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Karol


Quando saímos do funeral, tinha
certeza de que Ruggero  sentia algo por
mim. Aquilo me bateu fundo, pois não
queria que ele sofresse como eu vi
Kendall e o marido fazendo naqueles
poucos minutos que estive ao lado deles.
A morte de Kim me abriu o olho sobre a
cirurgia e minha oportunidade de viver:
se uma menina inocente não conseguiu
ter chance, quem era eu? Por que
deveria ser positiva sobre isso? Dane-se
a única chance do Dr. Murray, iria
morrer tentando.
A mãe de Ruggero  estava certa, era uma
egoísta de não contar, e era uma egoísta
ainda maior de estar vivendo nesse
limbo, fingindo que estava tudo bem.
Ontem, quando ele me deu espaço e me
consolou quando precisei, senti que isso
era mais do que nosso acordo, e isso me
apavorava. Eu estava apaixonada por
ele, eu o amava. Ele não merecia me ver
definhar, não sobreviver à cirurgia.
Precisava dar um fim nisso.
Na manhã, depois do velório, senti
Ruggero  se levantar mas resisti a segui-lo,
com medo do que queria fazer. Sentia
uma dor de cabeça forte, uma soma do
tumor e do choro compulsivo. Peguei o
remédio na minha bolsa e tomei junto a
um analgésico para dor, como me
aconselhou o Dr. Murray. Quando me
deitei novamente, esperando os
comprimidos fazerem efeito, ouvi vozes
no andar de baixo e aquilo piorou ainda
mais a sensação de esmagamento em
minha cabeça. Levantei, indo em direção
ao barulho, querendo que aquilo
parasse.
Minha dor de cabeça se tornaria ainda
maior com as revelações daquele
homem estranho. Gastón  era meu
irmão? Ruggero  mentiu para mim? Ainda
enxergando mal e sensível à luz, tateei

por minhas coisas enquanto ele
permanecia no quarto. Eu estava tão
irritada por todos os acontecimentos de
hoje. Depois do funeral devastador,
descobri que tinha um irmão psicopata
que foi abandonado pelos pais que eu
idolatrava e o homem que amava só me
usou em uma vingança que ele planejou.
Amava? Merda.
Deixei que essa história com Ruggero
fosse longe demais. Não podia ficar
estressada porque Dr. Murray disse que
com o tumor, isso poderia causar uma
crise epilética. A morte de Kim poderia
ter desencadeado uma reação
neurológica que poderia se tornar um
problema a mais na minha saúde frágil.
Respirei fundo, tentando me controlar,mas senti o tremor em minhas mãos. Os
movimentos involuntários apareciam
cada vez mais, principalmente quando
estava nervosa como agora.
— karol ... – Ruggero  fala da porta do
quarto. Ele é a última pessoa que quero
ver nesse momento. Depois disso tudo.
Meu Deus...
— Me deixe sozinha, por favor –
Respondo, sem coragem de olhar para
trás e encará-lo. Eu tinha medo de
machucá-lo com minha morte, agora não
sabia mais nada. Ele seria capaz de
fingir nossas últimas semanas? Era tudo
uma mentira?
— Preciso te explicar –  Ruggero  diz,
aproximando-se, mostrando-me algo
com as mãos. É a foto de uma mulher
muito nova, quase adolescente, que
sorria para a câmera — O nome dela era
Malena .
— Essa da foto? — Não me escapa
que ele disse "era" em vez de "é". Ela
deveria ser o motivo dessa história toda.
Só tinha ouvido este nome apenas uma
vez, quando a mãe de Ruggero  falou sobre
o segredo do filho.
— Sim, ela era minha esposa. Hoje é
meu lembrete.
— De quê? — Ele passa as mãos
nervosamente pelos cabelos como se
não quisesse falar a respeito. Suspiro
em derrota, querendo encerrar aquele
assunto. Se era difícil para ele, só iria
embora desse lugar. Não precisava
daquilo agora — Ruggero , isso foi longe
demais. Me deixe sozinha por fav...
— Nós namoramos por três anos na
escola e foi perfeito como um primeiro
amor pode ser. Ela era tudo que eu
queria, e amava olhar para ela, só estar,
senti-la. Ela foi para a faculdade. Você
precisa entender uma coisa primeiro, ela
era filha de um sócio do meu pai, mas
mesmo assim se sentiu inadequada,
porque as pessoas eram cruéis.  no colégio , e
pessoas sem limites são muito ruins
mesmo jovens.
Voltei para o quarto e me sentei na
cama, esperando Ruggero  continuar.
Parecia que era uma história dolorosa
de revelar e entendia em partes que o
nome dela não fosse falado naquela
casa. Ele continuava de pé em minha
frente, contando e fugindo do meu olhar.
— Quando Malena foi cursar
medicina, ela decidiu fazer o melhor e
ser a primeira da turma, custasse o que
custasse. Eu estava trabalhando,
tínhamos tão pouco tempo um para o
outro, que eu não percebi.... só não
percebi – ele diz, batendo no peito,
como se contar aquilo revelasse seus
sentimentos sobre o que quer que tenha
acontecido com sua esposa — Ela foi
murchando aos poucos, ficando mais
quieta... assim como eu vi acontecer
com você antes de começar a dançar.
Esses olhos inocentes que você tem, vi
sumirem em Malena  e não queria que
isso acontecesse com você. É por isso
que insisti para sair do Le Petit.
— Você não precisa contar se não
quiser...
— Ela começou a tomar estimulantes
para estudar mais, se concentrar e
participar das atividades – continuou
Ruggero , interrompendo-me — Depois,
outros comprimidos para ansiedade,
conseguir dormir... ela dizia que para
uma mulher  era muito mais difícil, Malena sucumbiu, tentando lidar com a
dificuldade. Eu a vi sumir e se
transformar na casca da mulher que eu
conhecia. Não sabia como apoiá-la. Era
tão novo e tão idiota. Ela foi para uma
clínica de reabilitação, mas no momento
em que saiu, não era mais a mulher que
eu amava. Droga, karol , eu queria sair  dali, queria estar bem longe dela. Me
sentia preso a um casamento com uma
drogada que eu não conhecia...
—  Ruggero , vocês se casaram novos, faz
sentido...
— Não faz, se ela não tivesse
começado a tomar comprimidos, talvez
ela estivesse viva e nós dois estaríamos
juntos.
— Ou talvez vocês tivessem se
separado anos depois e partido cada um
para seu lado. Você não tem como saber.
— Ela tinha tantos problemas e eu
não soube lidar com todos eles. O peso,
a carga mental – ele fala suspirando —
Ela fugiu logo depois de voltar para a
casa. Demorei dias para achá-la. Ela
estava em um bar como o Petit,
chupando um cara que, descobri mais
tarde, era o traficante. Ela não tinha
dinheiro e queria comprimidos, então
decidiu que engolir o pau dele era
suficiente. Não tinha noção de como ela
já não era minha Malena até aquilo.
Quando a encontrei, estava desmaiada,
com vômito por toda parte. Corri com
seu corpo magro direto para um
hospital, mas era tarde demais. Ela
morreu horas depois...
— Não é culpa sua.
— Eu sei que não, demorei anos para
entender, mas ela é meu lembrete. Meu
lembrete de que as coisas mudam,
pessoas mudam.
— Gastón  era o traficante?
— Ele fez a coisa que a matou. Ela
tomou uma bomba química naquele dia.
Decidi tirar seu irmão de circulação, e
tenho perseguido essa ideia nos últimos
oito anos.
— Por que eu, Ruggero ?
— Porque ele roubou a pessoa que eu
amava, e eu quis fazer o mesmo. Distrair
ele com você.
— Nós nunca tivemos contato, você
que me contou quem ele era... – falo,
tentando entender. Eu era um peão nesse
jogo. Era a droga de uma stripper com
câncer que foi usada em um plano de
vingança. Poderia ser um filme do
Tarantino se tivesse mais violência.
— Não sabia que não se conheciam e
chegou em determinado momento que só
não conseguia me afastar de você.

a bailarina do ceo Onde histórias criam vida. Descubra agora