capitulo 35

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Ruggero

Eles me sorriem e continuam ali por
mim, indo e voltando. Alguém me dá um
sanduíche, uma garrafa de água. Meu
notebook aparece ao meu lado algum
tempo depois. Passam-se sete horas e
não tirei mais do que um cochilo leve na
cadeira desconfortável do hospital.
— Bem, deveria ter apostado
dinheiro com karol  – diz um homem de
jaleco branco, parando à minha frente.
Em seu bolso conseguia ler Dr. Shaw
Murray. Graças a Deus. — Você foi
rápido como eu imaginava.
— Como está karol ? – Pergunto,
levantando-me e sentindo meus
músculos reclamarem pelas horas que
fiquei sentado na área de espera.
— Tivemos alguns momentos difíceis,
mas a cirurgia correu bem, temos que
esperar. Nós a induzimos a um coma e
vamos aos poucos retirando a
medicação. A primeira etapa já passou,
agora é esperar as próximas.
— Posso vê-la?
— Vamos avisar quando ela estiver
pronta – ele diz e para de falar por
alguns segundos, estendendo-me a mão –
Sou Dr. Shaw Murray, médico de
Karol . Não nos conhecemos
pessoalmente. Avisei a ela para falar
com você antes da cirurgia, mas karol
não quis, falou que já tinha envolvido
você demais.
— RUGGERO pasquarelli  – respondo, apertando
sua mão com força — Eu já estava
envolvido desde o primeiro dia.
— Diga isso a ela quando karol
acordar, aquela garota precisa parar de
ser cabeça dura. É difícil conseguir
pessoas que se importam.
— Eu me importo e a amo, doutor.
Não me faça perdê-la.
Ele me dá um leve aceno de cabeça e
se vira, voltando para dentro da área
médica. Depois do que pareciam
séculos, uma enfermeira me busca e me
prepara para entrar no CTI por alguns
minutos, com máscara e roupa especial.
Quando entro, vejo karol  deitada e
com tubos por todos os lados. Com o
rosto muito inchado e sem seus longos
cabelos loiros.
— Oi, Amor... – falo baixo, com um
nó insistente na garganta – Sei que pode  me ouvir. Preciso que volte para mim,
entende? Sei que é confortável e por
algumas semanas você sentiu dor, mas
precisa acordar. Tenho tantas coisas
para te falar, preciso ouvir tantas coisas.
Eu te amo tanto, karol ...
Acariciei seu rosto delicadamente
com medo de tocar em alguma parte dos
aparelhos médicos. Karol  iria detestar
seus cabelos tão curtos. Tinham raspado
parte da sua cabeça pelo que conseguia
notar debaixo do curativo. Para mim
nunca esteve tão linda. Era a mulher
mais bonita do mundo, e faria questão de
contar isso a ela quando acordasse.
Conversei com Dr. Murray com mais
calma depois que meus poucos minutos
com karol  passaram. O médico me
avisou que demoraria pelo menos 24
horas antes que ela acordasse do coma
induzido. Usei cada minuto desse tempo
para conseguir informações sobre a
cirurgia: qual seria o próximo passo,
quando saberíamos que ela estava
curada, quais tipos de sequelas ela
poderia ter. Todas essas perguntas me
enlouqueciam enquanto karol  não
acordava.
Ela não acordou no primeiro dia. Eu
tinha 20 minutos com ela pela manhã e à
noite, e passava todo o tempo vigiando
seu sono e rezando para que ela abrisse
os olhos. Passei em minha casa em
algum momento desse dia, mas
transformei a sala de espera em meu
escritório. Até mesmo Agustín  apareceu
por lá, para uma reunião enquanto
esperava por notícias de karol .
Karol  também não acordou no
segundo dia, mesmo comigo implorando
para não ser deixado, pedindo para que
ela acordasse e eu pudesse ver seus
lindos olhos mais uma vez. Ela saiu da
CTI e foi para um quarto, onde eu podia
ficar ao seu lado durante o horário de
visitas. Minha família queria que eu
fosse a algum outro lugar, tentasse
trabalhar um pouco no escritório. Não
conseguia ir a lugar algum, quando
Karol  tinha a possibilidade de acordar
a qualquer momento. Minha mente
estava aqui com ela, mesmo sendo
obrigado a passar meu dia na sala de
espera.
— Vá dormir em casa e volte pela
manhã. Você vai desmaiar em cima da
menina quando ela acordar – diz carolina ,
estendendo-me um café durante a
madrugada do segundo dia. Meu tempo
por aqui me fez cair nas graças de
algumas delas.
Estava tão exausto que acatei sua
ordem e pedi para Max me buscar. Fui
para casa e dormi algumas horas,
voltando cedo no dia seguinte. Karol
continuava em coma. Não sabia o que
fazer, mas Dr. Murray mantinha seu
olhar confiante e me dizia que “cada
cérebro reage de um jeito”. Ela tinha
feito exames, estava bem e conseguindo
se manter sem aparelhos. Só precisava
acordar.
Na noite do terceiro para o quarto dia
voltei para casa, desanimado, disposto a
dormir as mesmas poucas horas e voltar
para o hospital na manhã seguinte.
Assim que deitei na cama, recebi a
ligação e corri como louco para o Saint
Margaret. Karol  tinha voltado para
mim.

Karol


Sentia-me dentro de uma neblina, os
bips do hospital sendo uma canção de
ninar que me levavam e traziam de volta
com a mesma força. Queria lutar para
ficar em meu lugar confortável e quente,
mas sabia que precisava acordar e
encarar a realidade. Pouco a pouco, fui
sentindo o desconforto da cama de
hospital, os lençóis frios e a maca dura
abaixo de mim. Abro meus olhos e
observo o quarto em que me encontro,
os aparelhos acompanhando meus
batimentos cardíacos, e percebo que
tenho uma bandagem na cabeça. Levanto
a mão para tocá-la, mas me faltam
forças e alguns fios estão presos à minha
pele, dificultando meus movimentos.
O ambiente era branco e estéril, um
hospital. As lembranças voltam uma a
uma em minha mente, em uma sucessão
de fatos que me trouxeram para aquele
lugar. Minha garganta seca, minha
cabeça me incomoda. Eu fiz a cirurgia.
Passei por isso, consegui. A mulher em
minha frente tentava chamar minha
atenção, mas a luz ofuscante ainda
atrapalhava minha visão.
— Bem-vinda, querida! — fala a voz
feminina ao meu lado, abaixando minha
mão que tentava tocar a bandagem e a
colocando de volta na cama de hospital
– Não, não toque. Está tudo bem.
Ouço a voz de outras pessoas e
passos parando perto de mim. Viro a
cabeça em direção ao som e vejo Dr.
Murray me encarando, com um sorriso
nos lábios. Ele checa alguma coisa no
visor e anota em sua prancheta enquanto
faz alguns sinais com a cabeça para a
enfermeira. Eu a vejo pegar um aparelho
de pressão e percebo que sua análise
não terminou.
— Você entende o que eu falo?
Consegue me responder? – O médico
pergunta.
— Siiim... Gar...gargant... Seca —
Balbucio de forma esquisita. Merda,
será que não consigo mais falar?
Ainda sendo observada atentamente
pela enfermeira, fiz meu inventário
mental: mexi delicadamente mãos e
pernas para ter certeza de que tudo ainda
funcionava. Eles continuavam sua
checagem, uma lanterna em meu olho, o
toque frio do estetoscópio. Suspirei
aliviada e senti a dor dos pontos em
minha cabeça. Tudo parecia em seu
lugar, não me sentia diferente.
— Está tudo bem, karol . Não fique
preocupada, é normal voltar
desorientada do coma. Agora você
precisa se acalmar — Dr. Murray diz e
encara a enfermeira – Pode dar alguns
cubos de gelo? Vai ajudá-la.
— Está melhor, querida? - A
enfermeira pergunta, colocando algo
gelado em meus lábios e sinto alívio.
— Nós vamos fazer mais alguns
testes, mas você parece bem, karol .
Acho que conseguiu sua chance – Dr.
Murray diz, dando uma piscada delicada
para mim - Tem uma pessoa lá fora que
quer ver você. Ele tem sido insistente
nos últimos dias. Não vamos fazê-lo
esperar, tudo bem?
— Ruggero ... — eu sussurro. Ruggero
estava aqui?
— Sim, karol . Ele acampou na sala
de espera. Eu te falei, ele iria achá-la
antes que acordasse.

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