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Ruggero

.__ O parque dos pobres é o
mais legal.
— Foi mais legal do que meu
encontro, apesar de não ter tido a mesma
ação que teve no banheiro do
restaurante, vê? – Suas bochechas se
tingem de vermelho, uma reação tão
adorável que sempre tenho vontade de
provocá-la.
— Quer voltar para casa? – ela me
pergunta – Ainda conseguimos almoçar
com seus pais, só passou um pouco do
meio-dia.
— Eu preciso conseguir um bichinho
para você antes – respondo, apontando
para uma barraca.
— Ruggero , não precisa...
— É uma questão de honra, senhorita
– digo, interrompendo-a — Você me deu
esse dia, te dou um presente.
Caminho até a barraca de tiro e acho
que vai ser fácil, mas não é. As pessoas
me acompanham, rindo ao nosso redor
enquanto karol  tenta torcer a cada mira
que erro. Cinco tentativas e alguns
dólares depois, acerto o alvo e o dono
da barraca aponta uma série de bichos
de pelúcia para escolher. Karol  pega
um tigre e imediatamente o aperta entre
os braços, inclinando-se para me dar um
beijo suave na bochecha.
— Meu herói.
—Nada demais, minha dama. Agora,
eu preciso de um pouco de
agradecimento.
— Obrigada — ela responde, encarando-me.
— Não esse tipo de agradecimento.
Sem pensar, eu a puxo para mim no
meio das pessoas. Elas não existem ao
meu redor quando estou com karol
Nossos lábios se unem em um beijo
profundo e um pouco desesperado,
seguido pela falta de respiração.
Encosto minha testa na dela, sorrindo.
Eu a beijei no meio das pessoas,
como se não reparasse em todas elas.
Um beijo profundo e meio desesperado.
Devagar separei meus lábios dos dela e
me encostei em sua testa.
— E agora o quê?
— Estou morta de fome. Meu humor
está para cachorros-quentes.
— No plural?
— Isso nunca foi uma discussão – ela
responde, arrastando-me para a outra
ponta do parque, onde as barracas de
alimento estão posicionadas, perto de
uma série de mesas de piquenique.
Karol  nunca larga minha mão e
caminhamos no meio da multidão,
abraçados com o tigre de pelúcia.
— Vamos — estendi minha mão e ela
a pegou. Andamos de mãos dadas
enquanto ela abraçava o tigre de
pelúcia.
A tarde avança e o parque fica cada
vez mais cheio, pessoas se aglomerando
no pequeno espaço, conversas e risos
que ficam acima de nossas vozes. Ela
me sorri o tempo todo, como se aquela
aura triste da manhã não existisse mais.
Sentia-me bem por conseguir trazer isso
para ela, de estar aqui. Deus... o que eu
faria quando karol descobrisse tudo e
fosse embora?

KAROL


Estar com Ruggero  naquele dia foi uma
revelação. Ele me sorria o tempo todo.
Era raro para ele, mas sabia que era
verdadeiro, um sonho, uma lembrança
especial. Guardaria aquele momento
para sempre em minha memória, mesmo
que ela durasse apenas poucos meses.
Poderia ter sido a última vez que fazia o  ritual de meus pais e ele tinha dados
novos significados para aquele lugar.
Depois de um dia todo no parque,
voltamos para o apartamento de Ruggero .
Ele ligou para os pais à noite, pedindo
desculpas e falando que eu tinha me
esquecido de um compromisso inadiável
na cidade. Não deixava de ser verdade.
Passamos o resto do dia jogados no
sofá, vendo televisão sem ver e
comendo pipoca.
A segunda-feira chegou rápido
demais, trazendo nossa rotina de volta.
Ruggero  se arrumou e saiu cedo para o
trabalho depois de uma ligação de
Agustín , seu assistente. Precisava estar no
hospital às dez da manhã para mais uma
rodada de injeções. Ficava cada vez
pior, sentindo os formigamentos, os
enjoos, as tonteiras. Era como se,
lentamente, começasse a me desligar e
não pudesse fazer nada para evitar.
Seria cada vez mais difícil fingir na
frente de Ruggero  Sabia que ele estava
desconfiado e tudo me dizia que deveria
contar para ele, mas não queria que ele
me olhasse diferente. Gostava de ser a
mulher dele nem que fosse por apenas
alguns dias.
Às nove e meia da manhã, liguei para
Max, que fiel a sua promessa, disse que
viria me buscar. O telefone chamou
algumas vezes, mas assim que disse que
precisava dele, o irmão de Ruggero  avisou
que estava a caminho. Ele tinha uma voz
de sono e poderia apostar que estava
cansado de mais uma noite de festa.
Quem mais do que um jovem
inconsequente e milionário estaria de
ressaca em uma segunda-feira de
manhã?
— O que precisa, cunhadinha? – ele
pergunta assim que abro a porta. Está de
jeans e camiseta preta, afundado em
óculos escuros enormes. Sim, a ressaca
estava boa.
— Qual é seu nível de ressaca para
me dar uma carona?
— Sete e meio, talvez? Mas acho que
já suei todo o álcool, o problema é esse
gosto de enjoo na boca, essa dor de
cabeça do inferno...
— Sei como se sente – respondo com
humor.
— Merda, karol , não era minha
intenção...
— Ei, podemos fazer piada sobre um
tumor no cérebro. Poderia esperar
qualquer outra pessoa com dedos sobre
o assunto, não você.
— Quero pedir desculpas... Cande.
— Já te falei que ela que é uma
escrota, não precisa pedir desculpas por
ela.
— Tudo bem... – ele suspira –
Hospital?
— Sim. E se puder me buscar,
também ajudaria. Sempre fico mal
depois.
— Como você tem feito?
— Uber. E depois ficando miserável
aqui.
— Você tem um novo cavaleiro
andante, minha senhora – ele responde
rindo – pronta?
— Vou pegar minha bolsa e podemos
ir.
Max foi uma companhia agradável,
apesar de sua ressaca. Ele ainda estava
constrangido por Cande, e foi mais
cavalheiro do que de costume. Antes de
partir, me prometeu ficar ao redor até eu
ligar, pedindo para ele me buscar.
Expliquei que seria rápido e doloroso e
ele fez uma munheca de dor em resposta.
Desci do carro e entrei no hall do
hospital, fazendo meu caminho até a área
da oncologia. Assim que entrei na sala
de espera, procurei pela pequena Kim,
minha companheira de injeções. Eles
programaram nossa agenda junto, era a
única explicação que poderia ter.
Sempre que eu ia tomar minhas injeções,
estava minha pequena amiga desdentada
e sua mãe esperando na sala de espera.
Era tão pequena. Meu coração se
apertava por alguém tão jovem e com
uma doença tão severa, sempre positiva,
dizendo-me que torcia por mim. Mas,
dessa vez, ela não estava ali, e senti
meus pelos se arrepiarem.
Carolina  me chamou para a sala de
aplicação e assim entramos no pequeno
ambiente, me ajeitei e perguntei curiosa.
— Onde está Kim?
— Foi internada a pobrezinha.
— Está aqui?
— Não, em um hospital pediátrico.
Dr. Murray a visitou ontem à noite. Está
cada vez mais frágil. Entrou e saiu de
hospitais por tantos anos.
— Tem alguma notícia?
— A mãe dela vai nos avisar quando
ela melhorar, fique tranquila. Já
aconteceu isso outras vezes. A
imunidade de Kim é muito baixa e com
todos esses tratamentos... – ela hesita –
vocês todos estão em risco, sabe?
— Eu sei que para ela estar aqui é
porque não tem mais nenhuma
esperança, assim como eu.
— Vocês são guerreiras, querida – diz
Carolina , dando-me um pequeno apertão
carinhoso no ombro – Acredite em mim,
tudo que fazemos é para mantermos
vocês vivos. Ninguém quer perder

a bailarina do ceo Onde histórias criam vida. Descubra agora