4 de Outubro, 2002.
Vitória Falcão
Há algumas semanas atrás propus que Ana trouxesse algumas de suas roupas e objetos que ela usava no dia a dia para minha casa, já que ela dormia aqui, mais ou menos, de três a quatro vezes por semana. E foi assim, de uma forma meio indireta, que começamos a morar juntas.
Não estávamos morando juntas como namoradas, não oficialmente, como eu sempre acabava me lembrando mentalmente. Já havíamos assumido o que sentimos uma para a outra, e acho que isso já bastava. Isso e ter Ana ao meu lado.
Ás vezes, pego Ana olhando para algum canto aleatório, perdida em seus pensamentos.
Hoje, decidi a levar café na cama. Assei um bolo — que é uma das poucas coisas que eu consigo cozinhar sem que nada dê errado — e preparei suco de laranja natural. Sirvo um pedaço de bolo num prato e encho de suco até a metade do copo. Ponho tudo sobre uma pequena bandeja, adicionando o talher ao lado do prato e vou até o quarto.
Chegando lá, encontro Ana dormindo, serena. Me aproximo lentamente e me sento na ponta da cama, com cuidado para não derrubar no chão algo que estava em cima da bandeja.
— Ana... — começo a chamá-la, mantendo meu tom de voz baixo. — Aninha, acorda, Aninha...
E nada de ela acordar. Chacoalho de leve seu corpo com minha mão que estava livre, porém sem resultados. Me aproximo um pouco mais e tento novamente.
— Aninha... Acorda, meu amor, tá na hora de acordar...
Vejo um sorriso crescer nos lábios de Ana, enquanto ela se mantinha na mesma posição em que dormia.
— "Meu amor" é? — escuto ela indagar com a voz rouca de sono, ainda com o sorriso nos lábios.
— Então, quer dizer que você já acordou, uh? — Ana assente. — Te trouxe café na cama! — anuncio enquanto ela se sentava na cama, coçando seus olhos, e coloco a bandeja sobre seu colo.
— Ô, meu Deus, Vitória — Ana diz, dando um primeiro gole do suco. — Mas meu aniversário é só amanhã...
— Fica tranquila que eu tenho outra surpresa pra amanhã, pinxeja — a respondo, selando nossos lábios rapidamente em um selinho, e finalmente a deixando em paz para tomar seu café.
O resto do dia foi calmo, saímos um pouco na rua e aproveitamos para comer numa lanchonete. Durante nosso passeio, me esforço ao máximo para não transparecer que eu observava atentamente o interior de quase todas as lojas de decoração para festas de aniversário em que passávamos em frente. Porém, em certo ponto, acabo parando involuntariamente na porta de uma delas.
— O que foi que cê parou do nada? — Ana me pergunta confusa ao me ver parar de andar, parando ao meu lado logo depois. Ela desvia seu olhar que antes estava em mim, para a loja em nossa frente. — Ai, que linda! Tu já tá pensando na decoração da minha festa de aniversário!!! — ela praticamente grita, eufórica, com um sorriso no rosto.
Esboço um sorriso no canto de meus lábios ao observá-la.
— Ai, meu Deus do céu, estraguei sua surpresa — Ana diz, com um tom de preocupação em sua voz e um tanto de culpa no olhar. — Desculpa, Vi. Ó, vou fingir que nunca vi nadinha que venha de dentro dessa loja. Prometo! — ela se vira para o outro lado da rua, cruzando seus braços.
Ok, se eu disser que não me interessei por nada daquela loja estaria mentindo. Achei algumas coisas interessantes sim, não vou negar.
Passamos em alguns locais e compramos algumas coisinhas e decorações de casa. Na volta, Ana voltou feliz abraçada com o urso de pelúcia que a comprei. Sorrio ao ver a cena. Pego a câmera fotográfica em minha bolsa e aponto em sua direção, dando dois cliques.
— Ai, que chique, eu tenho até paparazzi! — ela diz, rindo.
— E olha que só tá no início da carreira, hein! — complemento, a fazendo rir mais ainda.
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Coisa de alma
Romance- Então... - ela respira fundo antes de continuar - eu... - Ana abria e fechava a boca diversas vezes. - Ah, não sai nada, eu não consigo! - Ei, não precisa se assustar não, Ninha - o apelido sai involuntariamente -, nada vai desmoronar. No momento...