T6 C5: Sacrifício.

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3 MESES ANTES.

Faltava pouco para o nascer do sol e o farol da moto iluminava precariamente uma das várias estradas de terra que cortavam a zona rural. O piloto levantou a viseira do capacete para enxergar melhor; sua acompanhante na garupa já havia feito o mesmo minutos antes. Os focos de incêndio em uma fazenda atentaram a dupla e à medida que se aproximaram foi possível visualizar as dezenas de errantes espalhados pela propriedade.

O farol foi apagado a fim de não atrair a atenção das criaturas que perambulavam sem destino. A moto brecou, o motor foi desligado e o descanso acionado. O piloto desceu tirando o capacete e sentiu a brisa gélida do amanhecer contra seu rosto. O cheiro da vegetação queimada não demorou a invadir suas narinas.

A mulher na garupa se desfez do seu capacete e pendurou no guidão da motocicleta. Coletou a mochila na pequena caçamba presa a moto e os dois empunharam os facões. Caminharam em meio aos zumbis e abateram os que se aproximavam muito. Tinham o trabalho de desviar dos corpos dilacerados no chão. Seguindo a frente, ele esquadrinhou o ambiente girando o corpo lentamente em 360°.

A casa no centro estava crivada de balas, assim como a caixa d'água e o celeiro à 150 metros da residência. O que sobrara do milharal murchou devido a fumaça. O cenário ainda era composto pelo que havia restado do que parecia ser um caminhão tanque com a lataria carbonizada e uma picape tombada do outro lado.

- O bicho pegou por aqui. - a mulher comentou.

- É. - o homem concordou agachando para recolher uma pistola. Passou a arma para a companheira e ela guardou na mochila.

- Acha que vamos encontrar alguma coisa aqui? - perguntou diante do repentino interesse dele.

- Se procurarmos direitinho, sim.

Aproximaram-se do celeiro e ao entrar viram três zumbis se alimentando de uma égua. Silenciosamente, mataram o trio de perambulantes e pararam para encarar um ao outro.

- Quer continuar vasculhando? Estamos andando sobre um cemitério aqui. - a mulher disse passando a mão pelo cabelo curto.

- Eu sei. - ele bufou. - Se tivéssemos chegado um dia antes, talvez conseguíssemos mais pessoas. Isso parece ter acontecido há poucas horas.

- Ou encrenca. Rolou algo pesado.

Ele assente. Retornam para a moto e deixam o lugar em ruínas.

(...)

- Jasper?

- Sim? - ele fita rapidamente a garupa através do retrovisor.

- Tem certeza que é uma boa ideia ficar depois que tudo estiver feito?

- Se eu sumir logo depois de você e seu pessoal ele vai desconfiar, Nádia.

- Eu não sei. É muito arris...

A fala foi interrompida pelo zigue-zague que foram obrigados a fazer para desviar dos zumbis na estrada. Quando ela retomaria o diálogo, os freios da moto trabalharam fazendo a poeira subir do pneu traseiro. Jasper apoiou o pé esquerdo no solo e se atentou a figura aos trapos que caminhava na direção deles com a única mão estendida.

Desceram do veículo e Nádia puxou o facão da bainha. O morto caiu antes de alcança-los. Jasper se aproximou e fitou a perna direita aparentemente quebrada e não deixou de notar a ausência da mão esquerda.

- Esse tá feio. - Nádia ergueu o facão.

A lâmina cortou o ar na descida, mas parou na metade do caminho ao escutarem as palavras do indivíduo que acreditavam estar morto:

After The World (PAUSADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora