Desde muito nova, Sophie Beckett acreditava que devia ter alguma coisa bem errada com ela.
Sua mãe havia morrido no parto, portanto nunca chegou a conhecê-la, e seu pai... Bom, ele simplesmente ignorava que ela existia na maior parte do tempo. Moravam na mesma casa, mas ele era um homem muito ocupado, sempre dizendo o quanto a exportação das flores da floricultura da família tinha crescido por causa de seu trabalho duro e que não tinha tempo para ela por causa disso.
— Mas olha, te comprei mais uma boneca. - ele dizia, com um sorriso cheio de dentes.
Ela apenas forçava um sorriso e um agradecimento e ia para o seu quarto, onde a boneca logo se juntava a várias outras bonecas completamente iguais, da cor dos cabelos, passando pelo vestido e chegando até os sapatos. A essa altura, no auge dos seus sete anos, ela já tinha desistido de tirá-las da embalagem. No final do ano, as recolheria e daria para o natal beneficente para as crianças da cidade.
— Eu não preciso de tantas bonecas. - ela dizia à Jacqueline, sua babá. - Com certeza, as meninas da cidade vão gostar mais que eu.
Mesmo quando muito mais nova, ela era gentil e generosa, e qualquer um que passasse uma hora na presença dela saberia disso, mas essa era apenas uma das muitas coisas que Richard Beckett não sabia sobre a filha. Outra coisa é que Sophie era muito observadora. Percebia que o pai voltava para casa depois do trabalho, jantava cedo com ela e depois se despedia, dizendo que precisava passar a noite no escritório, trabalhando. Entretanto, ela via quando ele saía de casa novamente, cerca de 20 minutos depois da hora que acreditava que ela tinha ido dormir.
Sophie não se incomodava com ele passar a noite fora, não de verdade, mas ele podia ao menos não fingir que passaria a noite trabalhando. Se ele arranjava tempo para sair à noite praticamente todos os dias, definitivamente poderia arranjar tempo para montar um quebra cabeça com ela depois do jantar, não é?
— Não. - ele respondia sempre que ela perguntava.
— Mas vai ser rápido, papai.
— Eu preciso trabalhar, docinho.
Depois de ter ouvido a mesma coisa pelo que parecia ser a milésima vez, Sophie simplesmente desistiu. Se ele fosse um pai melhor, provavelmente teria percebido que ela tinha desistido de tentar e feito um esforço para arranjar algum tempo para fazer isso com a filha, mas não era.
Cerca de um ano depois disso, Richard se casou. Sophie não entendia como ele não tinha tempo para ao menos perguntar como ela estava se saindo na escola, mas tinha arranjado tempo para encontrar uma esposa.
E tudo tinha sido de uma forma meio abrupta. Um dia, ele levou essa mulher e suas duas filhas para jantar com eles e, depois de uma hora com poucas palavras trocadas, anunciaram que iriam se casar dentro de três meses.
Sophie ficou encantada com a ideia de ter uma mãe e duas irmãs. Finalmente teria alguma companhia de verdade e teria alguém para brincar com ela. Imaginou que eles morariam na casa Pennwood, onde ela vivia com o pai, e que ela e suas novas irmãs Posy e Rosamund poderiam brincar no quintal (bem longe da plantação de lírios, claro).
Entretanto, suas ideias logo foram frustradas.
Araminta, sua madrasta, trabalhava em Londres e, de acordo com ela, simplesmente não fazia sentido que eles morassem no campo quando tanto ela quanto Richard trabalhavam na cidade. Assim, aos oito anos, a vida de Sophie virou de cabeça para baixo: saiu da casa que tanto amava e se mudou para uma cidade barulhenta e completamente estranha, onde não conhecia ninguém.
Ela conhecia as meninas (suas novas irmãs), claro, mas sabia que apenas uma delas a acolheria. Apesar de serem gêmeas, eram diferentes em todos os aspectos. Rosamund poderia ser uma modelo, loira, magra, linda e com um sorriso que dizia que tinha nascido para as câmeras mesmo aos 8 anos, a réplica fiel da mãe, enquanto Posy era gordinha e tinha os cabelos e olhos castanhos, parecidos com os do pai, e comuns demais para que a mãe se importasse.
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She • AU Benophie
FanfictionSophie Beckett era uma espiã. Ou agente secreta do MI6, como preferir. Podia ter querido um outro caminho tempos antes, mas não mais. Aquilo era o que ela tinha nascido para fazer e sua vida era aquele trabalho. Até que, enquanto estava envolvida...