28 - Onde Você Estiver

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2027

Katie

Hoje está caindo um dilúvio lá fora e enquanto olho pela janela, penso em Brian. Lembro do dia em que ele foi embora, saltando para dentro daquela fenda, e me esforço para não chorar. Por isso, me afasto da janela e caio no sofá. Estendo a mão até a mesa de centro e pego a carta que Brian me mandou direto dos anos 40 para me assegurar de que estava tudo bem e de que em breve nos encontraríamos de novo. 

A leio pela milésima vez.

O mais estranho nisso tudo é que mesmo depois de tanto tempo, ainda mantenho viva a esperança de que nós vamos nos encontrar em algum momento, em algum dia, porém não sei dizer se isso é mesmo fé ou maluquice.

Ontem na rua, acreditei ter visto Brian. Corri até ele, toquei seu ombro sentindo meu coração acelerar, mas quando o homem se voltou para mim, vi que não era Brian. E essa não foi a primeira vez que isso aconteceu. 

Tenho medo de estar alimentando a expectativa de algo que nunca vai acontecer, porém não consigo evitar.

Ainda acredito tanto que Brian vai voltar que faço questão de continuar morando no mesmo apartamento, e quando me ofereceram um novo emprego em uma escola maior na cidade vizinha, recusei para manter o antigo. Não quero sair daqui. Não quero me desencontrar de Brian quando ele vier ao futuro. 

Se é que vai vir algum dia de novo.

Com a cabeça repleta de pensamentos, permaneço deitada no sofá da sala do meu apartamento vazio por minutos que parecem horas e abraço a carta contra o peito até pegar no sono.

Onde você estiver, sei que está comigo. 


Brian

1950

- Estou procurando pelo Professor Thurman. - digo para a mulher na recepção da sala de matrícula da Universdade de Harvard. 

- Ah, se você correr acho que vai alcançá-lo no estacionamento. Ele acabou de pedir demissão. - aperta os lábios. 

- Demissão? 

- É. Está indo ao Himalaia, algo assim. - a mulher volta sua atenção para uma pilha de papéis em sua mesa. 

- Certo. Obrigado. - saio correndo da sala e passo pelos corredores gigantes da universidade, descendo uma escadaria de concreto em seguida. 

Alcanço o estacionamento e procuro pelo homem de cabelo e barba branca que aparece nas últimas páginas dos livros sobre anomalias temporais que venho estudando há alguns meses. De repente, o vejo abrindo o porta-malas do seu carro para tentar guardar uma caixa cheia de tralhas, mas o fundo da caixa se rasga e uma porção de coisas se espalha pelo chão.

- Ora, que porcaria! - o velho xinga e se abaixa para juntar os livros, cadernos e objetos de decoração.

- Dia ruim? - me aproximo e o ajudo ao pegar alguns livros. 

- É. Nem tanto. Finalmente vou poder ir ao Himalaia para realizar minha pesquisa sobre o Iéti. - ele se levanta com dificuldade e joga os cadernos de qualquer jeito no porta-malas.

- Ah, o tal homem das neves... isso é interessante. - lhe entrego os livros. - Bom, professor, eu vim de muito longe só para vê-lo.

- Não deveria ter feito isso, rapaz. - ele ri. 

- Eu li todos os seus livros sobre anomalias temporais.

- Que perda de tempo. - pega os últimos objetos no chão e os coloca no carro antes de fechar o porta-malas.

- Não. Eu acredito no senhor. - digo.

- É o único que disse isso desde que escrevi aquelas porcarias. Fendas temporais. Até parece que elas existem mesmo. - ele dá a volta no carro e vai para o banco do motorista. - Encontrar o homem das neves é o meu objetivo agora.

- Professor Thurman - apoio os braços na janela e o homem se prepara para ligar o carro. - Eu mesmo viajei por uma fenda temporal.

Ele solta a chave que permanece presa no contato e olha para mim com a testa enrugada.

- Você é maluco?

- Professor, eu fui para o ano de 2022 e depois voltei aos anos 40 por uma fenda temporal. Não sou maluco. A teoria das fendas é real. - o encaro. - E preciso da sua ajuda para ir ao futuro de novo.

- Por que diabos você quer ir para o futuro? - coça a barba branca e encaracolada.

- A minha vida toda está lá. - mantenho o tom de voz sério. - O senhor pode me ajudar?

O professor passa os dedos pelos cabelos, pensa por alguns instantes e então diz:

- Muito bem. Entre no carro.

Sorrio aliviado e vou para o lado do passageiro.

A cada dia, sinto que estou cada vez mais perto de Katie.

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