Karol
Dois dias atrás, o médico me ligou, avisando
que tinha conseguido um dia vago para a
cirurgia e que me confirmaria a data
ainda naquela semana. Tudo poderia
mudar. Temia pelo meu futuro, se eu
conseguisse seguir em frente, depois do
procedimento. Os dados rolavam e
sentia que nenhum deles era a meu favor.
Na manhã seguinte, peguei minha
bolsa de balé preparada para sair,
usando uma chave emprestada. Elas
estavam dormindo, pois chegavam muito
tarde do Le Petit. Quase nunca via
Valu e chiara . Quando atravessei a rua,
vi Ruggero encostado em seu carro, à
minha espera.
— Ruggero , o que está fazendo aqui? Eu
preciso ir, não tenho tempo para
conversar.
— Eu sei. Aula de balé, vamos – ele
responde, abrindo a porta do carro.
— Não, eu... – aponto em direção ao
ponto de ônibus.
— Somos um time, te disse – ele me
interrompe — E isso inclui te levar e
trazer do balé. Sem mais, apenas ir com
você aos lugares e ver se você está bem
e comendo.
— E seu trabalho?
— Eles podem se virar bem sem mim.
— Tudo bem — respondo,
desconfiada, depois de encará-lo por
alguns segundos.
Ele cumpriu seu papel como
prometido, fazendo-me perguntas
simples e mantendo o silêncio até me
deixar na entrada da companhia. Horas
depois, eu estava completamente suada,
quando sai pela porta do teatro e ele
estava lá, do mesmo jeito de quando me
esperou na porta do apartamento de
Valu .
— Você pode fazer isso?
— Como assim? – respondo confusa
enquanto ele abre a porta do carro para
mim.
— Não é muito esforço, você não
deveria descansar ou algo assim? Você
parece muito cansada e fraca. As
pessoas da sua companhia não veem
isso?
— Elas veem, mas para todas as
pessoas, tenho um problema respiratório
que não me permite treinar por mais do que três vezes por semana.
— E se acontecer alguma coisa?
Ninguém sabe... karol – ele responde e
me encara, ainda sem dar partida.
— É meu trabalho. Quero que você
respeite isso.
— Não quando parece que um vento
vai te derrubar – ele responde irritado,
segurando o volante com força.
— Minha vida não é negociável.
— Mas era... – ele murmura um
palavrão e me olha culpado – me
desculpa, eu não deveria.
— Eu disse Ruggero , se você vai me
atrapalhar, prefiro que nós não nos
falemos mais. Isso só faz tudo mais
difícil.
— Não vou fazer, eu só não entendo.
– Ele fala e depois fica em silêncio.
— A dança é minha companheira
desde criança. Quando eu me sinto
triste, alegre, angustiada... estou sempre
dançando. É o que mais me aterroriza
dessa doença. Eu não vou deixá-la me
levar isso até o momento em que já seja
insustentável, e não me importa sua
opinião.
Permanecemos em silêncio depois
disso até chegar à casa de valu. Eu
desci silenciosamente e entrei na casa
sem me despedir.Ruggero
Nós criamos uma rotina a partir do
dia seguinte. Fazia três dias que a via se
fazer de durona enquanto estava
aterrorizada. Eu percebia isso nela, por
mais que quisesse fingir para mim que
nada estava acontecendo. Não teve um
momento, desde que karol. me contou
sobre a doença, em que não pensei em
perdê-la. Esforcei-me para parecer que
estava tudo bem, transmitir a
tranquilidade que ela precisava, mas não
estava. Passei a madrugada do dia que
ela me contou, procurando sobre
tumores, lendo sobre o centro médico
em que ela fazia o tratamento e sobre
curas alternativas. Devorei cada pedaço
de informação que fui capaz de achar.
Do lado de fora da casa, esperando-a
chegar, minha apreensão aumenta.
Karol está pálida e frágil, mas continua
indo aos ensaios cansativos de balé, e
como a conheço, deve estar tentando
manter seu rendimento apesar dos
sintomas. Sinto-me um idiota por não ter
reconhecido nenhum deles. Cada
descrição de enjoo, dor de cabeça e
tontura me lembrava de algum momento
em que a vi passando mal enquanto
esteve no meu apartamento. Hoje é dia
de mais injeções, e pelos gritos de dor
que ela deu na outra vez, seria mais um
processo terrível.
— Bom dia, flor do dia – Ela me diz,
sorrindo enquanto se aproxima do carro.
— Estamos de bom humor hoje?
— Aproveitando minha próxima meia
hora sem dor.
— Eu andei lendo... – falo no instante
em que entramos no carro – existem
outros tipos de tratamento...
— Eu ouvi sobre várias coisas, Ruggero .
Vou confiar nisso agora. Eu preciso. Não
quero discutir outras coisas porque meu
momento é crítico, tudo bem?
— Eu só...
— Sei Ruggero . Obrigada por se
preocupar. Mas não posso errar, não
agora.
— Por quê?
— Tenho pouco tempo. As injeções
fazem parte de um tratamento
experimental. Sem elas eu tenho... tenho
menos de seis meses. Dr. Murray, o
responsável pela pesquisa, vai fazer
uma cirurgia.
— E se não der certo?
— Não tenho outra alternativa.
Nenhum médico quis tentar alguma
coisa, ele foi o único que...
— Nós podemos ver outro
especialista, amor. É só falar.
— Estou bem com isso, Ruggero . Eu tentei. Deus sabe como minha vida
inteira se tornou essa batalha contra o
tumor. Tentar e ter você nesses últimos
dias.
— Não aceito que fale desse jeito! –
respondo irritado.
— Talvez eu já tenha passado pelas
fases do luto. Já aceito que talvez não
haja escapatória. É por isso que não
queria que você soubesse.
— Se você acha que vou deixar você
ir sem lutar, parece que não me conhece,
Karol .
— Eu conheço – ela diz e sorri
levemente – é por isso que acho que
quando você chegou, mudou tudo. E às
vezes, só preciso do silêncio.
— Você não é alguém derrotista.
Largou tudo para correr atrás do seu
sonho de dançar, karol . Vai deixar o
tumor te levar?
— Não quero deixar, mas certas
coisas não estão em nossas mãos,
entende? Não quero que sofra, Ruggero ....
por favor... – ela diz e me olha séria.
Karol não fala mais nada durante todo
o caminho até o hospital.
Quando chegamos, subo elevador com
ela, que me olha surpresa. Karol. achou
mesmo que não iria acompanhá-la até
ali? Agora que sei o que ela passa com
essas injeções, não vou deixá-la
sozinha. Karol cumprimenta as
enfermeiras e espera alguns minutos
para ser chamada. Somos levados para a
mesma sala do dia em que vim aqui pela primeira vez.
— Eu preciso que você sente ao meu
lado, tudo bem? – Ela pede e eu
confirmo com a cabeça, sentando em
uma cadeira em frente à dela,
estendendo minha mão e entrelaçando
nossos dedos.
— Você voltou, não é? – pergunta a
enfermeira com um sorriso.
— Sim, ela me quer aqui, o que eu
posso fazer? – falo no meu melhor tom
galanteador e a enfermeira fica com as
bochechas rosadas. Karol me olha
sorrindo por ter criado aquela reação.
— Muito bem – a enfermeira
pigarreia, tentando ficar séria — vocês
dois conhecem os procedimentos.
— Há algo que possa fazer?
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a bailarina do ceo
FanficO que você faria se sua vida estivesse em risco? karol sevilla é uma talentosa bailarina que paga as contas como garçonete de uma boate de stripper. Empurrada até as últimas consequências, depois de se descobrir doente, ela se torna uma dançarina n...