2. não adiantava fugir, emily era inevitável (sue pov)

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Não tinha lembranças da minha mãe, ela morreu quando eu tinha somente um ano. Quando era mais nova meu pai falava sobre ela com muita frequência, dizia que ela era uma musicista fenomenal e que, enquanto estava grávida de mim, tocava o piano todos os dias. Aos cinco anos, ele me presenteou com um piano, disse que ela havia deixado uma coisa especial para mim e que nós estaríamos conectadas para sempre a partir da música. Desde então nunca parei de tocar, pelo menos até aquele momento. Na mudança, eu tive que deixar para trás meu piano. Quando descobri que não poderíamos trazer ele junto, fiquei alguns dias sem falar com meu pai, acho que é por isso que ele quis construir a casa na árvore, para compensar de certa forma.

Algumas semanas se passaram nas quais fiquei a maior parte do tempo arrumando a casa e meu quarto. Trouxemos praticamente tudo que eu tinha no meu antigo quarto: meu armário, escrivaninha e cama. O quarto era bem espaçoso e isso me deixava desconfortável de certa forma - ele só reforçava a solidão do espaço. A casa inteira era assim, tudo muito grande, não importava quantas coisas nós colocássemos para tentar preencher os vazios. No cômodo que seria meu quarto já havia uma escrivaninha, embutida de frente para a janela, então venderíamos a minha. Meu pai disse que, por conta do espaço e do dinheiro adquirido pela venda da minha antiga escrivaninha, iríamos comprar uma nova cama pra mim. Aos poucos, eu tentava fazer daquele lugar minha casa, e aos poucos adicionei alguns quadros na parede verde-clara.

Quando, finalmente, terminamos a mudança, meu pai quis fazer um jantar e convidou meus tios para comemorar. Minha família não era rica e, sinceramente, nem passávamos perto disso, mas meus tios eram pessoas bem extravagantes e mantinham diversos contatos pela cidade.

Meu tio, um homem de não mais que 40 anos, com uma barriga consideravelmente grande, somente comia, comia e concordava minha tia...

Eu não o considerava como meu tio. Ele era casado com a minha tia há pouco tempo. Escutava sua voz poucas vezes durante os nossos jantares, e diria que ele preferia estar em qualquer outro lugar do que ali. Tentava de qualquer maneira se tornar uma figura pública e até se metia em política - motivo pelo qual minha tia casou-se com ele - eu tinha quase certeza que era um homem corrupto. Tinha certeza de que essas visitas eram parte de certo acordo que eles faziam entre si, pois ele nunca demonstrou interesse algum em mim ou em meu pai. Minha tia, Sophia, era irmã de minha mãe, tinha pouco mais de trinta anos, sua pele era branca como leite e se parecia muito comigo. Ela era muito próxima de meu pai uma vez que eles estudaram juntos quando jovens. Com a nossa aproximação, descobri o porquê de meu pai ainda a mantinha por perto: minha tia era uma figura controversa e de coração enorme. Meu pai sempre disse que ela o lembrava muito da minha mãe e, veja bem, não é como se ela tivesse tomado o lugar que seria de minha mãe, mas ela sabia ser uma ótima tia. Não demorou muito para perceber que minha tia merecia muito mais que um homem como ele.

O jantar foi estranho no começo, ela falou por horas e sobre diversas coisas, enquanto meu pai e eu trocávamos olhares, às vezes rindo ou fazendo expressões de tédio. Era como se tivéssemos invadido um encontro dos dois. Foi divertido por um tempo, mas depois comecei a ficar cansada, até que minha tia perguntou-me:

- Querida, está animada para as aulas? Conheço algumas meninas da sua idade, elas são ótimas, acho que você vai se dar muito bem com elas.

- Isso seria ótimo, eu ainda não fiz nenhuma amiga aqui. - Respondo com animação para minha tia e ela olha pra mim com uma certa expectativa

- Mas e a Emily? Ela parecia que queria muito ser sua amiga? - Meu pai disse com uma cara confusa.

Eu olhei para ele como se tivesse sido pega fazendo algo muito errado mas não tive tempo de falar nada porque minha tia quase berrou quando disse:

O primeiro amorOnde histórias criam vida. Descubra agora