4. W I L L

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Eu havia chegado em casa distraído.
A conversa com os meninos fora proveitosa. O grande problema era: como conseguir um grande índice de inovação e como galardoar isso sozinhos sem nenhuma ajuda.

Eu estava tão absorto em meus pensamentos que só fui despertado pela porta batendo. Tia May odiava quando eu fazia isso. Direcionei meu olhar da porta para casa em busca da minha tia, mas só encontrei Samantha. Tinha derramado suco sobre o sofá. Nem sei como e nem porquê. Ela encarava o local onde o suco caíra como se tivesse acabado de ativar o TIMER de uma bomba.

_ Limpa isso agora_ foi o que saiu seco e rudemente de mim. Foi péssimo, e pela primeira vez na vida me arrependi quando os olhos de Samantha viraram-se para mim. Corri rapidamente para o quarto. Eu precisava compôr a droga da música. Sentei de frente para a janela.

Risquei uma primeira linha com o seguinte verso:

"Ela é linda demais
Ela é ela sendo ela
Com o jeito dela
Com o sorriso dela
E o brilho dela..."

Imaginei a Samantha nesse primeiro verso. Ela sorrindo com seu jeito distraído, e...

Porquê, raios, eu estava pensando naquela linguaruda?!

Peguei o papel e o amassei sem dó nem piedade. Seja lá o que fora aquilo, não iria se repetir. Eu tinha uma pequena queda por mulheres, isso era notável. Talvez eu estivesse sentindo isso porquê, recentemente terminei com Suzan, a irmã de Jhonny- que, pra minha derrota nunca aceitou o término do namoro que não durou mais que uns três anos - e decidi por me focar na música, sem mais nenhuma mulher na minha vida além de Tia May, e minha mãe, que ocupava meus pensamentos todas as noites, é claro. Balancei a cabeça quando o celular avisou a chegada de uma nova mensagem da minha linda tia informando que havia deixado meu PRESENTE na porta da geladeira, uma lista de tarefas pra cumprir antes de sua chegada. E a ideia de me livrar daquelas tarefas me veio a mente como um tsunami incontido. E não pude deixar de obrigá-la. Na verdade, implorei, porquê, Samantha acha que eu quero escravizá-la, e vai contra tudo que eu falo. Ainda está ressentida com a história do bolo. Ela também era muito rancorosa.

Quando ela pegou a mangueira eu não pude resistir, eu desenhei ela. De uma forma, horrível? Sim, mas eu desenhei ela, a Samantha. Era uma caricatura qualquer que iria para uma de minhas muitas pastas se a Samantha fosse uma pessoa normal. Sorri para a caricatura vendo o quanto o sorriso dela ficou parecido, mesmo que, ao regar as plantas, Samantha tenha ficado emburrada maior parte do tempo, sorrindo apenas para algumas rosas vermelhas no canto da cerca. Mas quando ela me molhou, foi, literalmente um balde de água fria - na verdade, uma enxurrada de água fria da mangueira - ali eu percebi que tinha alguma coisa errada. Eu me amaldiçoei por tê-la pedido ajuda. Por ter sido incumbido por mim mesmo a atormentá-la. Ela não valia meu tempo. Quando cheguei no quarto as palavras dela rodavam minha mente como uma montanha russa desgovernada.

O que eu disse fora por pura implicância. Gostava de vê-la vermelha de raiva. E em uma parte...talvez eu tenha sido grosso e muito sincero.

_ Tem razão, Will, nunca poderemos ser amigos. Eu sou incrivelmente gentil e legal, já você é demasiadamente mal educado e preguiçoso, ou seja, eu tenho muitos passageiros para o seu aviãozinho de dois meros motores...bem, eu vou te dar um impulso para arejar sua mente, limpar sua alma e você poder alsar vôo.

O que me irritou não foi só o jato de água na minha cara, foram aquelas palavras. Caramba, eu estava acostumado a ter quem eu quisesse. Nenhuma garota ousou dizer que era ocupação demais para meu aviãozinho.
Eu não me importaria por ninguém ter dito isso, mas ela? Que direito, intimidade ou permissão eu havia a dado? E quando?

Talvez nós nunca pudéssemos mesmo ser amigos. Samantha estava fazendo com que eu me desse mal. Talvez aquilo fosse só orgulho ferido. Era isso, orgulho ferido. Orgulho!

The Beautiful ThingsOnde histórias criam vida. Descubra agora