Consumido pela descarga de adrenalina no sangue, Sammy ignora a dor no ombro apunhalado e a friaca que estapeia seu rosto e esvoaça seus cabelos oleosos. Está focado em Félix, que corre disparado pela neblina fria desviando das silhuetas animalescas que tentam agarra-lo. Os errantes passam como vultos.
Félix vira a esquina e Sammy abre o estômago da Sra. Zumbi com o facão - os órgãos caem - e escorrega no pavimento úmido. Ele grunhe, mas logo se levanta, ignorando a pontada no ombro. Félix não está mais a vista.
Sammy brecou deslizando as solas no asfalto. Parou no meio do semáforo. Girou em 360° à procura do fugitivo na cortina enorme da neblina. Os grunhidos dos mortos são trazidos pelo vento que uiva forte em seus ouvidos. O sangue continua quente, a nuca lateja e o peito arfa frenético.
Um estalo soa.
Empunha a faca.
Alguém vem atrás.
Sammy vira de supetão.
– SOU EU! - parou o braço.
Sammy reconhece o rosto espantado de Joe. Puxa o braço com tudo.
– Deixou elas? - resmunga ofegando.
– Você não podia vir sozinho.
– Eu sei me virar.
– É? Cadê ele? - olha em volta.
O coro de grunhidos cresce no silêncio.
– Vambora daqui.
Eles correm dali.
Através da vitrine desbotada, um Félix consumido pela escuridão suspira em alívio.
(...)
A dupla chega ofegante na frente da lanchonete.
Joe breca.
– Espera.
– O quê?
A porta de entrada abre e fecha com o vento: PAM. PAM. PAM. PAM.
Eles prontificam as armas. Joseph vai direto para os fundos do estabelecimento. Sammy sobe calmo os dois degraus e segura a maçaneta; a porta para de bater. Ele e Joe abrem as saídas em sincronia e entram como verdadeiros policiais numa vistoria.
O cenário é caótico: mesas reviradas, panelas e projéteis espalhados no piso quadrilhado.
Russel vê algo sob uma das mesas ainda intacta, vai até ela e puxa com o pé o skate de lixa arranhada.
– Sam. - Joe chama.
O rapaz arranca a máscara de sorriso arqueado do varal de pedidos. Lê a mensagem e vira o interior da máscara para Sammy.
TÁ
COM
VOCÊDizia a frase feita a caneta vermelha.
Um chiado ecoa.
Eles olham para o leste do estabelecimento. Há um rádio de pé no centro da mesa grudada a janela fosca e úmida.
– Alô?
Eles se encaram.
– Eu sei que estão ouvindo. Pegue o walkie-talkie, Usain Bolt.
Sammy marcha até lá, apanha o aparelho com ódio.
– Onde eles estão?
– Terá que seguir as regras se quise-los de volta. Meu número é alto.
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After The World (PAUSADO)
HorrorO mundo se transforma no caos de uma hora para a outra. Vidas são transformadas, laços são criados entre pessoas que passam a precisar uma das outras para sobreviver. Interesses pessoais podem ser colocados sobre o coletivo, assim como o medo de lid...