XI

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Ana Caetano

O tão esperado fevereiro chegou. Todas as lojas estavam cheias de fantasias e purpurinas, e cheia de clientes comprando esses produtos.

Saio de meu prédio para esperar Vitória, que não demorou muito para chegar. Nos cumprimentamos com um abraço e um beijo em cada bochecha assim que ela chega. A cacheada trazia duas garrafinhas de água em uma das mãos

— Mas tá bonita demais com essa fantasia, minha gente! — Vitória me elogia.

Eu estava fantasiada apenas com uma tiara florida na cabeça e com glitter pelo meu rosto.

— E tu, mulher, tá gata demaaaais! — devolvo o elogio para a cacheada, que usava um arco em formato de sol em sua cabeça e também tinha glitter em seu rosto.

Nós conversamos animadamente pelo caminho até o bloquinho que foi escolhido para passarmos o primeiro dia de carnaval. Quando chegamos no local, logo nos misturamos pela multidão. A música era alta, e a energia contagiante. Óbvio, era carnaval!

— Eu adoro essa música! — falo, começando a dançar envergonhada, mas essa vergonha desaparece num passo de mágica quando Vitória me acompanha na dança.

Todo mundo cantava cada música que tocava, dançando animadamente. Eu e Vitória adorávamos isso, a energia do carnaval. O jeito que todos gritam aquela frase daquela música, como todos ficam sincronizados enquanto fazem uma dança daquela música que tá no top 10 das rádios, de como se divertiam. E o mais importante: de como todos podiam ser eles mesmos naquele momento.

Não existia preocupações, problemas, nada. Naquele momento era só aquilo.

Vitória me entrega uma das garrafinhas de água, assim que me vê começando a respirar com mais dificuldade.

— Obrigada — sorrio de canto enquanto pegava a garrafa e começo a beber dela.

O bloquinho andou por ruas e ruas, e cada vez mais foliões se juntavam a ele.

Vitória e eu estávamos muito animadas, afinal, é o primeiro carnaval em que nós passamos juntas. A gente dançava com toda energia que tínhamos, e cantávamos à plenos pulmões. Assim que a próxima música começa, nós nos entreolhamos.

— O JÃO, AMIGA!!! EU AMO ESSA MÚSICA! — dizemos em uníssono, praticamente gritando por conta do som.

Se antes nós já cantávamos alto, agora cantávamos ainda mais.

Porra, a gente se ama

Isso é lindo demais!

No fim da música, as duas garrafinhas de água que Vitória trouxe já estavam completamente vazias. Saímos rapidamente do bloquinho para entrar num mercadinho que tinha naquela rua, para comprar mais água. Vitória entregou o dinheiro para o caixa enquanto eu já começava a beber de uma das garrafas, sedenta. Logo depois seguimos de volta para o bloco, que não estava muito longe dali.

Horas depois, nossos corpos já estavam suados por conta do calor que fazia naquele dia e porque não paravam de dançar um segundo sequer.

Vez ou outra Vitória me pegava a observando atenta. Nessas horas, tentava gravar todos os seus detalhes em minha memória. Quando isso acontecia, ela apenas sorria tímida.

— Porque tu tá me olhando assim, Ana? — ela pergunta, ao ver que eu a observava mais uma vez.

— Nada, ué. Tô só admirando sua beleza.

Pela primeira vez, eu vi Vitória corada, e achei a coisa mais linda do mundo. Ergo sua mão até o rosto dela, colocando um cacho atrás de sua orelha, fazendo-a  sorrir tímida mais uma vez.

Coisa de almaOnde histórias criam vida. Descubra agora