Ana Caetano
Apenas quando realmente acordei comecei a me lembrar do que aconteceu ontem enquanto estava bêbada. Céus, por que eu tenho que ser tão fraca para bebida?! Havia um tempo que eu comecei a me sentir atraída por ela, mas tentava deixar essa vontade de lado. Pelo jeito a bebida me entregou. E eu nem sei se é recíproco.
Meu Deus, Ana Clara, mas precisava sentar no colo da mulher?! Coloco minha cabeça entre minhas mãos, fechando meus olhos.
Depois que Vitória saiu daqui, apenas fiquei deitada na cama, ainda com os olhos fechados. Como se isso fosse magicamente acabar com a minha dor de cabeça. Após algum tempo, pego meu celular e vejo que tem um pequeno pedaço de papel embaixo dele.
"Meu número aí, Ana, me chama quando tu puder, viu :)"
E seu número estava escrito bem abaixo do recado. Adiciono seu contato e a mando uma mensagem.
[13:11] Você: oi oi :))))))
Volto a olhar para o teto, pensando no que fiz ontem. Quando estava a um passo de dar um grito de tamanho arrependimento, meu celular vibra.
[13:20] Vitórinha: Oooooi :)
[13:20] Já levantou, mocinha?
Sorrio enquanto digito minha resposta, negando.
[13:21] Vitórinha: É só eu sair de perto que tu já começa a ficar toda preguiçosa, né, Ana Clara
Converso por alguns minutos com Vitória, pois hoje ela tinha muita coisa para resolver em casa. Tinha ficado estranho, sem Vitória ao meu lado todo tempo. Também, Ana Clara, depois de dois dias grudadas pra lá e pra cá.
Suspiro e tomo coragem para me levantar. Faço minha rotina matinal — que acabou sendo de tarde — e vou para a cozinha preparar algo para comer. Opto por apenas um pão francês com manteiga e chá de camomila. Depois desse lanche — ou ainda podia considerar um café da manhã? — fui trocar de roupa e arrumar meu cabelo.
No finzinho de tarde, me sentei em frente a janela com as pernas cruzadas em índio, com um caderninho e caneta em mãos. Me concentro na vista que tenho em minha frente: o céu em um tom alaranjado por conta do sol que estava se pondo, e a lua timidamente aparecendo no cantinho da minha janela.
Sorrio ao ver uma silhueta conhecida por mim na janela em frente a minha. Era impossível não reconhecer esses cachinhos.
Vitória estava sentada em frente a um computador, digitando rapidamente; também estava de frente para a rua. Segundos depois que comecei a observá-la, ela suspirou, desviando seu olhar da tela para céu. Após algum tempo dispersa, ela volta à realidade.
A mulher sorri um pouco surpresa ao me perceber na janela a sua frente, acenando logo depois. Aceno de volta e sorrio. Ela aponta para o caderninho e caneta que eu tinha em mãos, com uma expressão confusa e curiosa. Pego meu celular rapidamente e a mando uma mensagem: "tentando escrever algo". Assim que a mensagem é enviada Vitória pega seu celular. Vejo um esboço de sorriso em seu rosto enquanto ela digitava a resposta.
[17:49] Vitórinha: Olhaaa!!!! além de cantar também escreve, tem mais alguma coisa que eu não saiba que tu faz?
Assim que olho novamente em direção à janela em minha frente, encontro Vitória me olhando de volta. "Vai escrever suas coisas aí, depois converso com tu", ela me gesticula sem emitir algum som. Concordo com a cabeça, sorrindo levemente.
Não sei como consegui escrever algo tão bom, mas quando já vi, estava tudo escrito. Sorrio com o resultado, estava muito lindo. Porém meu sorriso desaparece segundos depois ao me lembrar em quem pensei enquanto escrevia aquilo. Meu Deus do céu, Ana Clara, para com isso.
Assim que olho novamente para a janela a frente, vejo Vitória com um semblante meio preocupada. "Tá tudo bem?", ela gesticula. Concordo com a cabeça, tentando sorrir. "Certeza?", Vitória me responde e eu concordo novamente com a cabeça. Segundos depois recebo uma mensagem da mesma.
[18:21] Vitórinha: Qualquer coisa tô aqui, viu, bichinha! :)
Sorrio.
Observei o céu se escurecer cada vez mais, até a noite se instalar por ali. Observei as estrelas mais atentamente, e sorrio de canto quando consigo reconhecer a constelação de Órion — que por acaso, é a única que eu sei reconhecer.
O resto do dia foi normal, até meio sem graça (?). Depois que saí de frente da janela, tomei um banho mais longo na tentativa da água relaxar meus músculos tensos como sempre acontece, mas dessa vez, nada adianta.
Tento fazer yoga, sempre me relaxo quando faço isso. Adianta um pouco, mas ainda me sentia tensa. Visto meu pijaminha e vou para a cozinha, preparo um macarrão com brócolis e como um pouco. Não estava com muito apetite. Escovo meus dentes e vou direto para a cama.
Antes de dormir, vejo uma notificação em minha tela:
[22:58] Vitórinha: boa noitinha, Ana Clara
[22:58] bons sonhos!!
Por incrível que pareça, uma pequena parte da minha tensão foi embora depois de ler essas dias mensagens. Dormi pouquinho tempo depois, com um pequeno sorriso em meu rosto.
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Coisa de alma
Romance- Então... - ela respira fundo antes de continuar - eu... - Ana abria e fechava a boca diversas vezes. - Ah, não sai nada, eu não consigo! - Ei, não precisa se assustar não, Ninha - o apelido sai involuntariamente -, nada vai desmoronar. No momento...