54.

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Gabi.

Gabi: Tu queria que eu fizesse oque, porra - gritei - Não vem me dizer oque eu devo ou não decidir, eu prefiro mil vezes ele preso do que morto.

Carol: Você vai sustentar a cadeia dele até o final? - me encarou nervosa.

Gabi: Mãe, namoral - sentei no sofá colocando as mãos no cabelo. - Não sabemos nem se ele vai sobreviver, só me deixa quietinha. - deitei toda encolhida deixando as lágrimas cair.

Carol: Desculpa, me perdoa - se aproximou agachando na minha frente - Meus hormônios não são os mesmos, eu surto cada dia que passa - fez carinho em meus cabelos.

Gabi: Tá tudo bem, relaxa. - falei fraca.

Carol: Esse não é o momento ideal pra eu contar, mas eu tô grávida - tirou os fios de cabelo do meu rosto. - Por isso os meus surtos com você não são propositais, só não consigo controlar. Desculpa mesmo.

Gabi: Parabéns mãe - peguei em sua mão. - Eu já desconfiava. - ela concordou. - Notícias do pai?

Carol: Ele tá bem, vivo e com saúde. Só bastante machucado, oque é de menos - sentei no sofá.

Gabi: E o fininho? - falei baixo.

Carol: Giovanna passou mensagem, tá com ele no posto, retiraram a bala mas ele precisa de bolsas de sangue, acabou perdendo muito - levantei.

Gabi: Vou dar um cheiro no meu filho e ir no hospital, você fica com ele por um tempinho? - ela concordou.

Fácil não estava, parecia que jogaram um caminhão inteiro na minhas costas. Carregar a culpa de tudo isso ter acontecido é péssimo. Tantas pessoas inocentes morreram no meio desse confronto, pessoas que trabalhavam no tráfico pra conseguir sustentar a família se não morriam de fome.

Pensar nas coisas que aconteceram hoje me machuca, uma dor sem fim.

Gabi: Felipe? - bati na porta abrindo a mesma. - Oi meu dengo, como tu tá? - deitei do ladinho dele.

Felipe: Com medo mamãe - me abraçou e chorou.

Gabi: Porque tá chorando? - perguntei estranhando a reação.

Felipe: Sonhei com o tio Thiago, ele disse que ama a gente mamãe - me olhou enxugando as lágrimas.

Gabi: Nós também amamos ele, muito. - meus olhos encheram de lágrimas. - Vou precisar sair, mas juro que quando eu voltar vamos ficar agarradinhos assistindo filme e comendo brigadeiro, beleza? - ele concordou batendo palma de felicidade. Dei um beijo nele e sai do quarto.

Era incrível a inocência do meu filho, mas ao mesmo tempo ele era tão esperto pra idade dele. Me assustava um pouco ele ser muito pra frente, mas eu não mudaria nem um fio de cabelo do meu bebê.

Peguei meu celular e coloquei um dinheiro na capinha caso eu precise.

Caminhei até a sala me despedindo da minha mãe e saindo.

Um vapor me trouxe e eu já entrei perguntando sobre o Thiago.

Infelizmente tivemos que trazer ele pro hospital, quando agachei do lado dele no meio daquela poça de sangue eu já não sabia mais se ele estava vivo ou morto. Eu evitava colocar a mão onde eu conseguiria sentir a pulsação do coração, eu estava com medo de ter que lidar com a realidade.

Exatamente por isso trouxe ele pra cá, aqui a competência hospitalar é muito melhor que o posto do morro.

Se bem que lá tem tudo, mas um caso sério desse eu prefiro confiar naquilo que nunca falhou comigo.

Recepcionista me disse que logo o médico viria pra conversar comigo, eu sentei pra aguardar e decidi ligar pro meu pai.

Mais ou menos no quinto toque ele atendeu.

Gabi: Oi pai, como cê ta? - falei com a voz baixa.

Coringa: Bastante dolorido, mas bem. - tossiu. - Como tá as coisas por ae?

Gabi: Cheguei agora no hospital, tô cansada, esgotada, destruída. Não sei oque fazer e nem pensar.

Coringa: Não fala assim, você é forte e pode superar qualquer coisa.

Gabi: Você já tá me preparando para o pior né? - meu coração acelerou.

Coringa: Não sei filha - escutei sua respiração. - Eu realmente queria ter uma resposta pra te dar, mas eu não sei. Última vez que eu consegui olhar pra ele, parecia sim que estava morto - falou baixo.

Gabi: Eu não tô preparada, será que nada vai dar certo na minha vida? - comecei a chorar.

Coringa: Falhei tantas vezes como pai que hoje você salvou a minha vida, e era pra ser ao contrário. - ficou mudo por um tempo - Se tu conseguiu proteger eu e meu morro, vc consegue superar tudo.

Gabi: Eu só queria acordar e ver que tudo não passava de um pesadelo - solucei. - Preciso desligar, depois nos falamos.

Coringa: Te amo muitão. - acabei dizendo que eu também e desliguei vendo o médico pedir licença.

- Acompanhante de Thiago Freitas, é você né? - se aproximou.

Gabi: Oi, sim. - levantei esticando a mão pra cumprimentar. - Se for notícia ruim, prefiro que fale de uma vez, por favor.

- Situação dele é complicada, a pulsação quando chegou aqui estava baixa. Teve duas paradas cardíacas no meio da cirurgia que foi bem complicada, mas reanimamos e deu tudo certo a retirada da bala. - respirei aliviada. - Já o tiro no joelho, fisioterapia é a única coisa que vai ajudar a ter os movimentos da perna denovo.

Gabi: Eu posso ver ele? - perguntei angustiada.

- Infelizmente não, ele acabou de sair de uma cirurgia. E a polícia já está vindo pra cá saber o porque ele tomou um tiro e de quem. - suspirei sem saber oque fazer.

Gabi: Pra que chamar a polícia cara? - perguntei - Teve confronto no morro, ele é um morador inocente que acabou sendo atingido.

- Isso é a polícia que vai afirmar. - saiu me deixando ali.

•••

Eu ia matar o Thiago mas vocês me imploraram tanto pra eu não fazer isso que acabei ficando com dó. 🤣

Anos Luz.Onde histórias criam vida. Descubra agora