5 de Outubro, 2002.
Vitória Falcão
Acordei por volta das seis horas da manhã. Me levantei da cama com cuidado para não acordar Ana, escovei meus dentes, lavei meu rosto e prendi meu cabelo. Tomo uma xícara de chá sentada em frente a janela do quarto, que era por onde entrava a luz do sol.
— Tomando chá sem mim, Vitória?!
Rio baixo enquanto escutei-a indagar da cama, ela provavelmente já havia voltado a dormir. Lavo a xícara que usei e vou trocar de roupa. Visto uma camisa amarela de gola alta com um short e uma blusa de frio da mesma cor.
Calço um par de tênis, pego meu dinheiro e meu aparelho-celular antes de sair de casa. Fui até aquela mesma loja de decoração para festas, comprei poucas coisas de lá. Acabei comprando mais de outra loja que descobri ao andar mais um pouco pelas ruas da cidade.
Quando acabo de comprar ingredientes para bolo em um mercado, meu celular começa a tocar. Era Sabra, minha irmã mais velha. Atendo a ligação rapidamente.
— Bom dia, Sabra, como que tu tá?
— Bom dia, Tória! Eu tô bem, e você? Nossa, cê tá rua? Maior barulheira. — rio com seu comentário.
— Eu tô bem também, e tô na rua sim, vim fazer umas compras pra uma festa surpresa.
— Humm... Aniversário de quem que eu não tô sabendo?
— Ana tá fazendo aniversário hoje!
Escuto Sabra gritar para alguém, provavelmente Ana Beatriz e mamãe, quem era a aniversariante de hoje.
— Ai, que lindo, aniversário da minha cunhada! — Quando abri a boca para respondê-la que ainda não estávamos namorando, ela começa a falar primeiro. — Se você ainda não tiver confessado seus sentimentos pra ela, Vitória...
— Ó, ainda tenho que comprar umas coisas aqui, beijo! — digo apressada e encerro a ligação. Se ela souber que a gente tá até morando juntas...
Suspiro, selecionando o número de Cecília e a enviando um SMS.
[08:10] Você: oi :) tá em casa? se tiver, posso dar uma passada aí?
Poucos minutos depois recebo uma resposta da mesma.
[08:14] Cecília: oi, vitória :) claro, pode vir sim. vou te mandar meu endereço!
Eu, Ana e Cecília nos encontrávamos quase toda dia na pracinha. Ela geralmente vem até nós, se senta ao nosso lado e fica lá, sem dizer uma única palavra enquanto Ana canta. Nos aproximamos mais de um tempo pra cá.
Ela morava há uns dez minutos de onde eu estava. Antes de entrar no prédio que consta no endereço, fiquei parada por algum tempo, espiando a loja de CD e DVD que ficava ao lado. Suspiro ao dar um passo a frente, desviando meu olhar do interior da loja para a portaria em que estava prestes a entrar.
Quando chego ao apartamento 112, no décimo primeiro andar, bato algumas vezes na porta e logo a mesma é aberta. Vejo Cecília do outro lado coçando seus olhos, ainda de pijama.
— Pensei que fosse demorar mais um pouco — ela diz rindo, enquanto me dava espaço para entrar no apartamento.
Sua casa é simples, minimalista mas ainda sim elegante.
— Se você quiser, pode colocar as sacolas em cima da mesa — Cecília propõe e assim eu faço. — Olha, vou me trocar ali rapidinho, já volto. — assinto e ela entra em outro cômodo, que eu suponho ser seu quarto.
Pego meu celular rapidamente para checar as horas. Ainda eram 8:30. Ana provavelmente ainda não acordou. Acho que dá tempo de organizar tudo antes dela acordar. Assim eu espero.
— Voltei!
Cecilia trocou seu pijama por um cropped branco com uma calça jeans. Elogio sua roupa e ela agradece, indo até mim logo depois. A conto que hoje é o aniversário de Ana e que queria fazer uma surpresa — que agora não é mais tão surpresa — para ela.
— Eu adorei sua ideia, não sabia que Ana faz aniversário hoje. Se quiser, pode usar as coisas daqui de casa pra fazer o bolo.
— Sério mesmo? Porque se eu for fazer o bolo lá em casa, vai fazer a maior barulheira e Ana vai acabar acordando...
— Claro que é sério! Aqui, vou pegar a batedeira — ela diz, colocando o utensílio sobre a mesa e plugando-o na tomada.
Não demorou muito para que o bolo ficasse pronto. Cecília fez questão de que eu decorasse o bolo com chantilly e o recheasse com morango e chocolate.
— Ana Clara tem cara de quem adora um doce...
— Adorar ela adora, mas prefere salgado — a respondo, sorrindo sozinha me lembrando de quando eu e Ana fizemos coxinha em casa.
Cecília e eu terminamos de decorar o bolo e eu o coloco numa forma que comprei hoje mesmo. Deixei-o dentro da geladeira, Cecília disse que às 17:00 em ponto estaria em minha casa com ele, para assim podermos cantar os parabéns.
— Acho que é só isso mesmo...
— Tem certeza que não precisa de mais nada? — ela indaga.
— Certeza absoluta. O resto das coisas eu arrumo em casa. — me levanto novamente. — Mas olha, muitíssimo obrigada pela ajuda, não sei o que seria dessa surpresa sem ti.
Nos despedimos com um breve abraço e saio de sua casa. Eu obviamente não iria aguentar esperar mais um dia sequer para entrar naquela loja de CD e DVD que fica ao lado de onde ela mora. Então, assim que saio de seu prédio, entro praticamente correndo no local.
Tinha de tudo um pouco. MPB, rock, bossa-nova, pop, sertanejo, e por aí vai. Passeio por cada sessão sem pressa alguma, olhando CD por CD e DVD por DVD. Não percebo o tempo passar.
Depois de escolher o que iria comprar, vou até o caixa e pago pelas minhas compras, colocando-as dentro de uma sacola.
— Bom dia, senhorita Falcão! — seu Antônio diz, ao me ver passar pelo portão de entrada.
— Bom dia, seu Antônio! Como o senhor tá? — me aproximo do balcão e apoio meu braço ali.
— Eu tô muito bem, e você? Tenho visto que anda trazendo visita pra cá, uma moça... bem bonita ela!
— Que bom que o senhor tá bem, eu tô muitíssimo bem! Aí, ela é a coisa mais linda desse mundo!
— Você tem bom gosto! — é a última coisa que eu escuto ele dizer antes de entrar no elevador e apertar o meu andar.
Pego minha chave enquanto caminho em direção ao meu apartamento, e destranco a porta com cuidado para não fazer muito barulho.
Ao adentrar o local, dou de cara com Ana sentada no sofá assistindo a televisão. Ela se vira em minha direção, sorrindo fraco.
— Bom dia, Vi. Tu... — Ana pensava em quais palavras ela ia dizer — tá meio tarde...
Relaxo meu corpo, tentando aliviar a tensão que em meus músculos se fez, deixando as sacolas de compras no canto da sala. Olho para o relógio que fica na parede, eram 15:48. Droga. Talvez eu tenha passado tempo demais na loja.
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Coisa de alma
Romance- Então... - ela respira fundo antes de continuar - eu... - Ana abria e fechava a boca diversas vezes. - Ah, não sai nada, eu não consigo! - Ei, não precisa se assustar não, Ninha - o apelido sai involuntariamente -, nada vai desmoronar. No momento...