Vitória Falcão
No dia seguinte, acordo mais cedo do que o normal. Me levanto, escovo meus dentes com a escova de dente que sempre carrego em minha bolsa por precaução, lavo meu rosto e vou direto para a cozinha. Pego os ingredientes para fazer panqueca americana e os coloco em cima da mesa, ao lado de um bowl. Preparo a massa e pego uma frigideira, indo para de frente do fogão.
Cozinho toda a massa, dando mais ou menos dez panquecas no total. Quando coloco a última no prato, escuto leves passos se aproximando. Ao me virar, vejo Ana coçando os olhinhos, que permanecem fechados enquanto ela caminha lentamente.
— Bom dia... — ela dá uma breve pausa para bocejar — Vi!
— Bom dia, Ana! Te acordei? Fiz o mínimo de barulho possível...
— Não, não me acordou não — Ana diz, se sentando em uma das cadeiras. — Inclusive, dormi muito bem hoje!
— Que bom! — coloco o prato de panquecas sobre a mesa e a preparo para o café da manhã. — Tu tem algum plano pra hoje? — ela nega com a cabeça, enquanto me ajuda a colocar as coisas.
O café da manhã foi silencioso. Ana mastigava e bebia seu chá quieta, sua cara ainda era de sono. E eu, fazia o mesmo. Ao terminarmos, colocamos as louças na pia e Ana foi lavá-las. Depois de eu muito insistir, fiquei secando as louças.
— Ainda são 9:30?! — a mulher fala de repente, desviando o seu olhar que antes estava no relógio pra mim, me olhando confusa.
— Sim...? — sua expressão ainda era confusa, mesmo depois de segundos. — Tu só foi olhar as horas agora, Ana?
— Meu raciocínio só foi começar a funcionar agora — Ana diz, rindo tanto que seus olhos chegaram a se fechar. Era impossível não rir junto.
— Meu Deus do céu, Ana... — falo quando conseguimos cessar as risadas, negando com a cabeça.
Me levanto e vou em direção ao quarto de Ana.
— Se arruma que a gente vai sair!
— Pra onde?? — Ana pergunta enquanto vem atrás de mim.
— Surpresa.
— Não gosto de surpresas. Eu sou a dona da casa e não sei pra onde tu vai me levar — ela resmunga, cruzando os braços.
— Te pago uma garrafa de vinho... — cantarolo enquanto pego minha roupa do dia anterior de volta.
— Uísque...?
— Olha só, quem tá mostrando as garrinhas... fechado!
Volto para casa apenas para trocar de roupa e pegar um dinheiro. Visto uma camisa de botão branca com uma calça marrom claro. Deixo da metade para baixo da camisa desabotoada, colocando um dos lados por dentro a calça. Arrumo meu cabelo rapidamente, dou algumas borrifadas de perfume em meu pescoço, pego meu celular e saio novamente de casa.
De volta no apartamento de Ana, dou leves batidas na porta e logo sou atendida.
— Olha... tá bonita — digo ao vê-la.
Agora ela usava um cropped branco com uma calça da mesma cor. Seu cabelo estava um pouco mais encaracolado, ela deve ter feito baby-liss.
— Isso porque não sei nem pra onde eu tô indo. Mas não tem problema não, eu nem queria saber mesmo... — rio com a sua tentativa de descobrir para onde iriámos.
— Psicologia reversa raramente funciona comigo, Ana.
Me sento no sofá enquanto esperava Ana terminar de se arrumar. A digo que não era preciso tanta arrumação, senão iria ficar ali por horas esperando Ana se arrumar. A mulher anuncia que estava pronta, e eu me levanto.
Antes de sairmos, a peço que levasse o violão junto e uma garrafinha de água.
— Vitória... — Ana fala, incerta, enquanto pegava o instrumento.
— Confia, Ana.
Fizemos todo o trajeto à pé, era apenas a alguns quarteirões da região em que eu e Ana morávamos.
Quando chegamos no nosso destino, anuncio:
— Chegamos!Ana para de andar e olha em sua volta.
— Aqui? — concordo com a cabeça. — Na pracinha do lado? — concordo novamente.
— É um ótimo lugar para tu começar a cantar, mas fica tranquila que rapidinho você começa a cantar nos lugares por aí... — a digo, me sentando na grama do local.
— Você tá é doida, Vitória!! Eu já te disse que fico tensa quando vou cantar. Isso não vai dar certo. — ela se senta ao meu lado com o instrumento em seu colo, balançando a cabeça de um lado para o outro.
— O mundo precisa descobrir a sua voz, Ana Clara — a respondo séria.
— Isso não vai dar certo. — Ana repete a frase.
Depois de "acalmá-la", consigo convence-la a cantar em público, pelo menos por hoje. Era nítido que Ana estava tensa, sua respiração estava desregulada.
— Respira, Ana — digo baixo enquanto pego em sua mão rapidamente.
Ana sorri de canto para mim e respira fundo, antes de começar a cantar. Involuntariamente sorrio junto ao reconhecer a música, a mesma de antes.
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Coisa de alma
Romance- Então... - ela respira fundo antes de continuar - eu... - Ana abria e fechava a boca diversas vezes. - Ah, não sai nada, eu não consigo! - Ei, não precisa se assustar não, Ninha - o apelido sai involuntariamente -, nada vai desmoronar. No momento...