31.

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Gabi.

Subi as escadas e fui pro quarto da minha mãe, abri a porta e o Felipe estava lá dando risada pra TV que passava um desenho qualquer no youtube.

Felipe: Mamãe - gritou e pulou no meu colo quando me viu.

Gabi: Ô meu dengo que saudade eu tava - me joguei com ele na cama - E aí, como foi a noite com a moça que cuidou de você? - perguntei curiosa.

Felipe: Ela é muito legal mamãe, brincou de massinha comigo, assistiu desenho, filme, fez pipoca - contava todo empolgado.

Gabi: Aí que legal filho - fiz carinho na cabeça dele - Comeu oque de bom hoje?

Felipe: Vovó fez feijoada - lambeu os lábios brincando.

Gabi: Vou descer e comer já já também. O tio TH veio aqui hoje? - perguntei curiosíssima.

Felipe: Não vi - começou a prestar atenção no desenho e nem me deu mais bola.

Levantei e sai do quarto indo pro da Giovanna, bati na porta e escutei ela mandar entrar.

Gio: Quase cinco horas da tarde e tu me aparece só agora né - me olhou e eu ri.

Gabi: Menina eu capotei legal, perdi a hora - sentei na cama dela.

Gio: Tá na hora de você ter um celular, como que eu vou te contar as fofocas quando tu não tiver por aqui? - perguntou me olhando.

Gabi: Deixa isso pra depois - dei de ombros - Que cara inchada é essa? - reparei nos olhos vermelhos também.

Gio: Acho que vai descer pra mim, tô num chororô que só Deus na minha vida - dei risada.

Gabi: Fiquei sabendo que vai ter samba hoje - me encarou na hora.

Gio: Eita que você tá que tá ein - gargalhou e eu dei risada sem graça.

Gabi: Orra, um sambinha não faz mal pra ninguém. Vamos? - concordou com a cabeça - Vou levar o Felipe também, acho que não tem problema né?

Gio: Claro que não, vou tomar uma ducha, um remédio pra cólica caso me dê, e nois parte pra lá. - levantou da cama.

Gabi: Sabia que desde que eu voltei pra cá, não entrei no meu quarto até hoje - ela me olhou indignada.

Gio: Ta do mesmo jeito que você deixou, a mãe nunca deixou a gente tocar se quer em uma peça de roupa tua - entrou no banheiro - Vai lá ver suas coisinhas pô - concordei levantando e indo.

Abri a porta do meu quarto olhando cada detalhe e meu olho encheu de lágrima no automático.

Só de pensar que a ultima vez que entrei aqui eu tinha 18 anos e agora tenho 23, é bizarro.

Sensação estranha ter passado tanto tempo longe, parece até que eu nunca fui embora quando eu piso nessa casa. Me sinto acolhida por todos.

Gabi: Ô meu Deus, quanto tempo - olhei cada cantinho e fui abrir a porta do guarda roupa onde tinha uma parte com fotos de uma amiga minha que morreu meses antes de eu ser sequestrada - Surreal a saudade que eu sinto da nossa amizade.

Fiquei por um bom tempo olhando fotos nossas ali.

Keila era simplesmente sensacional como amiga, se eu tivesse o poder de trazer uma pessoa de volta com toda certeza seria ela.

Aquele tipo de amiga que te apoia em tudo e quando você tá errada puxa a tua orelha mas tá ali pra te dar todo carinho e amor do mundo? Era ela.

Se hoje estivesse com vida, seria a madrinha do meu filho. Combinávamos tanto de engravidar juntas, morar juntas, construir uma vida de irmã juntas, fazer faculdade juntas, e nossos planos simplesmente foram interrompidos.

Serei eternamente grata por ter conhecido e feito parte da curta vida que ela teve. Grata principalmente por ter salvado a minha vida e triste por ter morrido no meu lugar.

Era um dia normal, todos na praça, som rolando solto, uma socialzinha entre o morro todo sabe?

Do nada surgiu uma invasão fazendo com que todo mundo corresse e eu ficando totalmente perdida sem saber pra onde ir ou correr. Completamente sem saída.

Os tiros passavam do meu lado como um flash, e eu tava paralisada ao ver um homem com um fuzil apontado pra mim. Era desesperador, uma falta de ar grande, um medo me consumia.

Escutei um grito e olhei para o lado vendo a Keila me jogar completamente no chão junto comigo. Crente de que iria conseguir salvar a minha vida e a dela, foram milhares de tiros no seu corpo caído do meu lado.

Foi um momento de pânico, olhar minha amiga morta, sem um ar saindo de sua boca.

Se não fosse pelo Thiago eu estaria morta também. Ele apareceu matando todo mundo que vinha pra cima de mim! Foi cena de filme, coisa de louco. Nunca vou esquecer aquele dia.

Sai do transe escutando um grito da Giovanna vindo do seu quarto.

Gio: Porra, não acredito que quebrei mais um perfume sem querer - gritou.

Fechei a porta do guarda roupa e enxuguei as lágrimas que escorria pelo meu rosto. Abri minhas gavetas da cômoda do lado da minha cama e tinha uma aliança antiga minha e do Pato ali.

Neguei com a cabeça jogando aquilo fora, Deus me livre, rezei quinze pai nosso e torci pra ele tá queimando no quinto dos infernos, amém.

Felipe: Que quarto maneiro mamãe - entrou me assustando.

Gabi: Quer me matar do coração tu fala logo Felipe - puis a mão no coração vendo ele rir. - É da mãe esse quarto, bonitão né - concordou com a cabeça.

Felipe: Tia Gi falou que vamos sair, pra onde - pulou no meu colo.

Gabi: ir na praça comer e encher o bucho - sai do quarto fechando a porta.

•••

Me dei uns dias de folga, por isso não postei esse final de semana. 🙃
Nem revisei esse cap, fiquei com preguiça então perdoem qualquer erro 🤡

Anos Luz.Onde histórias criam vida. Descubra agora