XIV

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Ana Caetano

Penso, por um segundo, e o momento seguinte, me aproximo ainda mais de Vitória.

Me experimenta, Ana. — ela diz, alternando seu olhar entre meus lábios e meus olhos.

Seu tom de voz era sério, quase de súplica; e era rouco, ainda mais do que já é naturalmente por conta da bebida. Não hesito em terminar com a distância que havia entre nós. Nossos rostos estavam tão próximos que conseguia sentir sua respiração quente batendo na minha pele.

Sua mão toca levemente minha bochecha, acariciando-a. Vitória sela nossos lábios, pedindo passagem e eu logo a concedo. Nossas línguas bailavam numa dança quase que ensaiada, nossas bocas se encaixam perfeitamente. Nos afastamos assim que a falta de ar se faz presente.

— Porra — ela sussurra, enquanto nossos rostos ainda estavam próximos um do outro.

Segundos depois, colo nossos lábios novamente. Não faço a mínima ideia de quanto tempo passamos daquele jeito. Seu gosto e textura me levam a loucura, eram simplesmente... viciantes.

Quando estava junto a ela, simplesmente me esquecia de tudo. Não percebi quando ela me puxa, me colocando com cada perna ao lado da sua cintura, sentando em seu colo.

[...]

— Naquele dia, que nós duas estávamos bêbadas... — Vitória começa a dizer enquanto se deita na cama de barriga para cima, ainda me olhando.

— Que nem hoje? — a interrompo para fazer a pergunta.

— Que nem hoje — ela prossegue. — Eu disse que não queria que a gente fizesse algo que pudéssemos nos arrepender depois, né... — assinto, esperando que continuasse falando, mas nada mais é dito.

— Vi... mesmo que fosse tudo no impulso e que a gente tivesse bêbada, eu não ia me arrepender.

A olho profundamente, tentando decifrar o que Vitória estava pensando através de seu olhar.

Tomo coragem para falar:
— Desde o dia em que a gente se conheceu, eu queria ter feito isso.

Sim, desde a primeira vez que a vi. Sério, não tem como não ficar hipnotizada por aquela boca, que parece que teve cada detalhe desenhado milimetricamente. Ficamos nos olhando, sem dizer nada. Mas sabíamos que o silêncio dizia muita coisa.

— Ninha, desde o dia que eu te conheci, tu se tornou uma partezinha de mim. Eu senti sua falta até quando fui tomar chá, senti falta da sua xícara do lado da minha — ela ri baixo. — Eu acho que... eu tô gostando de ti. De verdade.

Meu Deus, como eu queria escutar aquilo.

— Eu também tô gostando de ti, Vi. Na real, eu tô apaixonada. — me aproximo dela, olhando mais de perto em seus olhos. — Assim, se por acaso, eu te pedisse em namoro... tu aceitaria? Sem pressão, nada disso, é que eu preciso saber se eu... — penso por alguns segundos, procurando as palavras certas para dizer — posso criar alguma esperança... sabe?

Eu realmente precisava saber daquilo. Precisava se ela também me escolheria, se quando me olha seu coração chega até a errar as batidas. Se ela imaginava uma vida inteira comigo. Precisava saber. Por que é exatamente isso que eu sinto em relação à ela.

Ela ri baixinho antes de me responder:
— Se, tu me pedisse em namoro, eu não pensaria duas vezes em aceitar.

Borboletas dançavam agitadamente em meu estômago.

— Então, Vi, tu quer namorar comigo? — a pergunto enquanto sorria de canto nervosa.

 Um segundo depois, percebi a droga que tinha feito, eu tô praticamente colocando Vitória na parede.

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