14. W I L L

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_ Foi mau, cara..._ Jhonny se desculpou ressentido me observando puxar o casaco escuro de suas mãos.

_ Não foi mau, Jhonny. Foi péssimo_ interpelei sobre o ar analítico de Richard e Peter que, nos conhecendo bem, optaram pelo silêncio.

Meu coração acelerado demonstrava como eu estava irritado, além de ser ainda um resquício da minha recente corrida para alcançar Samantha.

_ Eu achei que seria uma boa ideia_ meu amigo se defendeu.

_ Pois você achou errado, Jhonata!_ esbravejei impaciente pondo, no casaco, o último braço livre antes de o encarar novamente_ Você mesmo disse que ela era diferente. No entanto, nos colocou nessa situação.

_ A culpa não é minha. Você poderia muito bem ter dito não_ vi Jhonny perder a calma que sustentava minutos atrás. O rosto avermelhado, demonstrava claramente o poder destrutivo das minhas acusações_ Só estou tentando ajudar porquê sei que você é um travado.

_ Ah! Ótimo! Agora eu preciso de você para tudo porquê, segundo você, eu não tenho capacidade para fazer nada sozinho!

_ Ah, por favor! Você é um covarde, Will. Eu tentei ajudar, porque eu sei, melhor do que ninguém, que você nunca teria coragem de se aproximar o suficiente de Samantha.

Encarei profundamente o rosto dele fechando os punhos. Richard percebeu que a discussão tomaria caminhos mais drásticos e se aproximou afim de acalmar os nervos.

_ Pessoal?_ a voz de Richard soou calma, mas ao mesmo tempo dura. Ele se colocou entre mim e Jhonny quebrando nosso contato visual incisivo _ Será que dá para vocês dois pararem com isso?

_ Concordo_ Peter gritou descendo da mesa onde se mantinha sentado_ Será que dá para parar? Eu ainda sequer entendi o porquê de tudo isso! Vocês parecem dois irracionais.

_ E a culpa é de quem? Do William_ Jhonny desviou seus olhos dos garotos e permitiu que seu olhar pairasse sobre mim com uma expressão raivosa.

_ Minha? A culpa é sua!_ acusei ouvindo o suspiro desistente de Richard.

_ Eu estou tentando ajudar!_ o loiro resmungou depois de jogar a mão direita na testa e soltar um suspiro pesado_ Estamos sempre no mesmo degrau com você, Will. É sempre da mesma maneira. Aconteceu quando você terminou com a Suzan, sem nunca nem me falar o porquê. Aconteceu no quarto ano, e quando você começou a cair nos estudos... Resumidamente, tudo isso aconteceu depois que o seu pa...

_ Não completa essa frase!_ ordenei sentindo a garganta fechar e minha voz titubeou por um minuto.

Peter, que havia se sentado novamente na mesa, desceu em um só salto e Richard que avaliava uma revista sobre a bancada lateral próxima á mesa se virou com uma expressão de espanto.

Me direcionei até a saída entrando no carro. Samantha estava irredutível e eu quase tive certeza que ela havia batido na porta do carro e insistido com aquela droga de estação de rádio só para me castigar. Eu percebi como deveria ser um martírio para ela permanecer do lado do mesmo idiota de mais cedo que fez uma das suas maiores burradas. Eu estava absorto nos meus pensamentos. Tudo que repassava em minha cabeça eram as palavras de Jhonata, ele não estava errado. Eu atrapalhava as pessoas, atrapalhava que elas chegassem em um outro degrau. Suspirei pesadamente e encarei, por dois segundos, o tempo lá fora. Analisei bem a perua que passava perto do meu carro antes que um feixe de luz branca fosse aceso em nossa direção. Pisei o freio ainda um pouco cego, sentindo o carro deslizar sobre a fina camada da rua e quase bater na calçada. Foi uma daquelas vezes que a minha vida passava sobre os meus olhos. Meu pai naquele hospital, as vezes que eu sonhara com a minha mãe e acordara chorando ao perceber que ela não estava ali como no sonho, minha banda, meus amigos, meu público... E a Sam. Tudo perdido.

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