o filho sair correndo ─ Se você ficar assim quando crescer, Benjamin, deserdo você e ele.

─ É melhor vocês entrarem, que está uma bagunça aqui na entrada. ─ avisou Graça, espichando o pescoço para os lados.

─ Concordo, Graça. Mas antes... Vicente, Milena, as mochilas. ─ pediu Marcelina, causando estranhamento.

─ Por que, mamãe? ─ perguntou a garotinha.

─ Porque vocês também são iguais demais ao pai de vocês. E eu quero ter certeza de que não tem nenhum filhote de cachorro vindo escondido para a escola. De novo. ─ Marcelina conferiu a mochila dos filhos ─ Tudo certo. Podem ir com os primos de vocês.

CARROSSEL - Ano da FormaturaOnde histórias criam vida. Descubra agora