41. S A M

657 90 41
                                    

Em algum momento da minha vida eu disse que as coisas sempre davam um jeito de voltarem a serem o que eram antes, e bom, isso ainda continua sendo verdade. As coisas sempre dão um jeito de voltarem a serem o que eram antes, justamente para que possamos ver o que verdadeiramente era importante, o que verdadeiramente valia a pena. Muitas das vezes precisamos perder para ganhar, quando perdemos, aprendemos a valorizar, e na vida, só permanece aquilo que é cultivado. Na maioria das vezes não regamos aquilo que mais amamos, por isso precisamos perder para que tenhamos a noção de que as belas coisas devem ser regadas todos os dias, para que não venhamos abrir os olhos quando for tarde demais a ponto de não conseguirmos recuperar o tempo perdido.

Jhonny entrou na faculdade de arquitetura e cursa pela tarde, o horário em que eu não estava na minha faculdade e podia cuidar livremente de Lou.
Agora a pequena estava grandinha, com seus oito meses de vida ela já nos direcionava um sorriso banguela com duas pontas de dentinhos, denunciando que mais tarde teríamos um pouco de choradeira quando eles começassem a nascer.
Enquanto Will perambulava de um lado para o outro na cozinha, Lou e eu estávamos no sofá da sala dos Cooper's assistindo desenhos, ou melhor, tentando, já que Will se revezava entre o fogão e fazer papel de palhaço na frente da TV arrancando risadas da Lou, que inclusive, eram mais explosivas do que as minhas.

_ Agora saia da frente da TV, seu bobo!_ o adverti depois de me recuperar de uma crise de risos_ A Lou e eu queremos terminar de ver o desenho e estamos com fome, acho bom você terminar seja lá o que estiver fazendo na cozinha!

_ Você está com inveja porquê eu sei imitar o Pato Donald perfeitamente!_ Will me encarou sério apontando a espátula em uma de suas mãos em minha direção. Seu braço não estava mais engessado.

_ Ah, é claro. Estou morrendo de inveja do seu incrível talento!_ retruquei lhe lançando uma das almofadas do sofá o fazendo correr para a cozinha e Lou, que estava no meu colo, explodir em mais uma daquelas gargalhadas contagiantes de criança.

O toque do meu celular no bolso da jardineira jeans fez Lou parar de sorrir e me encarar atentamente atender a ligação, era a minha mãe.

_ Oi, mãe!_ falei após levar o celular até o ouvido.

Deixei Lou no grande tapete felpudo da sala e comecei a falar com mamãe andando de um lado para o outro enquanto contava os acontecimentos dos meses anteriores que não pude contar por ligação, já que o sinal em Wisconsin estava péssimo de novo. Contei, inclusive, sobre o acidente da Scarlett e a minha conversa com ela dias antes. Aquela conversa que tivemos não rendeu em absolutamente nada, Scarlett era uma mulher superficial que não gostava de ser contrariada, e muito menos aceitar que estava errada em algo. Saber que tudo o que ela fizera para Will era fruto de uma inveja absurda me deixava indignada. Mas, de qualquer forma eu agradecia à Deus por Will a ter perdoado, por não carregar aquilo que não pertencia a ele.

_ Sim, mãe. O Will está bem_ repeti pela terceira vez para a mulher que se preocupava de uma forma tamanha com o estado do meu namorado_ Ele está na cozinha, fazendo algo para mim e para a Lou comermos.

_Você deixou o Will cozinhar com o braço quebrado? Eu não posso acreditar!_ eu conseguia ver minha mãe passar a mão pelo cabelo.

_ O Will quebrou apenas um braço, mãe, é só um braço. E ele já tirou o gesso_ sacudi de um lado para o outro um ursinho de pelúcia da Lou tentando fazer com que aquilo parecesse um pouco normal, mas não era só um braço, era um braço quebrado e aquilo, de certa forma, era grave.

_ Irei fingir que não ouvi você dizer que é um braço_ sorri do seu comentário enquanto andava em direção a Lou parando bem ao seu lado, a garotinha me ouvia atentamente me encarando com aqueles olhos verdes grandes.

The Beautiful ThingsOnde histórias criam vida. Descubra agora