6 - Sorveteiro

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Katie

Levanto cedo na manhã seguinte e me pergunto se tudo que aconteceu ontem foi mesmo real.

Tem mesmo um cara mega esquisito vivendo no apartamento de cima ou tudo não passou de um delírio meu? Bom, sei que sou solitária, na verdade, minha amiga Hanna quem vive falando isso, mas acho que ainda não cheguei ao ponto de inventar um cara imaginário para conversar.

Não, ele é real. Não fui a única a vê-lo. Graças a Deus.

Tomo café da manhã após o banho, me arrumo, pego minha bolsa e as chaves do carro e tranco a porta ao sair. Penso se devo ir falar com Brian, mas provavelmente ainda deve estar dormindo depois de um dia tão longo como ontem, por isso decido deixar um recado para ele.

Subo o pequeno lance de escadas e logo já estou em frente sua porta. Pego uma folha do bloco de notas que carrego na bolsa e escrevo:

Bom dia!

Estou saindo para o trabalho e achei melhor não te acordar. Se você quiser tomar café, o Robin sempre deixa uma garrafa cheia em cima do balcão da sorveteria.

Boa sorte no seu primeiro dia no trabalho!

Te vejo às 15h,

Katie

Dobro o bilhete e o passo por baixo da porta.

No caminho para a escola, dirigindo pelas ruas da cidade, penso em tudo que Brian me contou ontem. A viagem no tempo, o tal relógio... tudo bem que a matéria do jornal foi bem convincente, mas ainda assim é possível forjar uma sem muita dificuldade.

Mas por que ele faria isso?

- Pensa, Katie... - tamborilo os dedos no volante. - Ah, meu Deus, você vai chegar ao auge da loucura se ficar falando sozinha assim.

Estaciono o carro quando chego à escola e pego minha bolsa no banco do carona. Já dentro do prédio, vou direto para minha sala de aula e a encontro cheia pelos meus alunos.

- Bom dia, pessoal! - digo com um sorriso. - Espero que todo mundo tenha lido as páginas 16 e 17 do livro de história.

Começo a minha aula, mas não consigo me concentrar no agora. Ainda estou perdida em tudo que está acontecendo com Brian.

Sei que não tenho nada a ver com sua história, eu poderia simplesmente deixar pra lá toda essa loucura de viajante do tempo, mas a quem estou querendo enganar? Há quanto tempo eu não faço um novo amigo? Há quanto tempo não converso sobre algo interessante com alguém?

Chicago é gigante e a pessoa mais próxima de mim é Hanna, minha única amiga desde que cheguei nessa cidade - se bem que ela deveria me agradecer por aguentá-la, Hanna é extremamente complicada.

Claro, também conheço Robin e os outros professores da escola, mas nenhum deles realmente precisa de mim, sou apenas a Katie, a professora do fundamental ou a Katie que mora no apartamento de cima. Eu nunca sou a Katie que as pessoas procuram pra falar de algo importante, nunca sou aquela garota que apoia alguém ou almoça com alguém.

Desde ontem, desde que encontrei com o maluco do Brian, eu me sinto útil e prestativa.

De alguma forma sinto que estou mais envolvida do que nunca nisso.

Que seja, se ele é mesmo um viajante do tempo ou não, já não importa mais. Simplesmente acho que acredito nele.

***

São 15:36 quando passo pela porta de vidro da sorveteria e vejo Brian atendendo uma criança. Ele entrega um sorvete meio torto em cima da casquinha para o menino e o garoto sai reclamando.

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