capitulo 36

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Karol

A enfermeira sai por alguns segundos
e, pouco depois, ouço o barulho de
alguém na porta do quarto. Dr. Murray
se afasta e com esforço, viro a cabeça
para encontrar um Ruggero  descabelado,
de barba e com roupas amassadas. Ele
tinha lágrimas nos olhos e parecia que
não dormia há dias, com um olhar
avermelhado e injetado. Ruggero  corre em
minha direção e se aproxima, colando
seus lábios na minha testa de forma
dura. Senti a cicatriz repuxar, mas a dor
valia a pena.
— Merda, preciso ser mais delicado
– ele diz, como se brigando consigo
mesmo, e passa a mão em meu rosto de
forma suave, dando um suave apertão
perto do meu queixo — karol , nunca
mais faça isso, amor, nunca mais me
assuste desse jeito...
— E.. eu, eu te a...amo – Tento falar
com toda a energia que me restava. Ele
precisava saber. Ele me disse algumas
vezes e eu morria por não dizer de volta.
Estava viva, precisava que ele soubesse
que foi real para mim também.
— Eu sei, baby, eu sempre soube –
ele responde, afastando-se de mim e me
olhando com severidade — Que merda
Karol ! Queria estar aqui. Você não
entende? Você é meu mundo, não sei o
que faria sem você. Eu te amo.
Fecho os olhos com força por suas
palavras, achando que talvez estivesse
delirando. E se ainda estivesse em
coma? E se tudo fosse um sonho? E se
estivesse morrido?
— Vou deixá-los sozinhos – diz Dr.
Murray, sorrindo – Parece tudo bem,
Karol . Do ponto de vista médico, a
cirurgia foi um sucesso e as horas que
passou desacordada eram cruciais para
a recuperação. Seu cérebro sofreu um
grande trauma e seu corpo precisava se
recuperar disso. Você voltou do coma
induzido, e agora vamos acompanhar.
Mais exames e depois reabilitação e
talvez continuar o tratamento...
— Como assim? – Ruggero  pergunta,
interrompendo-o.
— Não descartamos a radioterapia
depois da cirurgia, mas cada coisa a seu
tempo. Vamos falar com mais calma
depois – diz Dr. Murray, aproximando
se da porta e se despedindo – Bem-
vinda de volta, karol !
— Como se sente? – Ruggero  me
pergunta enquanto vemos o médico sair
do quarto e nos deixar sozinhos.
— Dói.
— Vai passar... Sabia que fiquei aqui
o tempo todo? Talvez tenha levado as
enfermeiras à loucura. Não quis sair
daqui enquanto não acordasse, até
mesmo Agustín  passou por aqui.
— Sim?
— É, e você escolheu o momento que
fui para casa para acordar. Quando me
ligaram eu achei... – ele para de falar e
foge do meu olhar – pensei que tinha
perdido você. Corri como um louco para
vê-la.
— Feia... Tenho uma cicatriz... —
falo, tentando levantar a mão no lado da
cabeça e sendo impedida pela minha
falta de força.
— Você é a mulher mais linda do
mundo, é minha mulher. Isso é o sinal de
que você voltou para mim, e eu amo
essa cicatriz tanto quanto amo você por
isso – Ruggero  fala e se aproxima,
beijando-me levemente nos lábios seco
e sussurra - Eu tinha tanto medo de
perder você.
— Também... vo... você – respondo,
tentando fazer minha voz sair, mas ela
não ia muito além disso. Ele me sorri,
seus olhos avermelhados. Senti o choro
escorrendo nos meus olhos e a mão de
Ruggero  contendo minhas lágrimas com
suavidade. Ele sorriu para mim em meio
às lágrimas que ele também derramava.
Ia ficar tudo bem

Ruggero


Um ano depois
Foi um ano duro, mas incrível. Karol
ficou no hospital mais alguns dias e fez
uma bateria de testes sem fim para
descobrir se tinha ficado com alguma
sequela da cirurgia. Mesmo sabendo que poderiam ser temporários, até seu
cérebro se recuperar totalmente, tivemos
medo do que estaria por vir pela frente.
Como antes de ela acordar de seu coma,
fiquei o maior tempo possível em seu
quarto, acompanhando-a, dando carinho
e trabalhando.
— Olá... por que me chamou neste
quarto? – diz Agustín , batendo à porta,
olhando para mim e Karol  com cara de
espanto.
— Como karol  está acordada,
vamos ter que fazer nossa cirurgia por
aqui – respondo sorrindo – Vocês nunca
se conheceram oficialmente, mas esta é
Karol sevilla , minha noiva.
— Sua noiva? – ela pergunta baixo,
achando graça. Sua voz tinha voltado
aos poucos e agora, dois dias depois de
acordar, ela só tinha esse tom rouco e
um pouco falhado pela intubação.
— Obviamente, meu amor – respondo
sorrindo – fique à vontade, Agustín .
Vamos ser rápidos, não quero incomodar
Karol  com coisas de trabalho.
— Está tudo bem? –  Agustín  pergunta
para karol  – Isto é um pouco
surpreendente.
— Fique à vontade. Estou feliz de
conhecer você, ouvi muito sobre o
assistente capaz de tudo de Ruggero .
— É mesmo? – ele fala, levantando a
sobrancelha – ouviu sobre um aumento?
— Você vai ganhar um depois de me
achar aqui, não? – ela pergunta,
encarando-me.
— Sim, você não sabe como me
ajudou – respondo, batendo nas costas
de Agustín  – agora venha, preciso
repassar algumas coisas.
Assim como meu assistente, minha
família ia e vinha do hospital o tempo
todo, com Max se desmanchando para
“sua cunhada favorita” e meus pais a
mimando de todos os jeitos possíveis.
Ela continuava com a aparência frágil, e
quando a bandagem saiu e o curativo
ficou menor, karol  ficou chocada por
estar careca. Foi um momento difícil
para ela, mas reforçava cada vez mais
como ela era linda e que aquilo era
passageiro. O pior já tinha passado e
aos poucos poderíamos retornar com
nossas vidas, com o balé, com seus fios  longos e lisos que me faziam cócegas ao
abraçá-la.
No terceiro dia depois de acordar do
coma, Dr. Murray ordenou que karol
caminhasse para exercitar os músculos.
Eu a ajudei a levantar e passeamos
pelos corredores enquanto ela
caminhava devagar com seu soro, sem
nunca perder contato. Os exercícios
diários envolviam nossas mãos
entrelaçadas, meus braços ao redor dela
e a promessa de que não importa quanto
seus pés falhassem, estaria ali ao seu
lado.
Foi desse jeito que criei coragem
para pedi-la em casamento. Por mim,
teria assinado os documentos assim que
Karol  saiu do centro cirúrgico, mas
devia isso a ela. Karol  merecia estar
forte para caminhar até o altar. — Quero
estender nosso contrato – digo com um
tom descontraído. Ela para de andar e se
vira para mim, olhando-me nos olhos.
— Nosso contrato?
— Sim, nossos 30 dias. Eles
acabaram enquanto você estava em
coma, contratos são renovados, sabia?
— E o que você propõe? – Ela
pergunta com um sorriso nos lábios.
— Algo vitalício. Você, eu, minha
casa, nossa cama...
— Preciso pensar bem se isso
significa um “para sempre”. Ontem
mesmo você disse que era meu noivo.
Muito convencido sair se apresentando
assim sem pedir.

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