T5 C1: Fragmentados.

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As últimas quatro semanas foram as mais difíceis desde que tudo começou. A escassez de alimentos, a falta de um teto, o inverno rigoroso e o clima de tristeza eram a realidade para o grupo.

Passaram a maior parte do tempo na estrada, mas o combustível estava prestes a terminar e o abrigo naquela noite seria o bar Moe's. No interior do estabelecimento os sobreviventes estavam espalhados pelo salão. O sangue do morto que ceifaram na entrada ainda pintava o assoalho.

Carter estava parada em frente ao balcão, analisava os sete enlatados restantes para serem divididos entre as dezoito pessoas. Alguns fora da validade, outros amassados, mas era o que tinham. Nadine se aproximou silenciosamente e brecou ao lado da tenente.

– É o melhor que temos. - Nadine diz, fitando os poucos suprimentos. – Não conseguiremos sair para buscar mais com as estradas bloqueadas pela neve e nem se quiséssemos ir longe seria possível.

– Eles estão cansados. - Carter comenta após uma breve observada nos demais. – Não vamos sair.

Hannah estava de pé ao lado da janela. O reflexo da lua refletia no vidro embaçado e iluminava precariamente o ambiente. Os pensamentos da jovem estavam distantes. Não conseguia pensar em nada concreto devido ao cansaço, a fome e o desânimo.

– Por que ficar tão distante?

Ela virou na direção da voz. Era Antony. O rapaz estava com as mãos atrás das costas e esperava por uma resposta. Hannah quase revirou os olhos, mas conseguiu manter o controle.

– Pensei que todos aqui fossem maduros o suficiente para saber respeitar o espaço de cada um. - diz, agora de braços cruzados e o olhar sobre seu interlocutor.

– Estamos nesse clima de velório há um mês... - Antony iniciou, mas desistiu de prosseguir assim que notou o olhar fumegante de Hannah. – Desculpe. Eu sei que é foda, mas...

– Por que não fica no seu canto? - Hannah indaga sem esconder sua repulsa. – Se não tem nada a dizer, nada a fazer, é o melhor. Não vai atrapalhar e nem fazer com que te odeiem.

– Eu só acho que esse não é um momento que deveriamos nos distanciar uns dos outros. - Antony se aproxima lentamente. – Porra, depois de tudo que passamos, quanto tempo ainda nos resta?

A pergunta fez Hannah refletir. Realmente, naquela situação, depois de tudo, quanto tempo ainda durariam sobrevivendo daquela maneira? Dias? Semanas? Meses?

– Deveriamos aproveitar. - Antony tocou a cintura de Hannah, estava com um sorriso estampado no rosto.

A garota não hesitou. Sua mão agarrou o pulso de Antony e o segurou com firmeza. Ele gemeu com o toque gelado e em seguida trincou os dentes ao sentir as unhas pressioando sua pele e a dor começando se manifestar.

– Eu não quero saber o que você pensa ou acha e nem te dei permissão para me tocar. - balbuciou as palavras externando toda a raiva que estava sentido em seu tom de voz baixo, porém carregado. Seus olhos faíscavam e estavam fixos no sujeito assustado. – Some da minha frente.

Antony puxou o braço. As unhas ficaram marcadas em seu pulso e a ardência dominou a região. Ele encarou Hannah e recuou lentamente até se virar por completo e se afastar. Já ela, respirou fundo e encostou a testa na janela. Em uma situação normal, certamente teria reagido de outra maneira, mas a sobrecarga de estresse contribuiu para a reação tão agressiva que tivera.

Sentados em uma das poucas mesas ainda inteiras, Elliot e Hayley estavam em silêncio. A menina desenhava círculos com dedo indicador na mesa empoeirada. Elliot observava atento os movimentos.

After The World (PAUSADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora