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Karol

— Bruno ! – diz Antonela  chocada
para o marido.
— Tudo bem... eu sou formada em
finanças, mas desisti para virar
dançarina – respondo sorrindo.
— Isso é incomum. Seus pais, o que
eles acham?
— Papai... –  Ruggero  sussurra em
resposta e eles percebem que fizeram o
comentário errado.
— Eles morreram antes que eu me
formasse, senhor. Sou só eu que tomo as
decisões.
— Isso foi indelicado da minha parte.
— Tudo bem – respondo e dou de
ombros.
O resto do jantar correu em silêncio,
como se já tivesse escandalizado demais
os pais de Ruggero  com minha vida, e só
comentamos poucas amenidades. Fiquei
mais alguns minutos e me desculpei,
alegando uma dor de cabeça – o que
realmente não era uma mentira. Voltei
para o quarto e deitei na cama, mexendo
no celular quando ouvi o barulho da
porta. Ruggero  me olhava sério, sentando-
se ao meu lado.
— Você ficou chateada com meu pai?
– ele pergunta.
— Está tudo bem, Ruggero
— Você está esquisita.
— Amanhã vai ficar tudo bem –
respondo – Sua família unida mexe
comigo. Sinto saudades dos meus pais.
Percebo que não tenho como evitar,
mesmo discutindo comigo mesma se
deveria ou não fazer o ritual de todos os
anos. Eu honraria meus pais, pelo menos
um ano mais, talvez pela última vez, do
jeito que sempre fiz. Não iria passar o
dia com Ruggero  e sua família por mais
que eles fossem boas pessoas. Com um
plano em mente, preparei-me para
dormir e deitei, tentando relaxar. O sono
só veio quando Ruggero  deitou ao meu
lado, abraçando-me por trás.

Ruggero


Abro os olhos assustado com um
barulho no quarto. Busco karol  com os
braços, mas seu lado da cama está
vazio. Consigo ver através dos raios
fracos da janela que acaba de
amanhecer, o céu alaranjado da
Califórnia avançando até trazer o sol
forte de todos os dias. Vasculho o quarto  com atenção no mesmo instante em que
meus olhos se acostumam com a
claridade e a vejo sair do banheiro,
arrumada, como se estivesse prestes a
sair.
— Onde você está indo? – pergunto,
bocejando enquanto ela permanece
arrumando suas coisas.
— Eu preciso ir a um lugar.
— Mas nós íamos sair com meus
pais, lembra? Podemos ir depois do
almoço.
— Hoje não posso. Pensei que
poderia, mas não consigo. Qualquer dia
menos hoje. Preciso estar em um lugar,
já disse – ela parecia impaciente e
posso jurar que ela achou que
conseguiria sair sem eu perceber – Peça  desculpas para eles por mim, tá legal?
Só preciso sair.
— karol , o que está acontecendo?
Tem algo a ver com ontem? Karol ,
você nem mesmo tem carro.
— Vou pedir um carro. Pode levar
minha mala de volta? Me desculpe,
Ruggero , só preciso sair – ela responde,
parando sua correria e me olhando mais
calma.
— Quer me explicar? – pergunto
simplesmente.
— Há essa coisa que preciso fazer,
que faço todos os anos... Você quer ir,
Ruggero ? Eu posso te levar, mas precisa
ser rápido.
— Para onde estamos indo?
— Para um parque. Coloque uma
calça jeans e vamos. Eu só preciso ir –
ela diz com um tom confuso, meio
indeciso – Sei que prometi estar aqui e
pareço impaciente, mas achei que
conseguiria passar esse dia afastada,
mas sua família junta... preciso estar
junto da minha.
Ela parece prestes a fugir e estou
confuso. Sua família morreu. A menos
que... Ela ia encontrar com Gastón ? Era
isso? Mas ela falou em um parque.
Merda, karol . Você me deixa mais e
mais confuso. Quinze minutos depois,
estou de banho tomado e com um par de
roupas novas e confortáveis, fugindo da
casa dos meus pais. Karol  me espera
na varanda enquanto guardo nossas
malas e envio uma pequena mensagem  para minha mãe. Talvez consigamos
voltar, talvez não. Já não sei mais nada.
Nós dirigimos de volta para Los
Angeles e conforme ela me dava
instruções para chegar, percebi que não
íamos a um parque na cidade, com
banquinhos e árvores. Estávamos indo
para um parque de diversões, com
brinquedos que acusavam a idade e
lotado de pessoas correndo por todos os
lados, mesmo às dez da manhã.
— Por que estamos aqui? — pergunto
e estacionamos. Apesar da idade, é uma
boa parte da cidade.
— Hoje é aniversário de casamento
dos meus pais – ela diz simplesmente,
saltando do veículo e olhando para a
entrada.

— Mas eles não estão... – Deixo as
palavras sumirem. Eu sei que eles estão
mortos pela investigação que fiz. Ela
falou disso com meus pais ontem, já
tinha comentado sobre ter ficado sozinha
muito nova. Só não entendo.
— Mortos, eu sei – ela fala triste –
enquanto estavam vivos, vinham juntos a
este parque todos os anos. Eu vinha com
eles e era tudo tão incrível e feliz e...
quando meu pai partiu, era mamãe e eu.
Quando fiquei sozinha, mesmo morando
do outro lado do país, tentava fazer isso
todos os anos.
— Nunca fui a um parque desses –
falo, tentando mudar de assunto. Karol
parece tão triste por manter essa
tradição.

— Como assim... um parque de
diversões? — Ela me olhou
escandalizada – qualquer criança já foi
a parques de diversão.
— Sim, nós meninos ricos não
andamos nessas coisas que parecem que
vão desabar a qualquer momento, nosso
parque é a Disney, não tem nada no
meio.
— Bem menino rico, nós vamos nos
divertir, ter um encontro ao meu estilo,
já que já tivemos um ao seu, com aquele
restaurante caro, mas primeiro, vamos
andar na roda gigante.
— Por que a roda gigante?
— Porque meu pai pediu minha mãe
em casamento lá no alto. Eu sei que
você não quer saber detalhes da minha  vida, mas eu vou contar mesmo assim —
ela riu para si no instante em que
entramos no parque e caminhamos para
a fila do brinquedo — meus pais se
conheceram adolescentes neste lugar,
meu pai era o ajudante da barraca de
tiro e deu todos os ursos para minha
mãe. Foi demitido, mas conseguiu a
garota.
— É um bom plano – respondo rindo.
Também faria o mesmo por karol .
— Sim, um investimento de quase 50
anos. Eles casaram jovens, mas nunca
puderam ter filhos. Um dia, quando
minha mãe tinha 51 anos, ela descobriu
que estava grávida. Eu era o bebê
milagroso deles, o fruto tardio daquele
amor todo. Eles passaram 30 anos juntos
sem um filho, e quando decidiram me
ter, várias pessoas disseram o quão
velho estavam, sobre como minha
infância iria ser ruim — Onde entra o
irmão dela nisso tudo? Será que ela
não sabe?
— E sua infância foi ruim?
— Nem um pouco. Meu pai era
atlético, minha mãe jovial. Corríamos,
brincávamos e todo verão vínhamos
aqui. Quando eu tinha 12 anos, papai
morreu com um infarto. Minha mãe
morreu anos depois de uma pneumonia.
Tinha 18 anos e nenhum pai ou mãe, e
passei a me apegar a pequenas coisas.
— É por isso que você vem aqui?
— Eles me dão esperança, sabe? Não
teve um ano, nos 47 que estiveram
juntos, que não subiram nessa roda
gigante.
— Moça, sua vez... – diz o homem
que comandava a fila dos brinquedos,
apontando para nós dois.
— Vamos, Ruggero . Vamos andar em
brinquedos de gente normal. Nada de
Disney para você dessa vez – ela diz e
eu rio em resposta. Percebo que ela está
séria e de olhos fechados quando
sentamos na roda gigante e ela entrelaça
nossos dedos, enquanto nos ajeitamos no
pequeno banco.
— Obrigada por fazer isso comigo
hoje. Eu nunca fiz isso com alguém que
não fosse meu pai e mãe, é importante
para mim que esteja aqui.
Eu a abracei, encaixei em meus  braços e a segurei durante todo o
percurso que ela ficou em silêncio.
Quando a roda gigante chegou ao chão
de novo, depois de dar algumas voltas
completas, ela volta a ser karol  e me
dá um beijo na bochecha e diz:
— Carrinhos de bate-bate, sabe o que
é isso? Meninos ricos já brincaram com
uma coisa dessas?
Duas horas mais tarde, nós tínhamos
andado por todos os brinquedos do
parque, comido batata frita e algodão
doce. Eu a abracei por trás, segurando
seu corpo junto ao meu e depositei um
beijo em seu pescoço. Era um início de
tarde tão bom e significativo. Não
esqueceria aquilo nunca.
— Não sabia que podia ser assim... –
Digo sobre nós dois, mas karol
entende errado, e me encara sorrindo,
achando que estou falando de nosso
passeio.
Em um mundo ideal, eu a teria levado
para um passeio bobo como esse,
teríamos todo tipo de estranheza de um
primeiro encontro. Estaria nervoso e ela
em expectativa se a beijaria ou não, pela
primeira vez. Não era o nosso universo,
mas desejava fervorosamente que fosse,
que as coisas entre nós dois tivessem
começado de outro jeito, que karol  não
fosse irmã de quem é e não tivesse
entrado na minha vida de um jeito torto,
que a faria duvidar sempre do que eu
realmente estava sentindo.
— Eu sabia que você ia gostar

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Volteiii ! Hoje  sem falta vou postar obsessão fatal
Beijos

a bailarina do ceo Onde histórias criam vida. Descubra agora