BELMONT RD 505
30 KMSobre esta placa verde musgo estava o corvo atrelado com suas garrafas no metálico desbotado. A estrada sul para fora da cidade de Seattle tinha um clima soberbo, o monte cinza do céu preenchia a paisagem como um retrato na tortuosa região cercada por pastos.
O sol estava fraco, mas ainda serviu para aquecer a tímida crosta do cerebelo rosado do careca de veludo. Agora o morto-vivo esticava os braços pálidos com unhas grossas e amareladas na direção do corvo sossegado. A ave bateu as asas e alçou vôo para o horizonte, mudando a rota do Careca de Veludo que investiu num salto com os calcanhares, para alcançá-lo.
À oito metros da placa se encontrava um caminhão de mudança parado no acostamento quebrado. O trinco soou num agudo muito bem escutado pelos ouvidos do faminto próximo. O portão do reboque levantou, permitindo que o alvorecer despertasse os presentes na escuridão.
O sol veio direto nos olhos da loira de cabelos ressecados e na altura do peito. Sloan bloqueou a luz com a mão enluvada de couro e sem dedos, baixou o olhar na direção do careca que já abria a boca com seu rosnar habitual. Ele apertou o passo para que então fosse recepcionado com um chute da bota bem no queixo. Os dentes trincaram e o corpo baqueou no asfalto. O Careca de Veludo ergueu a cabeça e rosnou de novo. Ele foi calado quando cabo de vassoura com a ponta de uma lâmina afiada – presa a dez camadas de fita isolante – atravessou seu crânio. Sloan retirou a arma branca e a livrou dos respingos com algumas sacudidas.
Atrás da loira, o reboque era esvaziado em fileira: Sammy saiu primeiro, logo dirigindo-se ao gramado para mijar. Hannah e Mark saíram juntos, um de cada lado. Elliot deu um salto para fora; Gui e Hank saíram em seguida, um bocejando e outro coçando o couro cabeludo.
Mark dirigiu-se para frente do utilitário e bateu três vezes no vidro do motorista. Mike e Carter despertaram no painel. Uma indicação de cabeça vinda de Mark foi o suficiente para o policial compreender a saída.
Em questão de minutos a trupe recolheu seus pertences. Hannah ainda pegou um isqueiro no veludo do cadáver e apertou o passo para acompanhá-los mais a frente. Juntos seguiram pelo horizonte, sem falar nada.
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Sloan fez um risco na caderneta rabiscada. A cicatriz em seu pulso, feita em algum momento não recordado por ela nas rondas, era coberta pela manga da blusa azul xadrez, onde uma camiseta preta escondia-se sob o tecido. A calça cinza de barras dobradas era maior que quem a usava, mas servia de algo, tendo um bolso fundo para guardar as anotações.
– O que é isto? - indaga Mark, curioso.
Ela o vê espiando a folha com a testa franzida.
– Meu calendário. 187 dias. Antes eu fazia no sarcófago do faraó lá no museu. Ficava legal. - deu um sorriso fechado.
– Parece que não é só isso. - nota os rabiscos.
– Só testando a ponta.
Mark deu um sorriso breve, guardando a canhota no bolso da calça. O mesmo usava uma social cinza abotoado com as mangas arregaçadas e um jeans preto rasgado no joelho direito. Alguns fios cresciam em seu queixo, mas quase imperceptíveis como se estivessem nascendo pela primeira vez.
Atrás da dupla se encontrava Hannah. Também com os cabelos longos que a fez adotar o uso de um boné dos Patriots. Ao seu lado estava Elliot e assim como todos, magro em comparação aos primeiros dias. Ele carregava uma mochila quase vazia, em seu cinto havia uma faca pequena enquanto a destra carregava uma 9mm. Pesada em suas mãos pequenas.
A falta de comida tinha se tornado rotina nas últimas semanas. Viveram de enlatados vencidos, só água nos dias de azar e nos de sorte, um pacote de feijão. Até a moradia estava sendo um problema, quando achavam que estavam bem vinham andarilhos ou até mesmos pessoas. Era o que procuravam se manterem distantes. Certo dia Elliot substituía Hank na vigia noturna por alguns minutos e o menino então viu um comboio de dez ou mais veículos com brutamontes armados até os dentes. Ao contar para os demais, o alerta passou a ser mais precioso do que antes, mesmo sido um ocorrido de oito semanas atrás.
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After The World (PAUSADO)
HororO mundo se transforma no caos de uma hora para a outra. Vidas são transformadas, laços são criados entre pessoas que passam a precisar uma das outras para sobreviver. Interesses pessoais podem ser colocados sobre o coletivo, assim como o medo de lid...