Com(paixão)

Eli?

—Tô afim do Diaz —confesei para Aisha enquanto fazíamos aquecimento longe do Miguel

—Fala sério—ela diz impressionada

—Tô falando

—Já rolou alguma coisa?— perguntou com um sorriso malicioso no rosto

—Não, não mesmo, eu ainda não falei pra ele que gosto dele — parei de me alongar

—O que tá esperando pra contar a ele?

—Não posso só chegar e fala pra ele, isso precisa de um tempo e meu primeiro plano é chamar ele pra ir ao cinema—cruzei os braços a olhando

—Ta bom, você que sabe— balançou a cabeça negativamente

—Pessoal, todos em seus lugares—Ordenou o sensei e assim fizemos

—Cadê todo mundo? O cratera? Piercing? Estilingue?—sensei perguntou

—Eles desistiram sensei—Miguel fala abaixando a cabeça

—É sério?—Ele nos olha em silêncio

—Muito bom, aquilo foi um ótimo teste. Queria ver quem desiste fácil. Agora vocês estão nessa pra vencer. Podiam estar em casa no computador, jogando videogame, comendo doce. Mas estão aqui, fazendo flexões, aprendendo a lutar.—Ele para de falar e aponta para o Eli

—Olha só, até o lábio é mais durão do que eles. Ele não é um bunda mole

—Por favor não me chame assim—Eli pede para o sensei

—Como disse?—sensei pegunta a Eli

—Só não me chama assim, por favor —Eli falou um pouco mais alto para que sensei podesse compreender.

Olhei para o Miguel e ele também olhou pra mim e fiz um gesto para que ele fizesse algo.

—Deixa que eu faço o aquecimento—Miguel tentou corta aquele clima desagradável que estava no dojo

—Não. O lábio quer dizer algo—sensei "corta" o Miguel da conversa

—Fale alto ou sua língua também é zoada? Você é uma daquelas crianças especiais?— Sensei se aproxima de Eli

—O médico disse que eu tô no espectro— disse claramente desconfortável.

Não tô gostando nada dessa conversa, até eu estou desconfortável.

—Não sei o que é isso, mas saia dessa. Está bem?Se não quer esse apelido, não tenha um lábio estranho.—Limites? Esse cara é burro ou o que?

—Essa é a cicatriz da cirurgia, eu nasci com o lábio leporino— Sabia que era isso, cicatrizes assim eu reconheço de longe.

—Quer dizer que era pior ou o médico estragou tudo? Se esse é o resultado final, é uma droga. Você deveria processar.—ele aponta para o lábio do Eli

Meu sangue começou a ferve, fechei o punho tentando me acalmar e olhei para o lado tentando não vê aquela situação.

—Podemos mudar de assunto?—Eli tenta fugir daquela conversa constrangedora

— É difícil com isso bem na minha frente. Se não quiser ser um nerd com essa cicatriz no lábio, tem que ser radical está bem? Tatue o rosto ou arranque o olho. Vamos chamá-lo de Caolho. Não faz isso. Vai parecer uma aberração.—Aquilo foi o limite para o Eli, ele saiu do dojo chorando e eu olhei para o sensei com desprezo

—Ótimo. Outro desistente?—Ele falou com a maior normalidade

Contei até 50 tentando me aliviar de toda aquela tensão se não quem iria sair do dojo era eu.