Ana Caetano
Entrego currículo em mais um local, sabendo que eles provavelmente nem se lembrarão de mim amanhã. Faz um tempinho que eu não saía na rua, quer dizer, três dias, mas mesmo assim é muito tempo pra mim, que praticamente só viva fora de casa. Então, decido ficar só rodando pela cidade.
Passo por uma cafeteria que nunca tinha visto — ou só nunca tinha prestado atenção nela. Interessante. Entro no local e me sento na primeira cadeira livre que vejo. Abro o cardápio e passo os olhos rapidamente pelas opções. De canto de olho vejo uma mulher se aproximar de mim.
— Olá, boa tarde! Já sabe o que vai querer? — eu conheço essa voz... Olho para a mulher ao meu lado pela primeira vez. — Ana Clara, mulher! Tudo bem?
— Vitória!! Tô bem sim, e tu? Eu não sabia que tu trabalha numa cafeteria, nem me contou...
— Eu tô bem também, Ana! Ah, na hora nem me lembrei disso, só te falei que trabalhava como garçonete, né?! — assinto. — Pois é. Tô doidinha pra conversar contigo, Ana, mas faça seu pedido rapidinho, se não vão ficar enchendo meu saco ali — rimos.
— Bom... Eu vou querer um chocolate quente com torradas — digo ao olhar rapidamente o cardápio.
— Ok... — ela diz enquanto anota. — Mais alguma coisa? — nego com a cabeça. — Tá bom, daqui a pouco seu pedido chega — Vitória sorri e sai.
Meus pedidos chegam, e não é Vitória quem os traz até minha mesa. Faço o meu "lanche da tarde" e pago a conta. Enrolei mais um pouco na mesa, com a esperança de que Vitória fosse falar comigo novamente. Depois de alguns minutos, ela finalmente vem em minha direção.
— Ô, Ana, eu quero muito conversar com tu, mas aqui tá lotado e se eu for parar agora vou acabar nadando.
— Não tem problema não, Vi.
— Mas assim, a gente mora uma na frente da outra, qualquer dia passo na tua casa, viu.
— Vou te esperar, hein — digo, me levantando. Me despeço de Vitória e vou embora.
Desisto de tentar entregar as últimas folhas que tenho em minhas mãos, e vou direto para casa.
Depois de tanto pensar no que fazer, minha cabeça começa a doer. Se eu não arrumar um emprego, eu tô ferrada. Eu só tenho o dinheiro pra pagar o aluguel e o mercado, por mais três meses. Bufo com todos esses pensamentos. Que inferno.
Ao olhar as horas no relógio, vejo que já é quase noite. Vou para o quarto e olho a janela, o céu estava em um tom alaranjado pois o sol estava se pondo. Suspiro ao ver essa paisagem e vou para o banheiro. Me dispo por inteira e entro debaixo do chuveiro. Sinto as gotas da água quente — talvez até quente demais — entrando em contato com meu corpo, molhando meus cabelos e relaxando meus músculos tensos. Saio de lá com os cabelos molhados e uma toalha enrolada em volta do meu corpo. Visto minhas roupas íntimas e meu pijama rosa claro.
Pego um livro que estou lendo e vou para a sala, me sentando no sofá. Depois de conseguir me concentrar lendo poucos capítulos, os mesmo pensamentos de antes invadem minha mente, bagunçando as palavras que eu lia. Lia mais uma vez, e relia de novo. "Como nunca percebi que gosto de você, Janet?" E quem é Janet?! Bufo alto. Não conseguia mais me concentrar naquilo. Jogo minha cabeça para trás, a balançando de um lado para o outro.
Me levanto e vou para a cozinha, preparo um chá de camomila e me sento no sofá novamente, com a xícara em uma mão e o celular em outro. Minutos depois, desisto de mexer no aparelho, precisava ficar um tempo longe dele, já estava ficando viciada. Tentava pensar em algo enquanto bebericava o chá. E novamente, nada. Que droga!
A dor em minha cabeça retorna, me estressando ainda mais. Começo a rodar pela casa toda, massageando minha testa com a ponta dos dedos. A cada segundo que se passava, só conseguia ficar mais desesperada. Em certo momento, me sento de uma vez no sofá, coloco meu rosto entre minhas mãos e desabo em lágrimas.
Depois disso, não me lembro de muita coisa antes de ter ido dormir. Só sei que estava com a cabeça explodindo de dor e os olhos inchados, de tanto chorar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Coisa de alma
Romance- Então... - ela respira fundo antes de continuar - eu... - Ana abria e fechava a boca diversas vezes. - Ah, não sai nada, eu não consigo! - Ei, não precisa se assustar não, Ninha - o apelido sai involuntariamente -, nada vai desmoronar. No momento...