XIX

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Ana Caetano

Tem algum tempo que eu e Vitória queremos experimentar colocar incensos pela casa, por isso hoje decidi ir comprar alguns. Antes de ir no local em que vende esse tipo de coisa, fui em uma loja que fica ao lado e comprei alguns acessórios e cristais para mim.

Quando volto para casa, Vitória me vê entrar em casa com apenas uma sacola e franze seu cenho.

— Cadê os incensos, Ana?

Olho para a sacola em minha mão e logo depois dou um tapa leve em minha testa com a outra que estava livre.

— Putz, Vi, eu esqueci, perdão — digo enquanto deixava a sacola em cima da mesa. — Eu vou lá de novo.

— Ei, não precisa sair de novo não. Eu vou. — Vitória me impede de prosseguir enquanto eu ia em direção à porta.

Era claro que Vitória tentava compensar suas tentativas falhas em se entregar por inteira me fazendo café da manhã, jantares, me dando cafunés, presentes em datas não especiais e demonstrando ainda mais carinho.

Eu adorava, sério, mas, sei lá... Me sinto meio "culpada" por deixá-la assim, praticamente desesperada a mostrar sentimentos por mim, apenas porque ela não agia e se entregava do mesmo jeito que eu.

Meu caderninho onde eu anoto de tudo está cheio de composições. Sentimentos escondidos que eu confessei por meio de letras. Com a quantidade de coisa que eu tenho escrita, dá pra lançar um álbum. E eu nem tô brincando.

Pouquinho tempo depois, Vitória volta para casa com uma sacola de incensos na mão. Ela coloca a sacola na mesa, lava suas mãos e logo acende um. Não demorou para que o aroma leve e agradável da camomila começasse a se espalhar por todo o ambiente.

— E aí, gostou? — ela pergunta enquanto se sentava no sofá.

— Uhum, é bem bom!

— Que bom que tu gostou, eu também gostei.

Ficamos por algum sem dizer nada, até que Vitória quebra o silêncio.

— Ana... eu quero te contar uma coisa que... aconteceu comigo.

— Tá bom, Vi, pode contar.

Ela respira fundo antes de começar a falar.

— Eu sei que é meio chato falar de relacionamento passado e tal, mas eu realmente quero te contar isso. — assinto, esperando que ela prossiga. — Há uns... cinco anos atrás eu comecei a gostar de um carinha que era da minha sala. Pouquinho tempo depois, eu confessei pra ele os meus sentimentos e descobri que era recíproco, então logo começamos a namorar. Foi o meu primeiro namoro. Eu fazia o possível e o impossível por ele, por puro medo dele perder o interesse em mim e me trocar por alguma garota mais bonita que aparecesse em sua frente.

Assinto, atenta a cada palavra que Vitória dizia. Impeço um esboço de sorriso que estava prestes a fazer. Era impossível alguém ser mais bonita que Vitória.

— E adivinha, foi exatamente isso que aconteceu. O vi com outra garota. E acho foi bem naquele momento que eu me tornei outra pessoa. Me mudei pro Rio, apesar de minha família muito querer que eu continuasse lá com eles, não me impediram de vir. Eu precisava me reencontrar de novo, e acho que consegui.

— Fico feliz que tu tenha conseguido se reencontrar, Vi, de verdade. — a digo, sorrindo fraco.

— Mas agora eu não consigo mais entrar em um relacionamento por puro receio de acontecer o mesmo. Mesmo que seja impossível. Eu quero mais do que tudo me entregar...

— Tá tudo bem, Vi, não precisa se explicar — interrompo-a.

— Eu quero te falar, Ana. Eu quero mais do que tudo me entregar de corpo e alma pra ti, mas não consigo.

Assinto, enquanto ela se aproxima um pouco mais de mim.

— Eu só peço que... tu tenha paciência comigo.

— Eu vou ter. Prometo que vou ter. — sorrio de canto enquanto olhava no fundo de seus olhos.

Coisa de almaOnde histórias criam vida. Descubra agora