Assim como fazíamos todas as férias, fomos viajar - meu pai aproveitava esse período para tirar uma folga do trabalho e íamos todos juntos.
Dessa vez nosso destino era Espanha. Meu pai achou que era hora de testar e ver se o dinheiro que investia em nossa educação estava dando frutos. Todos nós tínhamos aulas de espanhol desde os cinco anos. Ele dizia que era extremamente importante aprender outro idioma e que nosso próximo seria de escolha própria - eu pensava em tentar francês ou algo completamente aleatório como, por exemplo, japonês, mas duvidava que papai deixasse. Nada em nossa vida acontecia em vão, pelo menos não enquanto ele fosse responsável por nós.
Não era como se ele fosse um pai super controlador, ele só criava muitas expectativas. Era fácil? Não, mas também não era a pior coisa do mundo. Ele sempre foi muito carinhoso e fazia o que podia para sempre estar presente, seu trabalho o afastava de nós por quase metade do ano, então momentos como aquele eram muito especiais.
Meus pais cresceram em famílias ricas e sempre estiveram em posições sociais altas em nossa cidade. Eles tentavam nos manter afastados de quase tudo isso, mas quanto mais velhos ficávamos, mais difícil era evitar esse mundo. Festas, eventos, inaugurações e mais festas.
Era estranho pensar que fazíamos parte daquilo, agora que estávamos do outro lado do mundo. Eu observava meus pais e naquele momento eles eram só meus pais, um casal jovem com três filhos em férias. Eles agiam como se não houvesse preocupação nenhuma no mundo. Leves, livres e soltos. Talvez livres demais, pois às vezes agiam como se fossem um casal de adolescentes novamente.
Havíamos acabado de chegar no hotel, depois de um dia de muita caminhada por Barcelona. Naquela época, eu já demonstrava muito interesse por artes, então meus pais fizeram questão de fazer um tour por todos os museus da cidade e seus principais pontos turísticos - especialmente as construções feitas por Gaudí. Ele era genial e eu estava completamente apaixonada.
Eu e Vinnie estávamos fascinadas por tudo aquilo, mas Austin, no auge da sua ignorância - depois que eu dei uma surra nele e ele melhorou um pouco seu intelecto (é mentira, a parte da surra, infelizmente), reclamou que tudo aquilo era um saco. Meus pais então compram ingressos para irmos a um jogo do Barcelona no Camp Nou. E pronto, todos estavam felizes novamente.
Devo dizer que mesmo não sendo a maior fã de futebol, ou esportes no geral, a experiência de assistir aquele jogo ao lado de uma das maiores torcidas do mundo foi incrível, eu adorei a vibração que ecoava por todo aquele estádio. Era algo indescritível e único, de certa maneira, completamente viciante e eu conseguia entender o porquê de tantas pessoas terem aquilo como uma das maiores paixões. Foi uma ótima maneira de encerrar nossa viagem.
Era uma tradição acabar nossas viagens com um jantar especial. Eu sempre enrolava até o último momento para começar a me arrumar, então eu sempre ficava por último na fila do chuveiro. Nós três sempre dividimos o quarto durante as viagens, em algumas ocasiões Vinnie e eu até dividíamos a cama, que às vezes parecia grande demais e vazia demais para nossos corpos pequenos e então ela começava a ficar com medo e se arrastava para a minha cama - não é como se eu fosse reclamar, eu sempre adorei sua companhia e a de Austin também. A única parte chata era quando eles enchiam meu saco, como agora:
- Emily, já é a sua vez de ir se arrumar. Vai logo.
Eu odiava que Austin achava que podia mandar em mim só porque era mais velho.
- Eu vou quando eu quiser.
- Você quer que eu chame a mamãe? - Olhei para Vinnie chocada
- Até tu, Brutus? - Ela deu de ombros.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O primeiro amor
RomanceEmily Dickinson acredita piamente em três coisas: a santidade das árvores (especialmente seu amado carvalho), seus poemas e que um dia ela beijará Sue Gilbert. Desde que viu seus olhos castanhos deslumbrantes na terceira série, Emily está apaixonada...