T2 C5: Terreno de Sangue.

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Parte da luz do corredor invadiu o quarto escuro pela fresta aberta vagarosamente, o feixe claro foi direto nas pálpebras caídas de Sammy, que respirava fundo a cada ronco elevando e descendo o livro sobre seu peito.

Sammy teve seu sono interrompido assim que seus ouvidos registraram o rosnar típico dos desmortos, bem próximo a ele. Ao acordar, arregalou os olhos na sombra alta na escuridão, cambaleando na direção da cama com a cabeça erguida e a boca a aberta. Sammy apanhou a faca na escrivaninha do lado em questão de segundos e ao mesmo tempo, o desfalecido caiu no chão. Ele ouviu a criatura rolar até o pé da cama e se levantar bem na frente da entrada de luz noturna da janela adjacente. Jackson se revelou na claridade como um mágico se apresentando no palco com os holofotes em si, as mãos abertas e o sorriso no rosto.

– SURPRESA! Te assustei? Aposto que sim.

Sammy baixou a mão com a faca, franzindo o cenho e voltando as costas para a cama.

– Que porra você tá fazendo aqui?

– Eu só vim dar oi. - encosta as mãos no pé da cama. – Esse lugar parece ter ficado mais calmo.

– Vai embora, antes que...

– Você me mate? Ou outro alguém faça? - aponta para a porta. – Não. Eu tô bem, cara. Na verdade, muito melhor. Sabe, o tempo que eu fiquei lá fora eu pude compreender as coisas, entende? É tudo diferente.

– Do que tá falando?

– Você fica sozinho. - diz olhando para o nada. – Daí passa a observar os mortos. O mais curioso é que eles não olham pra nada, ficam fixos no céu. - sorri. – Eles comem, mas o sangue esfria e eles meio que perdem o interesse. Então você volta e continua o ciclo. Não muito diferente de nós. Usamos o que é útil e quando não mais, descartamos. - umedece os lábios. – Assim como você fez com a Merna.

– Eu não fiz nada com ela. Foi você. Aceite isso e vai se recuperar logo.

– Tem razão. Eu devia aceitar.

Jackson puxou sua G23 em segundos e disparou contra Sammy. A bala penetrou seu peito e ele bateu de cabeça na cama com o impulso da pólvora, deixando rastros de seu sangue pelo ar.

A colisão de sua cabeça não doeu, muito menos o disparo. Na verdade, Sammy acordou bruscamente sentindo a nuca estremecer no travesseiro do colchão. Ele se pegou respirando rápido e suando feito porco. Ele passou a mão no rosto, sentou-se e percebeu estar sozinho no quarto cheio de colchões.

– Filho da puta. - olha para o peito, afim de garantir que está bem.

Três dias se passaram após o incidente que deixou o lugar mais soturno e incrivelmente vazio. Não havia a mesma empolgação de antes, nem o vai e vem dos cuidadores. Nadine raramente saia de seu escritório, vista como um fantasma pelos corredores em horários aleatórios.

Naquela manhã, três dos cuidadores encontravam-se no quarto 22 a ronda da cama onde Tommy Soprano lutava para manter o ar rítmico.

Carter entrou no quarto com mais um respirador reserva, depositando-o na mesinha próxima e voltando seus olhos para Eva, Megan e Hutchinson.

– Jesse e os outros já saíram. - avisa ela. Eles assentiram. – Enquanto a Nadine?

– Ela não atendeu a porta. - diz Eva de braços cruzados parada no pé da cama. – Ele não pode ficar assim.

– Eu sei. Posso tentar falar com ela.

– Não me leve a mal, mulher, mas se nem mesmo Eva conseguiu, quem dera você. - comenta Hutchinson, encostado a janela e com as mãos escondidas nos bolsos.

After The World (PAUSADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora