36. W I L L

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Decisões são sempre a parte difícil do meu dia. Como músico, eu ainda tenho pessoas a quem eu possa indicar esse fardo. Posso dizer para escolherem por mim a foto do novo álbum da banda, posso apenas fazer uma ligação para não ter que passar horas escolhendo a melhor roupa do meu armário, posso deixar nas mãos dos meninos os acordes que mais se adequarão á batida da nova música... Enfim, eu posso deixar que decidam por mim em muitas coisas, isso é comum na vida artística, social ou profissional de qualquer um, mas, pessoalmente, as coisas mudam de lugar.
Quando é você e a vida, ninguém pode tomar decisões por você. Não podem decidir o que você vai sentir, não podem decidir o que você vai seguir, não podem ditar qual é a melhor maneira de viver.
As decisões que mais pesam na vida devem ser tomadas por você mesmo, afinal de contas, se algo não der certo, você terá a culpa inteirinha disso.

O ápice de decisões talvez não comece na vida adulta, ele se estende por toda a adolescência. Quando você precisa decidir com que grupo de amigos vai andar, se prefere o lápis de madeira ou aquele mais flácido, decidir como vai se vestir, o que te faz sentir bem, a estampa do seu caderno novo, se vai acreditar que o lado azul da borracha de duas cores apaga mesmo a tinta da caneta... Porém, isso não pesa tanto na adolescência, porquê, a maioria das decisões da adolescência se restringem á adolescência, embora algumas ainda ecoem pela vida adulta.
Decisões são sempre incógnitas para mim, porém, eu havia nascido decidido ou teimoso demais.
Naquela noite quando decidi viajar oito horas para um lugar do qual eu só ouvira falar algumas vezes, foi uma grande decisão para mim.
Minha tia estava por um lado preocupada com minha partida repentina, mas, por outro, feliz por eu ter tomado uma decisão.

_ Coloque luvas quando descer do avião_ minha tia ordenou ajeitando pela milésima vez o meu cachecol vermelho_ não se esqueça disso, o inverno em Wisconsin é um dos mais congelantes...

_ Tia..._ interpelei tentando afrouxar o cachecol que me afogava, o que chamou a atenção dos olhos preocupados da mulher a minha frente_ eu vou tomar cuidado, está bem? Eu juro! Além do mais, eu não vou passar férias lá, vou buscar a mulher da minha vida.

_ Gosto de te ver decidido assim. Já estava na hora_ minha tia depositou um beijo no meu rosto e eu me inclinei no balcão já cansado da espera_ mas, Will, prometa que não vai forçá-la a nada. Vai deixar ela decidir e vai pedir desculpa.

_ Já está tudo ensaiado bem aqui_ apontei para a cabeça sorrindo_ e, eu sei que a Sam vai voltar, eu errei com ela, falei bobagens, deixei o medo me atingir, mas, ela sabe, ela sabe...

_ Há quantas horas que estamos aqui em pé?_ minha tia perguntou e eu encarei o relógio prateado no meu pulso.

_ Há quase duas horas_ sorri e minha tia me puxou para um banco enquanto a moça do balcão remarcava alguma coisa que, até aquele momento, não havíamos entendido. Para custar tanto, eu imaginei que fossem oferecer algo mais ágil do que um "espere um momento, senhor."
A assessoria tinha me cedido o jatinho da banda, mas precisávamos de permissão para poder entrar no espaço aéreo entre Londres e Wisconsin, e eles ainda estavam tentando resolver alguma coisa, enfrentamos um pouco de burocracia, o que só piorou a situação, levando em conta que já eram onze da noite quando chegamos.

_ Escute_ minha tia chamou minha atenção pondo sua mão sobre a minha quando já havíamos sentado em uma das muitas cadeiras do terminal que, por aquele horário, já não estavam tão cheias_ a Sam é uma garota incrível e magicamente linda por dentro e por fora, mas, você também precisa entender que as coisas não dependem dela...

_ Eu sei_ suspirei_ dependem de mim.

_ Não, não estou falando de você_ fitei a linha tia perplexo esperando a sua continuação_ Will, será que você não percebe que há um propósito maior pra tudo isso? A Samantha não veio aqui por acaso, ela foi mandada.

The Beautiful ThingsOnde histórias criam vida. Descubra agora