Iria completar duas semanas que eu saia com Austin, depois de ter fugido dele por quase um mês - não que ele tivesse ficado insistindo, porque eu nunca disse não, mas eu o enrolei. Emily era sempre a desculpa: primeiro foi a semana que ela ficou doente e depois seu pulso quebrado - o que não era uma desculpa esfarrapada, eu estava realmente preocupada com ela, mas depois de que ela se recuperou, eu não havia nenhuma outra escusa. Não fazia mais sentido continuar enrolando e decidi que devia dar uma chance à ele.
No fundo, eu sentia que de alguma forma aquilo era errado - o que me entregou tudo foi o fato de que fazíamos tudo escondidos. Essa foi uma das minhas condições, que ninguém soubesse que estávamos juntos. Bom, não éramos namorados nem nada do tipo, ainda nem havíamos trocado um beijo sequer, não foi por falta de tentativas porque eu sabia que Austin queria, mas beijá-lo parecia errado?
Tudo parecia muito contraditório quando eu tentava entender o que estava acontecendo, afinal eu já tinha me tornado popular sem mesmo estar num relacionamento com ele.
"Então porque eu decidi sair com ele no fim das contas?"
Durante essas duas semanas nós saímos poucas vezes e sempre íamos em lugares que não encontraríamos ninguém da escola. Eu adorava sua companhia e aquilo era algo completamente novo. Na maior parte do tempo conversávamos sobre diversas coisas e eu descobri que tínhamos muitos gostos em comum, como a música. Ele tocava violão e guitarra e estava aprendendo baixo ao contrário de Emily - que, toda vez que marcávamos uma aula de piano, achava alguma coisa mais interessante pra fazer. Em uma das vezes que saímos, ele até trouxe seu violão e ficamos cantando a tarde inteira.
Depois disso, se tornou algo comum ele e o violão serem minha companhia durante nossas tardes. Hoje, por exemplo, até atraímos um pequeno público, que gostou bastante do que ouviu, e recebemos alguns aplausos. Fiquei completamente envergonhada, mas Austin não, ele adorava a atenção. Afinal, ele já estava acostumado com aquilo.
Os Dickinson cresceram sempre sendo o centro das atenções, lidar com pessoas era algo natural para todos eles. Eu não imaginava como deveria ter sido crescer numa família como a deles e mesmo assim todos estavam lá, perfeitamente bem.
"Talvez não tão perfeitamente", pensei em Emily.
Eu sentia sua falta. Nas últimas semanas, por mais que passemos a maior parte do tempo juntas, eu nunca me senti tão distante dela. Não sabia se era a minha culpa, o que muitas vezes fazia com que eu mal conseguisse a encarar ou se era o fato de que ela se fechou em sua bolha e nem mesmo eu conseguia a alcançar lá dentro.
Olhei para Austin que tocava alguns acordes em seu violão completamente distraído. Ele era bem parecido com ela às vezes. Nessas duas semanas, eu percebi como os dois tinham costumes parecidos. Por exemplo: enquanto tocava, Austin sussurrava algumas palavras - ele provavelmente devia estar compondo uma nova música, Emily fazia o mesmo quando escrevia um poema.
"Será que beijar Austin seria parecido com beijar Emily?"
Eu não entendia porque a ideia de beijar Austin me atormentava tanto, afinal se a gente realmente fosse namorar isso teria que acontecer eventualmente, não é?
Tudo aquilo era muito novo pra mim, na verdade. Eu não era como a Jane que pensava em meninos desde sempre e meio que tinha feito disso sua missão de vida. Eu nunca tinha me preocupado com relacionamentos até agora. Não é como se não me sentisse atraída por ninguém, mas eu me sentia completa - como se não faltasse nada nesse parte da minha vida em questão. A verdade era que eu estava muito ocupada com minha amizade com Emily para sentir qualquer coisa por qualquer outra pessoa. Ela ocupava grande parte dos meus pensamentos, do meu tempo e praticamente todo o resto.
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O primeiro amor
RomanceEmily Dickinson acredita piamente em três coisas: a santidade das árvores (especialmente seu amado carvalho), seus poemas e que um dia ela beijará Sue Gilbert. Desde que viu seus olhos castanhos deslumbrantes na terceira série, Emily está apaixonada...