2 - A Guerra

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Dezembro de 1942

Um ano após o ataque a Pearl Harbor

Brian

Depois que meu amigo morreu em meus braços, eu acordei após a explosão que atingiu a garagem dos tanques e caças. Foi um milagre ainda continuar vivo e capaz de andar. Lembro que alguns escombros estavam em cima de mim, que ainda agarrava o corpo morto de Eric, mas não me esmagaram por muito pouco. A asa de uma das aeronaves protegeu a mim e ao meu amigo. Ao me levantar tive que correr dali, deixando Eric para trás. Minha perna estava muito machucada, mas eu ainda conseguia caminhar e foi assim que acabei encontrando meu Coronel embaixo dos escombros.

Ainda vivo, mas muito machucado, o coronel Hunter me prometeu que se eu o tirasse dali com vida, ele cuidaria da minha carreira militar. E foi o que aconteceu.

Dois meses após ao ataque, o coronel Hunter descobriu que não poderia mais andar devido uma lesão na coluna. Porém, ele estava extremamente grato a mim por ter salvado sua vida e com sua ajuda fui promovido a tenente, o que trouxe raiva e ódio de alguns. Bom, essa é uma patente melhor, claro. Eu não preciso mais me arriscar tanto, tenho meus soldados, mas ainda assim é difícil para mim, principalmente nesse momento em que a guerra está mais forte do que nunca e em que todos os dias eu preciso lidar com meus pesadelos não só quando estou dormindo, mas quando estou acordado também.

Sabe o quanto é difícil ver pessoas sendo torturadas na sua frente? Elas olham pra você pedindo por ajuda... e você não pode parar o que está fazendo... é complicado, eu não sei por mais quanto tempo consigo lidar com isso.

Estou me preparando para ir à Alemanha na próxima semana e eu realmente não quero isso de forma alguma. Porém, por mais que tenha subido de posição, ainda recebo ordens e preciso cumprí-las.

Tem um alemão sentado em uma cadeira de aço na minha frente, seus braços e pernas estão acorrentados, causando hematomas em sua pele branca. O homem está muito machucado, imagino a quantidade de golpes que deve ter levado quando foi capturado ao tentar se infiltrar aqui para nos espionar. Agora é o meu dever arrancar informações dele, descobrir pra quem trabalha, como chegou aqui, o que sabe sobre nós e o que falou sobre nós.

- Como você chegou aqui? - pergunto e ele continua calado. - Por favor, diga como conseguiu chegar aqui, é única maneira de eu conseguir te ajudar. - sussurro ao me aproximar dele, que me encara friamente; o sangue escorrendo pela sua boca revelando o soco que levou mais cedo.

- Você... - seu sotaque alemão é forte. - acha mesmo que eu vou falar alguma coisa, seu americano de merda? - o espião vira a cabeça para o lado e cospe sangue no chão.

- Tenente - um dos soldados me chama. - sabe que a única forma de fazer com que ele abra o bico é...

- Ainda não, soldado! - nego com a cabeça. - Vamos conversar mais um pouco.

É então que o meu superior entra na sala.

- Tenente Brian, por que esse homem ainda não começou a falar?

- Senhor, estou tentando arrancar as informações dele, mas ele...

- Tenente! - ele grita e eu me calo. - Você sabe muito bem como fazer espiões falarem!

- Senhor, com todo respeito, eu acredito que usar a tortura não seja a melhor opção...

- E com todo respeito, tenente, eu sou seu superior e portanto estou dizendo que você deve torturá-lo até que ele fale alguma coisa! Faça o que for preciso! - se vira para sair da sala.

- Tortura nunca é a solução, senhor. - falo antes que meu superior se vá e ele dá meia volta. Vem até mim e me segura pelo colarinho, me puxando para perto de seu rosto

- Se não tem sangue para ser o que precisa ser, não deveria estar aqui, tenente! - cospe as palavras. - Nem deveria ter sido promovido! Seu coronel não sabia que estava fazendo quando o promoveu, deveria estar louco! - ri. - Você não merece essa patente, não merece esse posto... saia da sala, eu assumo daqui. - faz um gesto com a cabeça.

- Mas, senhor... - tento falar.

- Saia dessa sala agora, tenente Brian!

- Sim, senhor. Como quiser. - saio da sala e caminho pelos corredores cinzas e solitários da base. Tiro meu cap e o jogo contra parede sentindo toda essa raiva me sufocando. Corro os dedos pelo cabelo e solto um suspiro. Estou cansado dessa vida, cansado da minha posição, cansado do que tenho que fazer. Acho que seria muito melhor está no meio de um campo de guerra, atirando, lutando, do que aqui: torturando pessoas.

Saio do prédio e vou direto para o jardim que não tem nenhuma flor ou planta; apenas terra. Olho para o céu, tentando tomar um pouco de ar e nesse momento vejo três homens entrando no porão do prédio da base.

Eu nunca entrei naquela parte, não sei o que há lá, talvez bombas, armas, ou até mesmo planejamentos de ataques surpresas... Decido ir até aquele local e puxo as portas do porão. Desço as escadas e me deparo com um imenso corredor escuro, o que é estranho, deveria haver luz aqui. Caminho pelo corredor, tentando enxergar algo na penumbra e vejo que há setas vermelhas desenhadas no chão indicando a direção. Sigo os desenhos e ao virar a direita em um dos corredores, observo uma porta de metal. Os dois guardas que estão vigiando a passagem não me viram e por isso decido voltar por onde vim. Em silêncio, faço o caminho de volta até chegar ao jardim, mas ainda estou tentando entender porque dois homens estariam vigiando uma sala do porão.

- Ei, soldadado. - chamo um homem que está passando por mim e ele para.

- Algum problema, tenente? - ele faz continência e eu o mando descansar.

- Não, nenhum problema... mas você sabe o que há lá embaixo? - aponto para o porão.

- Eu acredito que guardem mantimentos, talvez, é o que me disseram.

- Sim, claro. - assinto com a cabeça. - Tudo bem, volte ao trabalho, soldado.

Ele bate continência antes de sair e se vira, me deixando sozinho novamente.

Estou curioso quanto ao porão, mas sei que na posição em que estou, com meu superior furioso comigo, não há chances de perguntar a ele que tem lá embaixo.

Acho que vou ter que descobrir por conta própria.

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