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Ruggero

Parecia tão alegre, tão diferente daquele
buraco que você estava trabalhando.
— Sou um caso de caridade? É isso?
— Não... você não é nada disso –
Ruggero  diz e se aproxima de mim, mas me
afasto, voltando para perto da porta. Ele
olha para o chão derrotado, hesita, mas
continua a falar — Eu derrubaria seu
irmão com ou sem sua ajuda. Mas não
consigo abrir mão de você. Senti essa
obsessão louca desde a primeira vez que
te vi e quando você foi dançar por
dinheiro, senti que poderia terminar com
ela. Tudo sobre você é mais sobre como
fico duro só de sentir seu cheiro do que
por pena ou vingança. Só sabia que se te
contasse a verdade, você iria embora no
momento seguinte, então te escondi até não poder mais.
Ele me encarou, derrotado, esperando
uma resposta. Queria ficar, mas sei que
não podia, precisava aproveitar o
momento para partir. Era uma história
confusa e não precisava daquilo agora.
Estava sendo manipulada de novo, do
mesmo jeito que fui quando acreditei
que nossa atração era o suficiente para
essa loucura em que embarquei. Eu tinha
pouco tempo, e preferia ficar longe de
toda a confusão que Ruggero  me trouxe.
Principalmente, precisava ficar longe
dele quando começasse a definhar, a
sofrer as sequelas, se acordasse da
cirurgia. Era hora de me concentrar em
mim mesma.
— Vou embora, Ruggero . Isso é uma
loucura. Eu não posso ficar aqui.
Afastei-me dele, descendo até a
cozinha para tomar um copo de água e
me acalmar. Esperaria Ruggero  sair do
quarto, arrumaria as malas e me
afastaria desta loucura. Alguns minutos
depois, eu o vi descer as escadas e subi,
fazendo as malas tão rapidamente que,
com certeza, deixaria coisas para trás.
Eu recolhi coisas que deixei pela casa,
sentindo a dor de abandonar o lugar que
chamei de lar por algumas semanas.
— Pode me ajudar a descer? –
pergunto para Ruggero , enquanto estou
tentando empurrar minha mala. Estou
fraca e não dar o braço a torcer poderia
me fazer mais mal do que bem.
— Quer que te leve?
— Vou pedir um táxi.
— Mas posso levar você, Albert
pode te deixar em algum lugar.
— Acho melhor, não.
— Por favor, se não fosse eu...
— Eu não quero, Ruggero  –
respondendo tentando dar um fim àquela
discussão — Preciso de ajuda para
descer, mas apenas isso. Foi um prazer,
mesmo com isso tudo, seu plano...
— Não desse jeito. Foi muito
mais... –  Ruggero  me responde e vejo seus
olhos avermelhados em minha direção.
Não posso quebrar, não agora.
— Não foi. Eu precisava de dinheiro
e você tinha para oferecer. Eu sinto
muito por não completar os 30 dias, mas
a situação ficou insustentável.
— Pare de agir como se isso fosse um
rompimento de um acordo de negócios,
droga! –  Ruggero  grita e me forço a não
olhá-lo, tentando chamar um carro pelo
meu celular. Não faço ideia do que estou
digitando, mas encará-lo agora é
perigoso – Eu te amo, merda. Me
apaixonei por você!
— Mas era um acordo, sair sem
escândalos era um dos nossos pontos.
Por que você agora reclama disso? Você
me disse para não me apaixonar por
você. Esperava que o sentimento fosse
mútuo – suspiro, segurando o
fingimento, temendo tanto com sua
confusão. Preciso sair daqui — É hora
de ir, o táxi chegou. Adeus, Ruggero
Ruggero  tinha olhos tristes, mas precisava ser forte por nós dois. Meu
coração queria gritar que o amava de
volta, mas era importante dar um ponto
final nisso. Quando me vi sozinha na
porta de seu prédio, desabei, sentindo as
lágrimas caindo grossas pelo meu rosto.
Não tinha lugar para ir nem dinheiro,
e me sentia deixando parte de mim para
trás, sem Ruggero  ao meu lado. Com a
minha casa vendida, eu era praticamente
uma moradora de rua. O novo
comprador não quis meus móveis, que
foram para uma venda de garagem. Só
tinha um punhado de lembranças, o resto
eram bens materiais velhos da época
dos meus pais, coisas que não fazia
sentido guardar. Dentro do carro e
pedindo para o motorista dirigir para os  arredores do Le Petit, lembrei-me de
Valentina  e mesmo correndo o risco de ela
não me ajudar, pedi para o taxista me
levar até ela. Se ela não pudesse me
receber, entraria na minha casa mesmo
sem mobília. Era um teto para ficar até
conseguir me reerguer. Assim que toquei
o interfone, ouvi a voz de chiara .
— karol ? O que faz aqui? — Ela
deveria estar me observando por alguma
câmera, para me reconhecer tão rápido.
Olhei ao redor e achei um ponto com
lente. Encarando o aparelho, perguntei
nervosamente sem enrolar:
— Preciso de um sofá... sei que é
inesperado, mas poderia ficar?
— Sobe! – ela responde,
simplesmente, liberando o portão.

Minutos depois, estava dentro do
apartamento de valentina . Nunca tinha ido
até ali e me sentia mal de aparecer pela
primeira vez desse jeito.
— Amor, quem é? – valentina  entra na
pequena sala, usando calcinha e um
camisetão – karol ... não vejo você há
semanas, o que aconteceu?
— O homem não era o que parecia,
não é querida? – pergunta chiara  atrás de
mim– é por isso que prefiro mulheres.
Chiara  ri e dá um beijo em valentina
como se aquilo fosse algum teste para
minha permanência com elas. Estava
feliz por elas, valentina  e chiara  eram as
duas pessoas mais legais que conhecia
no Le Petit.
— Sim, ele não era o que parecia. Sei
que é muito aleatório aparecer assim
aqui, mas vendi minha casa e só vão me
pagar daqui a alguns dias, preciso de um
sofá e só lembrei de você, valentina , não
tenho muitos amigos.
— Claro que pode ficar, querida.
Pode usar nosso sofá. Prometo que não
transamos aí — Ri alto, coisa que
achava que não faria depois da manhã
tumultuosa que tive.
— Quando vocês duas começaram a
namorar?
— Seis meses, mais, talvez. Foi amor
à primeira vista.
— Então todo esse tempo... – sorri
para as duas e bati na perna de valentina  –
você falava que ela era sua colega de
quarto!

a bailarina do ceo Onde histórias criam vida. Descubra agora