"Controvérsias"

635 70 63
                                    

POV MÁRCIA

Aquelas asas azuis reluzentes eram inconfundíveis.

- Inês?!

A chamo mas ela me ignora. Ela voou indo para uma área mais escondida na floresta. Eu apenas a sigo.

- Você já sabia, não é? - Pergunto alterada.

Ela toma sua forma normal e me encara.

- Por isso vinha aqui todos os dias? Você já sabia que tinha algo acontecendo. Por que não me contou nada, Inês? - Eu estava com muita raiva

- Márcia...

- Márcia nada! Você não pode esconder as coisas de mim assim!

- Não me diga o que eu tenho ou não que fazer! - Ela grita.

- Você sabia do perigo que corria?!

- É claro que eu sabia, por isso não queria te envolver nisso. Eu precisava proteger você!

- Inacreditável, Inês. Inacreditável! Eu não sou uma criança, porra.

- Tem certeza? Porque você está se comportando como uma! - Ela me olha com desdém.

- Você está sendo uma idiota! - Grito.

Ela respira fundo de olhos fechados tentando se acalmar. Olha ao redor depois volta seu olhar para mim.

- Onde está Maia? - Pergunta secamente.

- Em casa. - Respondo sem olhar pra ela.

- Você deixou a minha filha sozinha? - Ela volta a gritar.

A bruxa nem me deixa explicar, se transforma em borboleta e sai me deixando sozinha. Essa discussão só serviu para nos afastar e reconhecer que eu e a Inês não nos conhecíamos direito.

Fico uns minutos sozinha pensando em tudo o que tinha acontecido. Respiro fundo e volto ao trabalho.

...

Eram 17h15min da tarde. Estava me preparando para ir para casa. Depois de levar os corpos para serem examinados no IML, tivemos que voltar para a DPA para continuar investigando e fazer todo um relatório do caso. Como os corpos foram encontrados numa floresta, a polícia ambiental também estava cuidando do caso.

Pego minha bolsa e saio. Não passei em casa mais cedo para levar Maia pra escola porque sabia que, do jeito que Inês saiu cuspindo fogo me deixando sozinha na floresta, ela provavelmente cuidou da nossa filha e a levou para a escola enquanto eu trabalhava.

Estaciono meu carro em frente a escola.

- Oi, vim buscar minha filha. - Digo para o porteiro.

- Qual o nome? - O senhor sorri gentilmente.

- Maia da Luz Guedes.

- Aah, a pequena Maia, sua filha é um anjo! Mas ela não esteve aqui hoje.

- Quê? Como assim? Você pode verificar? - Pergunto confusa.

O homem vasculha a pasta em suas mãos procurando pelo nome de Maia.

- Veja. - Ele diz me mostrando a pasta. - Não há registros dela hoje.

- Obrigada. - Saio rapidamente de lá.

Chego em casa às pressas, procurando pela minha filha.

- Maia?! Maia?! - Estava tudo escuro. Certamente não tinha ninguém em casa.

Vou até o quarto dela, também não havia ninguém. Abro seu guarda-roupas e noto alguns cabides vazios, estava faltando roupas.

- Porra, Inês! - Eu já estava desesperada.

Pego minhas chaves e saio novamente. Peço, imploro para todos os deuses que conheço para que Inês não tenha levado a menina para longe, torço para que estivessem no bar.

Estaciono meu carro de qualquer jeito na vaga e corro até a porta que estava trancada. Não havia clientes. Sentia que a qualquer momento eu poderia derrubar a porta com tanta força que eu batia.

Eu estava com raiva de Inês pela discussão, por ela não ter me contado a verdade sobre o que estava acontecendo, mas principalmente por ela ter levado a minha filha.

Paro de bater assim que a porta é aberta.

- Credo, Márcia. Se quebrar, você vai ter que pagar uma porta nova.

- Camila, onde está minha filha? - Eu estava ofegante.

- A Maia está lá dentro, mas...

Nem deixo a sereia terminar de falar e a empurro adentrando ao bar.

- Maia, cadê você?! - Procuro por todo o local, mas não a encontro.

Desço as escadas e vou até o "quarto de magias" de Inês e encontro a menina mexendo em alguns livros na estante.

- Filha!

- Mamãe Marcy! - Ela corre até mim e me abraça. Me ajoelho no chão e a abraço de volta com força.

- Mamãe, você tá me esmagando. - A menina fala com dificuldade.

- Desculpa, meu amor. - Lágrimas caiam dos meus olhos. - Eu pensei que tinha perdido você! - Desfaço o abraço.

- Como assim me perdido? Eu tô aqui. - Ela sorri pra mim.

- Eu sei, borboletinha. Que bom que está bem! - Sorrio de volta secando as lágrimas.

- Filha, vem, a comida está pront... - Inês entra no quarto mas assim que me vê para de falar.

Me levanto e a encaro. Eu estava com muita raiva, sentia meu sangue fervendo de novo só em olhá-la.

- Meu amor, vai lá pra cima com a Camila, está bem? - Inês falava calmamente. - Eu e Márcia precisamos conversar.

- Tá bom, mamãe. 

Maia sai do quarto levando um dos livros nos deixando sozinhas. 

No Que Me Transformei (MARINÊS)Onde histórias criam vida. Descubra agora